quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Clarice e as Mulheres" de Várias Autoras




Esse livro me despertou sentimentos mistos. Existem escritos que se sobressaem e outros que parecem ter sido colocados tão somente panfletagem política, o que, diga-se de passagem, não foi de meu agrado. Embora existam, evidentemente, escritos muito bons.


Esse livro foi distribuído, salvo engano, gratuitamente pela prefeitura de São Paulo. A sua estética é deveras agradável e demonstram um esmero para com a beleza do livro. Movimentação essa que é bem rara a política usual do Brasil para com a própria cultura.


O livro conta com várias autoras, cada qual encontrada num campo diferente e com obras distintas, embora tenham um posicionamento político bastante semelhante - ao menos, foi essa a impressão que me causou.


A descrição e a beleza literária sofre de altos e baixos que intermitentemente se intercalam. Por vezes indo ao mero argumentacionismo - artifício de amante de retórica - que, infelizmente, destrói a pretensa qualidade literária que se almejava. Por outras, vê-se uma beleza estilística e originalidade sobressalente que encantam em muito o leitor.


Para um livro distribuído gratuitamente com o objetivo de ampliação do horizonte cultural paulistano, creio que seja uma excelente obra. Como um livro, em si, varia demasiadamente em qualidade.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Acabo de concluir o curso de "Ética Geral e Profissional"

 



O curso é passado na forma de progressão histórica para o entendimento da ética através do percurso espaço-temporal. Começando na Grécia Antiga até chegar na contemporaneidade.


Somos, então, conduzidos por Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, Kant, dentre outros. O que dá e denota, evidentemente, uma fundamentação filosófica ampla e, ao mesmo tempo, bem delineada ao curso.


Além da distinção entre a atemporalidade e universalidade da ética, vemos o aspecto contingencial, temporal e particular da moral que está circunscrita ao âmbito do espaço-tempo e, portanto, ligado a uma contextualidade deliminante que, sem sua compreensão, a própria definição de moral se perde.


Nota-se, no final do curso, a particularidade do regimento atutidinal que se liga aos variados grupos que, em complexidade e diversidade heterogênea, apresentam uma feição moral distinta e dirigida aos seus respectivos e diferentes fins.


Somos apresentados, igualmente, ao conceito de deontologia (ciência do dever) e como a ética é por demasiado importante na regulamentação das ações humanas.


Curso interessantíssimo, duma complexidade determinante e, ao mesmo tempo, de uma capacidade sintética que liga o estudante a uma teia relacional de aspecto sintético para a inteligibilidade geral da mensagem unitária do curso e o sentido pessoal que temos na particularidade mesma de nossas vidas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Acabo de ler "El Libro Azul" de Hugo Chávez (lido em espanhol)

 



Um livro escrito pelo próprio Hugo Chávez e com o prefácio escrito por Nicolás Maduro chama, logo de cara, muita curiosidade e especulação. Talvez seja pelo amor declarado ou ódio visceral ao qual se dirige a essas duas figuras, num dualismo nauseante que, na verdade, cria mistificações grosseiras. É preciso, antes de tudo, um olhar que não seja patologicamente direcionado em respostas pré-definidas por orientações diversas.


O conteúdo é, de certa forma, simples e de fácil assimilação. Porém ele é um livro que cria uma série de referências que, muito dificilmente, poderiam ser facilmente digeridas em sua abarcabilidade sistemática. Isto é, o leitor será convidado a um estudo de vários autores para compreendê-lo na íntegra. Logo o esforço real que somos convidados não é, de forma alguma, tão fácil quanto podemos supor.


O livro traz, em teu seio, um desejo pelo retorno idealístico dos homens. O movimento que ele estrutura surge principalmente de três autores:

- Samuel Robinsón;

- Simón Bolívar;

- Ezequiel Zamora.


Cada um desses autores serve para traçar, de forma conjunta, uma política autêntica ao Estado venezuelano. Nesse plano, criado pela sistematização sintética desses autores, vemos a valorização da participação do povo na planificação das ações políticas, a crença na educação popular, a ideia da fundamentação identitária para a resolução das necessidades nacionais e, não menos importante, uma política voltada aos interesses das necessidades da população.


O livro é, de fato, muito interessante e de leitura necessária para quem tiver interesse de conhecer melhor a fundamentação política da Venezuela contemporânea e, de igual modo, do seu passado e da forma que seus pensadores desejam que ela se torne.

Acabo de ler "150 Videojuegos" de Alejandro Crespo (lido em espanhol)




Uma lista honrável e certamente bem feita, uma verdadeira história, em ordem sistemática e cronológica, dos videogames que todo fã apaixonado deveria ler.


O livro é bem simples, as informações bem pequenas, só que conta com o caráter notoriamente sistemático e historiográfico que denotam uma capacidade singular de pesquisa e dedicação. Pode ser, também, uma forma de introduzir novos jogadores ao mundo dos jogos de forma mais didática ou, simplesmente, servir material de referência para todos aqueles velhos jogadores, como eu, que buscam uma boa dose de informação organizada.


A leitura dessa obra é fluída, bem descontraída e, ao mesmo tempo, consegue ser divertida e intelectualmente valiosa. Além do ganho na parte do entretenimento, adentramos profundamente num longo passeio histórico ao qual nos conduz um autor apaixonado e que busca, com rigorosa dedicação, conquanto que também com bom humor, apresentar-nos de forma metódica o seu amor.


Leitura recomendadíssima, seja para quem quer adquirir mais constância com a língua espanhola, seja para quem quer aprender mais sobre videogames, seja para quem busca apenas se divertir ou passar o tempo.

sábado, 14 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Historia de la crisis argentina" de Mauricio Rojas (lido em espanhol)

 



Ainda sei pouco sobre a Argentina e também pouco da América Latina no geral. Todavia, conforme aumento meu conhecimento na língua espanhola e vou me apoderando da cultura hispânica, galgo pouco a pouco posições mais cabíveis de possíveis análises.


A Argentina é um país que muitos considerarão ingovernável. As suas crises denotam uma sociedade que não encontrou um caminho estável. Só que a pergunta que faço é: que sociedade latino-americana encontrou? Ler a história latino-americana é um caminho de profunda angústia e alto desejo de que haja, enfim, alguma esperança - por mais mínima que seja.


Um país caracterizado por uma liberalidade radical, com uma alta "dosagem" de migração e a esperança dum recanto de desenvolvimento civilizacional na América Latina - em competição direta com os Estados Unidos -, logo se defronta com uma onda populista e estatista com forte caráter nacionalista. De repente, engorda-se a máquina pública e a corrupção faz seu lanche na burocracia de compadrio.


Por fim, Perón é derrotado. Só que o mundo, e também a Argentina, se radicaliza. Uma contradição se flagra: esquerda e direita brigam entre si para que Perón as afague nas entranhas do poder. Mais tarde, pós sucessivas crises, vem-se o governo de Menem que tem como fim destruir o legado ultraburocrático peronista e instaurar uma economia de mercado dinâmica - e logo se vê suntuosos casos de corrupção após uma pequena onda esperançosa.


De qualquer forma, sonhemos com uma Argentina próspera e num caminho estável. Sonhemos, também, que essa estabilidade se dê na integridade territorial latino-americana. Temos que, no mínimo, almejar a civilização e fustigar a barbárie.

Acabo de ler "O Ateneu" de Raul Pompéia

 



Seria difícil precisar o quanto esse livro é belo em sua estilística. O leitor ou a leitora que se deparar com esse livro terá em mãos uns dos livros mais belos de toda a língua portuguesa, uma verdadeira obra prima em qualidade estilística.


O autor apresenta uma qualidade que foge muito do padrão, nessa obra temos uma experiência antebeatífica da experiência do encontro com o divino. Só que não é só na beleza que esse livro marca a sua presença, toda a sua descrição psicológica apresenta uma qualidade e um rigor descritivo que denotam uma capacidade de um exímio psicólogo, conhecedor profundo da alma humana.


A história se passa dentro do domínio do Ateneu, colégio interno com todas as pressões possíveis. O protagonista sofrerá nas mãos repressivas desse aparato educacional condicionador e tirânico. O livro é, igualmente, uma crítica a forma com que se dava o processo educacional.


Um leitor mais acostumado a uma leitura crítica ao modelo de educação de outrora verá, nesse livro, uma importante informação para compreender como essa se dava. A educação, em vez de ser um processo libertacional, nada mais era que um local de geração de todos os traumas possíveis.


Esse livro exigirá, do leitor, uma portentosa atenção para que ele não se perca. O leitor terá, ao fim da leitura, uma experiência artística, intelectual e cultural de primeiríssimo grau.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Los Fundamentos del Socialismo en Cuba" de Blas Roca (lido em espanhol)

 



Analisar Cuba é algo sempre difícil. Por isso, tomei alguns cuidados: como o livro foi escrito antes dos socialistas conquistarem o poder, deter-me-ei em analisar os argumentos do autor no tempo em que ele escreve e não entrar nos meandros da situação atual de Cuba.


No momento em que o autor escrevia esse livro, Cuba tinha uma economia alheia a si mesma. Seu desenvolvimento era mais pautado pelas necessidades de potências estrangeiras do que as necessidades de Cuba enquanto nação. O que, certamente, soou como uma independência parcial e não legitimamente soberana.


Outro ponto importante: o autor ressalta o caráter da luta antifascista e luta até mesmo pela implantação dum regime de alistamento militar obrigatório em Cuba, visto que a vitória terminaria na escravização da humanidade. Um ponto que me incomodou um pouco foi a forma com que o autor atacou o trotskismo como uma forma de inimigo da mentalidade socialista e dos trabalhadores, além de associá-lo aos inimigos. 


De qualquer forma, as análises do autor conduzem a uma unidade nacional que teria como base um regime de conciliação de classe - não se defendia a implantação imediata do socialismo -, o fim do racismo, o desenvolvimento dos camponeses, o fim da monocultura nos campos, melhores condições laborais e uma maior nacionalização econômica em Cuba. Pautas essas que são expostas a rigor na medida do possível.


Um ponto interessante é que o autor coloca Fulgencio Batista como homem de pautas progressistas e apoia efetivamente o seu poder. Esse ponto foge a curva das análises atuais que o caracterizam como ditador de extrema-direita.


Certamente um livro muitíssimo interessante que me ajudou não só a compreender mais a história de Cuba, como as relações que se traçavam antes de sua revolução socialista e a própria história da Segunda Guerra Mundial e a estratégia socialista durante esse período.