domingo, 16 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 29)

 


Essa parte foi escrita por MI Ulyanova, vai da página 381 à 382. Qual era a relação de Stalin com Lênin? Seria estranho sugerir uma espécie de piada nerd nesse campo? Poder-se-ia dizer-se que era a de um aprendiz para com um mestre. Ou dum Robin para com um Batman. De qualquer modo, pode-se mencionar-se que Stalin tinha uma devoção inigualável para com o mentor intelectual da Revolução Russa. Logo Lênin representava um mestre para o qual Stalin dedicou a sua obra política.


Lênin também demonstrava um apego a Stalin. Pedindo para que esse cuidasse de seus negócios pessoais. Quando estava em seus últimos anos, pensou carinhosamente em Trotsky e Stalin, sabendo que eram dois filhos da revolução e tinham estados de espírito bastante opostos. Trotsky era explosivo e tinha uma tendência mais abstrata, Stalin era quieto e tinha uma tendência mais prática. Trotsky era um poeta e tinha uma linguagem mais adornada por arroubos artísticos. Stalin era mais seco e objetivo. Tudo neles era contraposto, o único laço de semelhança era a adesão à luta socialista pela teoria marxista.


Até hoje temos brigas entre esses dois lados. E os dois lados apresentam discussões muito boas. Embora sempre exista uma espécie de negação entre o estudo comparado de apolegetas de Stalin e de Trotsky. Como sempre, é muito mais proveitoso estar de fora do que estar de dentro e poder apreciar graciosamente essa discussão brilhante que os dois lados têm a oferecer.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 28)

 


Essa parte foi escrita por W.E.B Du Bois, vai da página 377 à 380. Creio que a perspectiva de W.E.B é bastante interessante. Você veja, a biografia é composta por vários capítulos. E ela não se furta à extrabiografia. Ou seja, a vida dum homem não termina quando ela acaba. As suas ações se movem na história. O que foi desencadeado por ele, continuará ressonando em outras ações de outras pessoas, mesmo que essas pessoas sejam inconscientes desse processo. Você não precisa necessariamente conhecer Napoleão Bonaparte, Stalin ou Hitler para ser Influenciado por pessoas que foram influenciadas por eles. Nem pelas políticas que surgiram a partir deles ou contra as ações deles.


Mesmo que Stalin tenha morrido há muitíssimo tempo, suas ações são até hoje relembradas ou, se não relembradas, ainda possuem um impacto na formação do mundo em que vivemos ou no mundo em que nossos sucessores viverão. O estudo na história, seja qual ela for, ajuda-nos a compreender a formação da história na qual estamos inseridos ou nas quais podemos nos inserir. É o próprio estudo comparado de distintas civilizações que possibilita a capacidade de alterar o ritmo de nossa própria civilização. É por isso que, por exemplo, sugere-se que uma pessoa estude, no mínimo, a história de três civilizações distintas para se livrar do domínio alienante da sua própria civilização. Essa condição, esse estudo, possibilita relativizar uma postura dogmática e rígida ao mesmo tempo que nos torna senhores de nossa própria história e vida. E isso não só como indivíduos concretos, mas como "eu plural" – como sociedade, como nação, como grupo político.


Estudar a União Soviética e a sua forma política não é o mesmo que querer reproduzi-la. Pode até mesmo levar a um impulso contrário. Como é o caso de Jordan Peterson, que se afasta dos regimes socialistas que estudou. Ou o caso de Carlos Taibo que pensa num socialismo libertário e uma posição que é dialógica, mas não concordante com o antigo regime soviético. De qualquer modo, a ampliação da visão é de suma importância para a capacidade de enxergar novas possibilidades.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 27)

 



Essa parte foi escrita por Dolores Ibárruri, vai da página 365 à 376. O que dizer da condução política de Stalin? Ele foi um fervoroso combatente revolucionário, seja pelo uso intelectual do discurso, seja pela força das armas. Ele queria uma revolução e não uma "condução pacífica e reformista" ao socialismo. O gradualismo social-democrata não lhe agradava e ele acreditava que isso tiraria o rumo e a própria possibilidade de construir uma pátria socialista.


Stalin acreditava que muitos partidários da revolução temiam as massas e não acreditavam no potencial revolucionário delas. Isto é, as massas precisariam ser domesticadas e caladas no momento necessário. Stalin, por sua vez, ia na posição contrária: o exercício de crítica e autocrítica dependeria das massas e das informações que elas possibilitavam a condução política revolucionária. A posição paternalista de alguns revolucionários era a reconstituição dum ímpeto aristocrático que se colocava acima das massas. A verdadeira postura revolucionária seria, então, a de colocar-se pelas massas e para as massas, de forma dialógica e responsável.


O exercício de Stalin seria uma escuta atenta às necessidades que as massas apresentavam. Elas eram aquilo que poderia ser chamado de "sistema de feedback". Sem elas, a própria capacidade da construção socialista seria furtada, visto que teríamos uma elite dirigente e não uma "classe dirigente". A construção do socialismo se dá pela classe trabalhadora, seja rural ou urbana. É evidente que um grupo de burocratas, posto acima da classe, torna-se automaticamente acima da classe que delegou esse poder a essa elite. Ou seja, há a reconstrução dum sistema hierárquico que é propriamente antirrevolucionário e reconstituidor daquilo que foi anteriormente abolido.

sábado, 15 de junho de 2024

Acabo de ler "En Corea del Norte" de Florencia Grieco (lido em espanhol)

 



O que dizer da Coreia do Norte? Usualmente chamada de "Melhor Coreia", é a queridinha dupla. Isto é, desde a ascensão da Nova Direita Cultural, ela se tornou admirada pelos setores tradicionalistas da QTP e, ao mesmo tempo, ainda é admirada por comunistas de todos os países. Existe até mesmo a noção de que a Coreia do Norte tem valores mais apegados à tradição, à hierarquia e aquilo que usualmente predomina na direita tradicionalista ao mesmo tempo que promove ideias de índole esquerdista. De qualquer modo, isso é assunto para outro texto.


A jornalista escolheu um caminho turvo. Suas noções intelectuais rimam bem com a retórica ocidental moderna, muito mais liberal do que comunista. Graças a isso, vemos o livro com um ar atmosférico duma psicologização que atinge arroubos meteóricos de thriller. Até mesmo quando a jornalista fala sobre a limpeza, organização e ausência de crimes na Coreia do Norte, sente-se no compromisso vital de criticar os aspectos totalitários do país. O país é muitas vezes descrito como "reino ermitão" pelo seu absoluto isolamento. O que o torna de difícil compreensão teórica.


De qualquer modo, a experiência que nossa escritora passou lá é bastante pendente a uma noção bem negativa. Sobretudo quando essa negação se deu previamente através duma linha de pensamento. Não a condeno, visto que também tenho um ar dialético que afasta a maioria das pessoas pelas nuances que minhas análises possuem. A autora fala bastante sobre a hierarquização social e os privilégios da elite, além da separação da sociedade que é fragmentada pela dedicação e apoio que dá ao regime. Como se fosse uma espécie de França pré-revolucionária de três estados, só que agora atipicamente estruturada numa sociedade declaradamente socialista.


A existência de elementos pré-capitalistas em "sociedades comunistas" – encaradas como fechadas – e até mesmo a recriação de fenômenos sociais anteriores às revoluções liberais é amplamente estudada por conservadores e liberais do século XX. Se você juntar os estudos de Eric Voegelin, de Vladimir Tismaneanu e teóricos da Quarta Teoria Política, saberá disso.

domingo, 9 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 26)

 


Essa parte foi escrita por Bill Bland, vai da página 359 à 364.  Creio que as partes posteriores do livro serão menos dedicadas a dados biográficos ou dados da condução política de Stalin e mais ao que aconteceu depois, ou seja, a onda "antistalinista" de Nikita Khrushchev.


É interessante que Khrushchev introduziu a palavra "vozhd" para se referir a Stalin, isto é, um termo que equivaleria ao termo "Führer". Esse termo seria uma comparação das ações de Hitler e Stalin. Aplicando uma simetria que equiparava Stalin e Hitler. O que demonstrava muito do que Khrushchev sentia por Stalin ou o que ele queria que sentissem por Stalin. A linha de Khrushchev era demonstrar que Stalin foi um homem extremamente ríspido e que a União Soviética deveria embarcar numa postura "liberalizante" em que os "resquícios da ditadura stalinista" deveriam ser varridos do mapa.


Bill Bland argumenta que Stalin sofreu uma série de desgastes e conspirações, além dum afastamento das atividades do Partido e da sabotagem dos seus inimigos internos. Além disso, argumenta que o culto a Stalin foi introduzido e fomentado pelos seus próprios inimigos para que, posteriormente, fosse utilizado contra o próprio Stalin. O que é uma linha bastante interessante.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 25)



Essa parte foi escrita por Palme Dutt, vai da página 345 à 358. É interessante o que os comunistas de outros países escreveram sobre Stalin. Muitos se manifestaram contrariamente à onda "revisionista e antistalinista" que se instalava como política oficial da União Soviética na era pós-Stalin, sobretudo com a condução política de Nikita Khrushchev. O desenvolvimento narrativo dos EUA foi bastante beneficiário da narrativa antistalinista de Nikita.


De qualquer modo, os EUA sempre requisitaram um desenvolvimento antagônico às potências rivais. Um exemplo disso, foi a relação amigável com a China para separá-la da esfera de influência da União Soviética. Outro, mais contemporâneo, é a possibilidade dos EUA se aproximarem da Índia para ajudá-la a ser um entrave as pretensões chinesas e, inclusive, afastá-la de uma política mais unitária dos BRICS. De qualquer modo, os EUA sempre buscam uma maneira de preservar o seu status de donos do mundo.


Nos últimos tempos, os EUA esperam desgastar a Rússia pela guerra ao mesmo tempo em que traçam uma luta para enfraquecer a China economicamente e, inclusive, impedi-la de vencer a corrida tecnológica. As políticas que os EUA traçou para a Inglaterra era uma política de submissão, para enfraquecê-la como potência e garantir que o "Império Inglês" fosse perfeitamente desmantelado para não ser um "inimigo potencial".


É interessante observar a fase imperial americana, sobretudo na condução geopolítica e os efeitos do seu imperialismo. Visto que a nova fase histórica apresenta um "remake" da "Guerra Fria" e as análises de Palme Dutt vem de encontro a linha que os EUA espera traçar no mundo.

domingo, 2 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 24)

 


Essa parte foi escrita por Anna Louise Strong, vai da página 333 à 344. É um escrito curioso: foi feito por uma jornalista norte-americana/estadounidense. Sua análise é breve, mas dá um delineamento de como os americanos encaravam o povo soviético naquele estranho e histórico momento.


Os estadounidenses não conseguiam contato direto com o povo soviético. Tudo lhes vinha por outros meios e por outras pessoas. Ao menos, essa é a impressão que Anna nos deixa. Ela mesma foi estranhando a peculiaridade do povo soviético e a sua forma de conduzir a política.


Ela teve um contato pessoal com Stalin e alguns grandes homens. Além disso, demonstrou como Stalin era diferente das outras grandes figuras que usualmente lhe eram colocadas lado a lado: Hitler e Mussolini. Dizia-se que a conversa com Mussolini era um grande monólogo em que o Mussolini falava e você ouvia. Já Hitler tinha ataques de histeria durante as reuniões, graças ao seu humor explosivo. Stalin, por outro lado, era bastante quieto e gostava de ouvir o que os outros tinham a falar – contraste absurdo e bastante enriquecedor na análise psicológica entre essas três grandes figuras históricas.


Em relação a política, Anna não via em Stalin as imagens ditatoriais que eram atribuídas a ele. Muito pelo contrário, o Stalin relatado por Anna era parcimonioso e dialógico. A natureza de Stalin, enquanto líder, é mais uma vez amplificada: era um líder que buscava conciliar, dialogar e entender acima de tudo, sendo capaz de se manter informado acerca dos grandes dilemas nacionais e internacionais.