sexta-feira, 5 de maio de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 3 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Nesse volume, temos desenvolvemos legais para os personagens e algumas explicações que dão a entender as razões de suas falhas. Essas informações são essenciais para o desenvolvimento da obra:


Darkness: poderia ser uma boa guerreira, tinha todo potencial para sê-lo. Mas seu fetiche masoquista faz com que ela prefira apanhar, de tal modo que investiu tudo em defesa.


Aqua: tem poderes acima da média, todavia é incapaz de usá-los congruentemente devido a sua falta de inteligência. A falha de Aqua é e sempre será sua inteligência, embora seja excepcional.


Megumin: com a aparição de Yunyun, descobrimos que ela era a melhor aluna da classe. Como ela estragou todo seu potencial? Com a sua monomania em magia de explosão que a fez desistir de magias diversificadas.


Kazuma: apesar de não estar preso a nenhum fetiche estranho, não ser um idiota e não ser monomaníaco, ele não tem um potencial grande de aprender nenhuma classe avançada e seu maior atributo é a sorte. Todavia a sua sorte é anulada por causa de suas companheiras. Embora haja a compensação dele estar se tornando um verdadeiro líder e um executor de multitarefas para cobrir as falhas de suas companheiras.


Nesta novela também é abordado que a Darkness é uma nobre e grande parte do enredo é dedicado a ela. Também vemos uma maior caracterização de Megumin e o enredo por trás dela é ampliado. A razão da falta de sorte de Kazuma foi igualmente adicionada. Creio que, a partir de agora, haverá uma complexificação cada vez mais densa na obra - sem perder a parte cômica e a natureza doentia dos personagens centrais.

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 2 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Voltar a falar sobre essa preciosa obra da cultura nipônica moderna é por demasiado prazeroso. Como já havia escrito antes: o principal aspecto da obra é a disfuncionalidade dos seus personagens centrais, seja a nível de poderes, moral ou de pensamento mesmo. É mais comum um vilão com bom caráter do que um personagem central de bom caráter.


Os personagens centrais são: Kazuma Sato, um ex-hikikomori (pessoa que não trabalha, não estuda e nem faz estágio), que tem uma classe baixa (aventureiro); Aqua, uma deusa pra lá de idiota e, portanto, incapaz de perceber o ambiente e quando deve agir ou não; Megumin, a maga piromaníaca que só consegue usar uma única magia por dia, embora essa seja devastadora; Darkness, a crusada masoquista que investiu todos os seus atributos em defesa já que gosta de apanhar - e, portanto, não consegue atacar.


Nesse volume, vamos descobrindo mais sobre os personagens. A noção de que o grupo que idolatra a Aqua é completamente maluco começa a dar seus primeiros passos. O fato da Darkness ser muito rica é igualmente apresentado numa micro-escala. Por outro lado, o lado pervertido do Kazuma tem um de seus melhores desenvolvimentos nesse volume. Megumin talvez seja aquela que mais passou despercebida em desenvolvimento nesse volume.


Vemos que o autor conseguiu manter um bom ritmo, dando um humor bastante substancial ao mesmo tempo em aumentava a complexidade narrativa.

domingo, 30 de abril de 2023

Acabo de ler "Historia del Partido Democrata Cristiano de El Salvador" de Hilda Caldera (lido em espanhol)

 



O que fazer num subcontinente em que, devido a fragilidade unitária, está sempre em violentas ebulições sociais e rupturas institucionais? A verdade é que a América Latina é um local bastante hostil.


Desde o momento de sua fundação, analisou Carlos Rangel, estamos com dois problemas básicos:

1. A fundação veio duma ideia retrógrada no campo econômico, profundamente mercantilista, e igualmente retrógrada em todas as outras áreas;

2. O tecido social da sociedade colonizadora (Espanha, neste caso) estava rompido e era impossível que ela se traduzisse numa verdadeira unidade (eu plural).


O caso de El Salvador é a mesmíssima novela latino americana: uma brutal incapacidade de conviver harmonicamente, levando sempre a grupelhos e tiranetes brigando entre si pela hegemonia dentro do país sem se importar com uma real unidade nacional. Não por acaso, El Salvador foi palco duma série de problemas explosivos.


O Partido Social Cristão teve que viver e tentar mudar essa triste realidade, porém como mudá-la se o tecido social é fragmentário desde antes de sua origem? Um pequeno e bom livro, mas de um triste enredo tipicamente latino americano.

sábado, 29 de abril de 2023

Acabo de ler "Marx y los socialismos reales y otros ensayos" de Carlos Rangel (lido em espanhol)

 



De onde vem o ódio a personalidade? Provavelmente de um lado primário e pouco desenvolvido dentro de nós. Historicamente - e biologicamente, aposta o autor - estamos mais acostumados com uma mentalidade coletiva do que com uma capacidade de tomar decisões individualmente. A consciência individual é de origem muito recente.


Sendo a humanidade socialmente forjada, a adequação social se tornou um importante mecanismo para a sobrevivência. Essa busca constante por aceitação se liga claramente com um instinto. E é por isso que, ao buscarmos convalidação, caímos numa retórica tribalista e socialmente idólatra, tipicamente mundana.


Internamente, em sua estruturação primária e primitiva, a humanidade buscará um reforço a unidade primordial em que a coletividade se justificava por si mesma. Onde o peso da escolha individual era inexistente. A liberdade agoniza o ser e o faz buscar instintivamente um passado não tão longínquo onde a consciência individual era inexistente. O peso de ser pode ser diluído na tribalização em que a carga da escolha é, por obrigação, socialmente dividida.


Essa asserção, que talvez seja bastante herética para alguns, é o que guia muito do pensamento de Carlos Rangel. E a sua retórica é muitas vezes guiada por uma defesa da liberdade e da consciência individual, indo contra as fantasias reacionárias tribais de direita ou de esquerda, que sempre ameaçam a liberdade em nome duma fuga coletivista e totalitária.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 1 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)




O que você faria se eu lhe contasse que existe uma história altamente improvável em que um  homem mau-caráter, uma deusa completamente burra, uma cavaleira masoquista e uma maga piromaníaca se unem para derrotar o Rei Demônio numa jornada épica em que os vilões mais parecem heróis e os heróis mais parecem vilões?


Num mundo em que os heróis centrais são figuras distorcidas e problemáticas, Konosuba apresenta toda a originalidade de um autor que veio para quebrar os clichês tão exaustivos e consagradamente repetidos até a demência. Essa é a novela rápida que levou a criação do anime e é tão ou mais engraçada que o anime.


O leitor deleitar-se-á com o humor de um autor que não cansa de bater e alterar tudo aquilo que se tornou comum no universo dos isekais. Distorção essa que é extremamente saudável, tendo em vista a macaqueação sem fim em que se encontram os já batidos enredos que se repetem tanto que chegam a nos levar a pensar que estamos vendo a mesma obra com personagens diferentes e com algumas pinceladas que alteram um pouco a fórmula padrão.


De fato, aqui está uma obra que merece ser apreciada e vista por todos aqueles que têm gosto pela cultura japonesa, sobretudo no âmbito dos animes, mangás, novelas rápidas/pequenas e novelas visuais.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Redpill é meu ovo!




Toda ideologia se funda no mesmo elemento gnóstico que se funda a redpill. E esta se deve a falsa resolução do mito da caverna:


O mito da caverna só tem uma "resolução possível", e esta é plenamente negativista. Isto é, a acoplagem de conhecimento aumenta o espaço da caverna, porém sem você sair dela. Quanto mais conhecimento tiveres, menos prisional se torna a caverna. Só que você nunca sairá dela: a aquisição de mais e mais conhecimentos pelo resto da vida é a forma de se lidar com o problema, mas não há como sair dele em absoluto. O mito da caverna só tem solução metafórica, quando o ser se liberta dum aspecto contingencial, cai em outro.


A redpill é literalmente mais um gnosticozinho dizendo: "veja, se você aderiu minha crença, você é livre". Aí você cai alguma bobagem (reducionismo de classes, reducionismo de raças, reducionismo de individualismo) - aquilo que poderíamos chamar de religiões civis. O verdadeiro conhecimento é o aumento contínuo do próprio conhecimento, destruindo as reduções tipicamente gnósticas que dão caráter circular e delimitado. A solução sempre envolve uma complexificação, visto que envolve o aumento de critérios em que se baseia a capacidade de perceber epistemologicamente o real, a ideologia é e vai num sentido completamente oposto: é um aspecto da realidade tomado em sentido absoluto.


Só que a maioria das pessoas não sabe que o absolutismo do real requer a relativização dos critérios unilaterais e/ou monistas. Este não é o relativismo niilista que nega a verdade por ela ser necessariamente múltipla, nem o relativismo sincrético que não se realizou em síntese, mas o próprio relativismo sintético que ampliou a capacidade de inteligir. A maioria das pessoas saem duma caverna e adentram noutra, migrando de religião civil para religião civil (do fascismo ao marxismo, do marxismo ao positivismo, do positivismo ao anarquismo, etc.). A verdade é a aceitação da multiplicidade do real, em que os critérios entram em síntese e, com base nisso, tudo aquilo que era parcial é locupletado, tornando-se relativizado.


Todo esse exercício leva a uma agonia em que o verdadeiro intelectual entenderá, a cada dia mais, que o mundo é complexo demais para ser resolvido via simplificações grosseiras da realidade. Já que afirmações literais tomam cada vez menos espaço e ele vê uma série de exemplos que se juntam, alterando o que parecia grosseiramente simples em algo de intenso aspecto multifacetado. Dito isto, crenças circulares demais e respostas cabais demais importar-lhe-ão cada vez menos.

Acabo de ler "El tercermundismo" de Carlos Rangel (lido em espanhol)

 



O que faz um país ser de "terceiro mundo" ou adotar uma ideologia terceiro mundista? Um livro, escrito quando a União Soviética ainda existia, tenta responder essa questão pela visão de mundo liberal. A forma com que ele encara é distinta: em sua visão, o capitalismo é sempre uma revolução permanente nos meios de produção, muito mais radical que a do socialismo.


Já tinha lido anteriormente um livro de Carlos Rangel, todavia este se encontrava em português. Resolvi ler um livro em que o autor escreve em sua língua nativa. É até estranho pensar que Carlos Rangel, Nicolás Maduro e Hugo Chávez nasceram no mesmo país: a Venezuela. Como uma terra, hoje conhecida por seu socialismo bolivariano, criou esse liberal? Quiçá uma ironia da vida. 


Segundo o autor, o socialismo surge da mentalidade coletivista e tribal anterior ao pensamento individualista atual. Isto é, o socialismo seria uma forma de retornar ao estado primário em que a individualidade ainda era inexistente. As pessoas buscam apenas subterfúgios sociais para não encarar o peso de sua própria existência e caem em tribalismos coletivistas (socialismo e fascismo), desta forma: o socialismo seria uma fantasia reacionária.


Segundo Rangel, o capitalismo é ditado por círculos - e isto também acreditou Marx - e quando esses chegam em sua saturação, faz-se necessário uma revolução brutal na forma com que se produz. Essa seria, por sua vez, a forma com que o capitalismo revoluciona permanentemente a forma de produzir. Isto é, não há e nem haverá capitalismo afastado da revolução. Desta forma, o capitalismo será uma mentalidade eternamente revolucionária.


Um livro bastante interessante que não poderia ser inteiramente captado por uma análise tão diminuta, recomendo a leitura do livro. Gosto muito da forma com que Rangel escreve.