terça-feira, 8 de julho de 2025

Acabo de ler "QAnon: Radical Opinion versus Radical Action" de Sophia e Clark (lido em Inglês)

 



Nome:

QAnon: Radical Opinion versus Radical Action


Autores:

 Sophia Moskalenko;

Clark McCauley.


Essa pesquisa, embora pequena, é bastante útil para quem estuda a obra de QAnon. Um fato bastante interessante é esse: os fóruns de QAnon são fóruns que criam coletivamente os mitos. O projeto qanonista é um projeto coletivo.


Eles analisam a radicalização com base em dois triângulos. Um meio de classificar o topo (extremismo) e o menor grau de engajamento. O que é um sistema interessante.


Triângulo 1:

- Obrigação moral pessoal;

- Justificação;

- Simpatizantes;

- Neutros.


Triângulo 2:

- Terroristas;

- Radicais;

- Ativistas;

- Inertes.


Há a questão que a pesquisa apresenta: seria a visão radical alinhada com a ação radical? Historicamente existem diferentes padrões na Janela de Overton e algo que é radical pode se tornar mainstream.


Creio que vale a pena os leitores darem uma olhada.

domingo, 6 de julho de 2025

Acabo de ler "It's time to embrace memetic warfare" de Jeff Giesea (lido em inglês)

 


Nome:

IT’S TIME TO EMBRACE MEMETIC WARFARE


Autor:

Jeff Giesea


Trolls são um problema em todos os casos? Talvez não. O estudo de Jeff Giesea apresenta uma nova forma de ver a arte da trollagem. A trollagem pode ser empregada, pela própria OTAN, para destruir o apelo e a moral de um inimigo comum. No mundo de hoje, a trollagem é uma arte que pode ser extremamente útil na comunicação estratégica.


Pensando acerca da "guerra memética" e da "guerra em guerrilha", podemos ver um desdobramento interessante. Visto que a guerra memética pode muito bem assumir a forma de uma guerrilha virtual. Os trolls da internet assumem um papel interessante e armificado nessa forma de jogatina de guerra ou guerra gamificada, podendo ser extremamente úteis se cooptados ou se suas técnicas forem empregadas.


Podemos dizer que as trolls farms, na lógica da guerra memética, apresentam uma visão extremamente potencial em períodos decisivos (como nas eleições). É uma forma de manifestar e conduzir um debate público, alterando as percepções, de modo que a guerra informacional seja conduzida de forma vantajosa para aquele que deter a melhor forma de armificar a informação dentro da lógica da guerra informacional. 


Quanto mais alguém estudar sobre a guerra memética, mais alguém é capaz de utilizar isso de forma estratégica e coordenada, levando um aumento de eficiência no emprego das técnicas. O inimigo-alvo pode ser destroçado, interrompido e subvertido pela lógica da guerra memética.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Acabo de ler "Hauntological Warfare" de Roy Uptain (lido em inglês)

 


Nome:

Hauntological Warfare: Explorations in Propaganda, Influence Campaigns, and Online Affect


Autor:

Roy Uptain


"Hauntological Warfare" poderia ser traduzido como uma guerra fantasmalogical. O artigo trata da forma com que a sociedade ressuscita símbolos do passado para utilização narrativa no presente. Há uma conexão entre passado, presente e futuro que se influenciam narrativamente, moldando a percepção e o agir humano.


Atualmente uma das principais questões da contemporaneidade é a opacidade da informação que é massivamente compartilhada, gerando redes e mais redes de feedback, além da incapacidade cada vez maior diferenciar propaganda, vigilância e guerra psicológica. Existe, além disso, uma mistura e uma conexão cada vez maior entre o soft power e o hard power: o algoritmo, o conteúdo, a manipulação afetiva e a amnésia histórica se misturam tenebrosamente.


A sociedade americana vem entrado no chão "realismo das pyops". Eles perceberam que são alvo constante de massivas propagandas e vigilância. A paranoia e a desinformação não são apenas mais ferramentas estratégicas, mas também condições ambientais.


Não muito estranhamente, vários sites são observados realizando estranhos movimentos. Eles utilizam uma estratégia subversiva que mescla metanarrativas, mitologias culturais e conspirações políticas para consolidar uma mensagem. Fantasmas do passado e hipóteses do futuro aparecem lado a lado para influenciar o presente. Enquanto isso, armificam medos e fobias para criar narrativas e contra-narrativas.


Creio que para nós, brasileiros, é de suma importância pensar acerca de uma crescente atmosfera semelhante em nosso cenário.

Acabo de ler "Classifying Russian PSYOPS and countermeasures" de Teodora-Ioana (lido em inglês)

 



Nome:

CLASSIFYING RUSSIAN PSYOPS AND COUNTERMEASURES: IMPLICATIONS FOR EUROPEAN SECURITY


Autora:

Teodora-Ioana MORARU


As guerras modernas apresentam uma amplificação radical da dimensão psicológica, informacional e do cyber-espaço. Ter uma competição estratégica no campo informacional é de suma importância. O controle da percepção e a influência cognitiva ditam enormemente os ritmos da guerra.


A era em que vivemos apresenta uma massificação da mídia e um ampliamento contínuo das plataformas de comunicação digital. Tudo isso impacta diretamente na percepção pública e influencia nas decisões políticas. O uso da informação, quando concretamente aplicado, pode levar a desestabilização do adversário.


Uma boa psyop faz a utilização dos vieses de confirmação. Isto é, do público para qual se dirige a operação psicológica. Uma psyop contém um arcabouço estruturado, é sistematicamente implementada e requer aprovação a um nível estratégico. Além disso, possui um objetivo de longo prazo.


A autora traçou uma diferença entre as operações psicológicas russas e ucranianas. As  duas nações tentaram controlar o espaço de batalha psicológico. A Rússia focou a sua operação psicológica no recrutamento, na intimidação e na mobilização das massas. A Ucrânia, por sua vez, tentou acabar com a coesão militar russa, destruir a moral do seu adversário e ampliar a resistência doméstica.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 2)

 


Nome:

The Dark Enlightenment 


Autor:

Nick Land


O que é a democracia? Além de ser uma palavra muito dita, é uma das principais representantes do dogma moderno. A democracia aparece em nossas ciências sociais como acompanhante do sucesso e do progresso material — embora isso seja provavelmente uma correlação falsa. Estamos numa certa espécie de correlação automática quando pensamos em democracia. Por exemplo: (I) monarquia = ruim; (II) república = bom. Mas o que queremos dizer quando dizemos democracia? Talvez a gente nem mais lembre a resposta.


Grande parte dos intelectuais modernos correlacionam automaticamente o pensamento democrático com o anticapitalismo, não só no Brasil, como no exterior. Como dito anteriormente, muitos pensadores liberais e libertários, mais à direita do espectro político, já não veem a democracia como um regime em que se enquadra a liberdade.


Os Pais Fundadores, nos Estados Unidos, apresentavam uma suspeita enorme em relação a democracia. Viam-na como uma tirania da maioria. E, por tal razão, reduziram o seu poder com a ideia de representatividade. Assim freiando a possibilidade de se emergir uma tirania organizada pelo ódio das massas.


Não é muito estranho correlacionar a democracia moderna com um regime em que a população e as suas lideranças, de tempos em tempos, esquecem-se das consequências dos seus atos. Para se manter o poder, em última instância, faz-se necessário uma utilização de mecanismos populistas — o que por sua vez leva a uma destruição financeira. Também não é muito estranho vermos, no sistema democrático moderno, mega projetos de engenharia social e o poder legislativo de abolir a realidade através de pergaminhos burocráticos.


Com tudo isso, não é estranho que muitos intelectuais venham pensado num novo design. Se o poder representativo esmaga a hipótese de uma democracia direta, é possível tecnicalizar a escolha dos representantes através de um mecanismo ao qual podemos chamar de democracia vertical: nesse quadro, alguém só poderia ser eleito representante se cumprisse determinados requisitos. Nick Land, não falou dessa possibilidade, portanto vamos ignorá-la e deixar para uma outra análise.


Questionar a democracia, em nosso tempo, é algo que soa como uma heresia. O pessimismo corrói o cérebro de alguns e outros dão voos otimistas pensando em radicalizar a democracia. Conjectura-se que a democracia é um vírus memético, nobremente acompanhada da hegemonia progressista, do secularismo militante e de todo clero moderno. Os itens da fé moderna acompanham o homem moderno sem que ele saiba que preenchem o seu pensamento em forma de uma fé inquestionável. E questionar isso é um crime-pensar.


De fato, uma das questões que o Ocidente se deparará constantemente é a ideia de que a democracia moderna está falhando. A questão de como resolver isso é que uma incógnita. Alguns apostam na melhora da educação, outros pensam numa democracia vertical, outros falam sobre democracia direta, outros pensam na abolição da democracia. A questão persiste.

Acabo de ler "MAGA: The Covert Call for Colonialism's Come Back" de Janga (lido em Inglês)

 


Nome:

MAKE AMERICA GREAT AGAIN (MAGA): THE

COVERT CALL FOR COLONIALISM'S COMEBACK 


Autor:

Janga Bussaja


Quando o movimento MAGA ia se delineando, algumas propostas iam se estabelecendo retoricamente. Dentre elas, as principais eram: protecionismo econômico, restrição de imigração, retorno aos valores americanos tradicionais. Todas essas promessas eram emaranhadas por uma visão mística e nostálgica do passado americano.


Essa visão mística e nostálgica tinha como referência uma visão da hegemonia americana. Uma visão que acompanhava a ideia de que os Estados Unidos estava em decadência e que a segurança econômica não era mais uma garantia. O que havia no passado? Os Estados Unidos eram fortes, o papel da religião era garantido na esfera pública, a visão de mundo era provavelmente estável. Além disso, o papel de cada americano era pré-configurado e inquestionável: raça, etnia e condição socioeconômica cumpriam os seus deveres.


Não muito estranhamente, a retórica de Trump conecta-se com o supremacismo branco, com o fundamentalismo cristão e com a decadência dos políticos do establishment — dentre os quais os antigos conservadores do Partido Republicano. O movimento MAGA encontrou um sólido apoio na nova mídia americana. Breibart News e Fox News tornaram-se uma referência midiática pro movimento.


O movimento MAGA não é um ponto fora da curva da história dos Estados Unidos. Ele possui raízes históricas no próprio período de colonização. Os Estados Unidos foram fundados com base na exploração e subjugamento dos povos nativos e no comércio transatlântico de escravos negros. Um sistema de opressão e desigualdade cresceu lado a lado com a história americana — não fora, mas dentro. A destruição e marginalização do povo indígena ocorria também, lado a lado, com a importação e escravização do povo negro.


Na parte discursiva e narrativa, construía-se uma racionalização: o discurso da superioridade racial branca ao lado da superioridade cultural, o racismo científico acompanhado e brindado pelo mito da superioridade branca. Tudo isso criava um ambiente propício pro racismo sistêmico. Esse passado dos Estados Unidos reverbera até hoje na mentalidade do povo americano.


O movimento MAGA tem uma retórica que contempla uma elite corrupta e um virtuoso povo. Sua identidade é baseada num fervor nacionalista e práticas de exclusão. Um passado mitológico estabiliza e dá uma noção de prosperidade que os Estados Unidos há muito tempo não contempla. Existe também a demonização de grupos marginalizados, como pessoas de cor e imigrantes. Um cenário complexo e um prato cheio para análise.

Acabo de ler "Transmedia storytelling and memetic warfare" de Roman e Dariya (lido em inglês)

 



Nome:

Transmedia storytelling and memetic warfare: Ukraine’s wartime public diplomacy


Autores:

Roman Horbyk;

Dariya Orlova.


Num mundo onde temos várias ou múltiplas visões de mundo, a narrativa — quando poderosa e eficiente — é uma das armas centrais na estratégia comunicacional. Nessa guerra que ocorre na Ucrânia e na Rússia, isso vem sido particularmente bem demonstrado.


Na guerra que presentemente vemos, vimos um país que era visto como dividido e corrupto surgir com a imagem épica de país unificado, de um pequeno Davi enfrentando o Golias. Enquanto os russos preparavam o foreshadowing (um elemento narrativa que insere o próximo passo antecipadamente), Zelensky já sabia a importância de uma boa narrativa.


Nessa guerra, as imagens meméticas que iam se construindo e delineando substituiam toda área cinzenta do debate. A complexidade do debate é, até agora, substituída por um robusto, mas simplificante, exercício de storytelling. O jornalismo é feito de arma e não de mecanismo informacional — isso não é uma novidade, mas na era da guerra de quinta geração, isso vai aos extremos.


Creio que no tempo moderno, a grande lição é compreender a centralidade narrativa, como ela impacta os vieses cognitivos e como ela impacta diferentes grupos religiosos, étnicos e políticos. Podemos correr o risco de estarmos sendo feitos de tolos por diferentes lados.