sábado, 8 de abril de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Jung: Capítulo 6 - A Teoria da Libido e As Personalidades: Extrovertidas e Introvertidas"

 



Jung desenvolveu uma teoria de tipos psicológicos para explicar a estrutura comportamental de sujeitos. Dessa forma, trouxe um importante instrumento classificativo, seja para o autoconhecimento, seja para a própria prática terapêutica. Demonstrando, mais uma vez, a amplitude da psicologia desenvolvida por Jung.


O tipo psicológico de alguém se forma a partir da forma que esse alguém adotou para interagir com o meio em que vive. É evidente que a forma com que esse meio é altera as formas possíveis de agir nele. Com o tempo a estratégia desenvolvida de atuação vai se solidificando num tipo psicológico específico, dispondo a pessoa a agir duma maneira e não de outra.


Os extrovertidos gostam da ação e sentem cansados quando a ação não é tomada. Os introvertidos gostam da reflexão e precisam de tempo para refletir para se sentirem reanimados. Pessoas que analisam o mundo se baseando na razão querem pensar sobre determinado objeto para compreendê-lo. Pessoas que gostam de sentir o mundo, veem os objetos e sujeitos a partir do que sentem em relação a ele.


Existem pessoas que, dominadas mais pela percepção, preferem que as escolhas fiquem em aberto para se sentirem seguras. Já as que são mais ligadas ao julgamento gostam que decisões sejam tomadas para que se tenha segurança quanto ao processo que ocorrerá.


Evidentemente que somos ligados as mais diversas operações e que uma atua junto a outra. Embora as disposições principais sejam de caráter mais permanente. Jung também observou que quando uma disposição é reprimida, ela tenderá a aparecer num momento de crise  e dominará as ações das pessoas de modo imprevisível e por isso é bom que pessoas de determinados tipos psicológicos tomem ações inusuais para si mesmas na tentativa de regular a atividade psíquica.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Acabo de ler "La historia me absolverá" de Fidel Castro (lido em espanhol)

 



A Cuba vivia numa violenta ebulição social quando esse livro foi escrito. O melhor seria dizer: o desenvolvimento desse se trata duma transposição entre uma retórica fulminante de Fidel Castro num discurso em forma textual. Esse livro é o discurso de Fidel em defesa própria, e caso não saibam: Fidel era advogado.


Em sua época, Fulgêncio Batista era o ditador da vez. Corrupto, autoritário, utilizava do poder desmesuradamente e constrangia os direitos humanos mais fundamentais. É possível se especular que a própria radicalização do conflito social, em sua consequência última (Revolução Cubana), tenha sido em parte culpa da condução assimétrica que o governo ditatorial do Fulgêncio Batista tomou. É sabido que uma pressão constante em um lado gera uma contrapressão que lhe vai em sentido oposto. Um lado armado extremamente dialeticamente faz com que o oposto surja em radicalidade como forma de contrapartida.


Nota-se aqui uma inteligência dentro de Fidel Castro e a unidade dum discurso coerente, um tom fortemente moralizador e uma necessidade combativa de mitigar as problematicidades que Cuba se encontrava em seus mais diversos âmbitos. O que se pode questionar é, ao final, a forma que o próprio Fidel Castro agiu dentro do poder e o grau de similitude que encontrou com aquele que mais combateu (Fulgêncio Batista).


Não posso deixar de citar o nome de José Martí, um pensador e responsável por grande parte do movimento revolucionário cubano, que influenciou bastante a Fidel Castro. Este é citado com frequência por Fidel na estruturação de suas ideias e a sua leitura deveria ser recomendada para compreender as ideias de Fidel.


A leitura desse livro é recomendada para todos aqueles que querem compreender mais da história cubana. Mesmo que, assim como eu, estejam distanciados da figura de Fidel Castro.

Acabo de ler "O Sistema Social no Islam" de Sayyed Hashem Al-Musaui

 



O Islã é uma religião diferente do cristianismo. Enquanto o cristianismo deixa a regulação social, ou a forma de configuração do Estado, ao âmbito das decisões da sociedade, o islã procurará uma união íntima entre o Estado e a Religião. No caso do cristianismo, a união figuraria como uma deificação do Estado - tomada sempre como ruim; já no caso do Islã essa é uma necessidade lógica.


Partindo-se da ligação intrínseca entre o pensamento religioso e o Estado, a própria religião, em seu livro sagrado, terá dispositivos em seus textos para que o Estado funcione de forma submetida a realidade do Islã. Ou seja, o Islã não é só uma fé professada num âmbito privado e não tocado pelas práticas mundanas, constituí também uma comunidade jurídica. É por isso que o estudo do Islã não é só teológico, há uma série de estudos em que se divide o Islã.


O Estado Islâmico é, propriamente, a forma com que a religião moldará o Estado ao seu serviço. O que soará, para muitos ocidentais, como algo estranho ou danoso as atividades das duas partes. Cristãos não querem que o Estado torne-se regulador da religião e nem a subverta naquilo que há de mais próprio. Já o Estado não quer o poder eclesiástico, de natureza espiritual, em seus meandros. Se os dois processos ocorrem, os dois perdem a sua distinção - em nossa mentalidade ocidental.


Aqui temos que reconhecer que: a análise é dificultada por causa das mais diversas questões a serem pontuados. A sociedade islâmica, em seu início, logrou um aumento quantitativo e qualitativo de vários direitos que eram inovações bastante atentas as necessidades correntes das sociedades em que se circunscrevia. Porém os muçulmanos se dividem em muito em como deve ser a organização nos tempos de hoje. Vejam exemplos do Estado da Turquia e da Arábia Saudita. Um adota um parâmetro semelhante ao ocidental e outro adota um parâmetro que poderíamos considerar mais tradicional ao Islã.


De qualquer modo, o que fica do livro é o entendimento de que, ao seu modo, o Islã traçou uma sociedade que ainda é uma surpresa constante aos estudiosos do caso. E seria difícil uma análise completa.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Acabo de ler "Ecocidio, crimen capitalista" de Fidel Castro, Hugo Chávez e Evo Morales (lido em espanhol)

 



Pouco importando onde estivermos, é muito provável que a gente esteja no planeta Terra. Esse nexo ligacional não pode ser quebrado, ao menos não por agora, e dependemos duma ação organizacional conjunta para que possamos conviver no mesmo espaço - nosso planeta - sem que o levemos a destruição e aniquilação da humanidade.


Uma espécie corre risco de extinção, esta é a espécie humana. É necessário que alteremos nossas ações e estabeleçamos um novo tipo de direito: os Direitos da Mãe Terra. Um tribunal comum: o Tribunal Internacional da Terra. Sem isso, é provável que a biocapacidade de suportar a raça humana se perca ou se torne altamente desfavorável a nossa existência.


Não podemos pensar, não podemos nos enganar, que podemos manter uma engenharia econômica que tenha como base o uso radicalizado de recursos numa lógica ilimitada, visto que vivemos num mundo de recursos limitados. Em lugares desenvolvidos, há padrão de consumo excessivo de recursos. Em lugares não desenvolvidos, há um padrão de baixo consumo. Se juntarmos isso ao fato de que temos uma cultura econômica de obsolescência programada: a extinção da humanidade bate em nossa porta.


Precisamos de uma conscientização urgente e coordenada para uma melhor distribuição dos recursos e de combate ao padrão vigente. Uma forma de responsabilizar aqueles que, sozinhos ou em grupo, destroçam a perpetuidade de nosso planeta e espécie. Não podemos destruir o planeta e deixar para resolver os problemas que acumulam só depois, não haverá depois.


É disso que esse livro trata. É por isso que é razoável, e não só razoável, estabelecer um sistema de acordo com a extremidade apocalíptica em que nos encontramos. Sem isso, a espécie humana certamente deixará de habitar a Terra, já que não mais existirá.

Acabo de ler "A Escola Islâmica" de Mártir Ayatullah Al-Odhma Assayed Mohammad Baquer Assadr

 



Quando se trata do tradicionalismo, sobretudo onde mais se concretiza - isto é, nas grandes tradições religiosas milenares -, falar duma posição de "esquerda" e "direita" é sempre errôneo. Por terem surgido anos antes desta definição e por terem pautas que se confundem com os mais diversos aspectos, classificá-las como aderentes ao "socialismo", "liberalismo", "social-democracia", "fascismo" ou o que quer que seja, é aplicar um parâmetro alienígena.


Os socialistas, focando na tradição marxista, tem em comum a defesa prioritária da propriedade coletiva como fator impulsionante do progresso. Já os liberais, e a maioria dos conservadores, defendem a propriedade privada como motor do desenvolvimento. O Islã tem como proposta a propriedade coletiva e a propriedade privada, não podendo ser classificado como capitalista e nem socialista.


A maior questão para os muçulmanos, durante um largo tempo, foi em que se deveria basear sua economia. Respostas alienantes foram tomadas: alguns se posicionavam a favor do capitalismo e outros a favor do socialismo. Com o fim da União Soviética e um modelo de socialismo exemplar, a opção socialista - que chegou a ser um movimento orgânico - deixou de ser considerada com o mesmo enfoque que tinha antes.


Com uma argumentação bastante explicativa e apresentando críticas aos dois lados (socialismo e capitalismo), o autor trata com maestria duma via islâmica para os islâmicos. O livro conta com uma linguagem bastante clara, técnica, precisa e didática. O autor realmente consegue estabelecer pressupostos para uma alternativa ao capitalismo e ao socialismo dentro das sociedades islâmicas, sendo bastante assertivo em seus posicionamentos.


Recomendo a leitura para quem tiver interesse em compreender mais a economia e para quem quer compreender mais sobre o Islã. 

domingo, 2 de abril de 2023

Acabo de ler "Classroom of the Elite - Vol 4 - Syougo Kynugasa" (lido em espanhol)

 



Ao contrário de minha hipótese expressa na análise do volume anterior, esse volume não chega até onde o anime adaptou. Porém creio que o próximo volume chegue na parte até onde está o anime. Minha recomendação ainda é (quase) a mesma: comece pelo volume 0, leia (se quiser) os volumes iniciais ou simplesmente procure onde anime parou. Todavia é mais recomendável ler todos os volumes: o caráter psicológico e narrativo de Ayanokoji não é demonstrado com rigor no anime.


É interessante que neste volume vemos uma batalha mais intelectual do que no volume antecessor. Isto é, a prova que eles fazem é correlacionada ao "pensamento". Em dois sentidos: na capacidade de prever psicologicamente a ações dos adversários e tomar ações com base em uma estratégia de guerra mental.


Os fatos mais marcantes desse volume foram: (I) Ryuen, líder da classe C, demonstrando ser não só um brutamontes, mas igualmente um estrategista brilhante e maquiavélico; (II) uma exploração mais metódica da frieza de Ayanokoji; (III) o bullying e a dinâmica psíquica de Kei Karuizawa, além da máscara social dela e seu aspecto "parasitário"; (IV) a revelação do passado de Hirata. O autor prova, volume após volume, uma capacidade de dar substancialidade aos seus personagens.


O próximo volume provavelmente demonstrará o conflito da Horikita com a Kushida. Fora a luta de Ayanokoji com Ryuen. Por fim chegando até onde o anime adaptou. E provavelmente o volume seguinte entrará onde o anime ainda não chegou.

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Jung - Capítulo 5: o uso das mandalas para cura"

 



A psicologia de Jung é de fundamental importância para muitas áreas do conhecimento. Graças a ele, houve um renascimento intelectual dos estudos religiosos, artísticos, mitológicos. Um homem com tamanha capacidade de abarcar os mais diversos fenômenos não pode ser ignorado. E, se o for, aquele que o ignora corre o risco de perder em muito a capacidade de compreender o mundo.


Uma das aplicações bastante curiosas é o das mandalas. A palavra "mandala" quer dizer "círculo". Basicamente padrões abstratos que, em primeiro momento, não possuem significado algum aparente. Porém Jung via as mandalas como expressões da vontade inconsciente e uma ótima via para o autoconhecimento.


As mandalas representam a camada mais profunda da mente. Não uma profundidade de nível consciente que poderá ser percebida rapidamente, mas uma profundidade de nível inconsciente. Desenhar uma mandala, pintá-la e interpretá-la seria crucial no processo de individuação. Esse seria um exercício constante e necessário para o desenvolvimento maturacional.


A compreensão daquilo que se expressa e como se expressa, descobrindo os detalhes de si para si, é uma das chaves da psicologia junguiana. Porém há muita estranheza que precisa ser explicada para que o estudante se apodere de suas práticas, visto que em primeiro momento podem soar como métodos alienígenas e de distante inteligibilidade.