quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Acabo de ler "A UDN e o Udenismo" de Maria Victoria Benevides (Parte 14)


Livro:

A UDN e o Udenismo


Autora:
Maria Victoria Benevides


Entramos aqui na UDN mais histórica, aquela que marcou a memória nacional. Com a eleição de Vargas, o Diretório Nacional da UDN declara que a subversão social e construção de uma república sindicalista são característicos desse governo.

A UDN diz com orgulho que monopoliza os atos conspiratórios. Seja de forma velada, com militares e a imprensa. Seja de forma aberta/pública, exigindo o Estado de exceção. Tudo isso culminaria no golpe branco que ocorreu em agosto de 1954.

A UDN apresentou a oposição sistemática:
- Agressiva no Congresso;
- Violenta na imprensa;
- Conspiratória nos setores militares vinculados à Cruzada Democrática.

A UDN anunciava:
1. A desgraça da volta do ex-ditador;
2. Denúncias constantes de corrupção administrativa;
3. Necessidade de intervenção militar contra a subversão e a desordem social.

É a efervescência do moralismo udenista, com toda a sua cartola, seu golpismo e elitismo.

Na primeira fila do plenário, com oratória inflamada e por muitas vezes violenta, aparteavam ou discursavam contra o governo a "Banda da Música" da UDN:

- Adauto Lúcio Cardoso;
- Afonso Arinos;
- Aliomar Baleeiro;
- Bilac Pinto;
- José Bonifácio.

Dois casos saltam os olhos:

1. Caso Última Hora: a UDN acusou o jornal de ser financiado pelo governo;
2. Inquérito sobre o Banco do Brasil: a UDN acusou o banco de irregularidades em torno da concessão de créditos e licenciamento para importações.

Enquanto os udenistas do nordeste buscavam uma aproximação do governo, a outra parte se consagrava em um ataque sistemático à política econômica e financeira. Múltiplas condenações foram feitas:

‐ Ao aumento do salário mínimo;
- Avanço do nacionalismo;
- Intervenção estatal;
- Controle do capital estrangeiro.

Em 1952, a UDN defende o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos em nome da Guerra Fria e irmandade continental.

Vários eventos ocorrem em 1953:
- Nomeação de João Goulart para o Ministério do Trabalho;
- Crise econômica, social e política;
- Inflação e declínio na taxa de produção industrial;
- Intensificação dos movimentos reivindicatórios;
- Radicalização da polêmica militar em torno do petróleo;
- Instabilidade governamental.

Veríamos também a ascensão do populista Jânio Quadros em São Paulo. A crescente liderança da UDN carioca. O surgimento do Clube da Lanterna, um clube de militares e civis inspirados na liderança lacerdista, radicalmente anti-getulista e anti-comunista.


Acabo de ler "A UDN e o Udenismo" de Maria Victoria Benevides (Parte 13)


Livro:
A UDN e o Udenismo


Autora:
Maria Victoria Benevides


A UDN teve que ver o desmoronamento da tese da "união nacional". Ao mesmo tempo que via a supremacia do PSD, que se aproximava cada vez mais do trabalhismo.

Enquanto isso, a UDN sofria uma metamorfose. Ela tinha a perda da coesão interna, a ambiguidade em sua mobilização, a luta de realistas contra intransigentes. Era encarada tanto pelo povo, como pelos próprios partidários, como "ruim de voto".

Para superar a má fama, a UDN fez várias coligações e alianças eleitorais, sobretudo em estados menos desenvolvidos e mais dependentes do Governo Federal. Falava-se das "derrotas gloriosas", em que se perdia nobremente e ganhava-se moralmente. Perseu Abramo falava sobre a precariedade do programa.

Quando surgiu a luta direta com Vargas, houve uma divisão clara. Vargas queria uma política industrializante, enquanto Eduardo Gomes falava sobre medidas deflacionárias e estabilizadoras. Gomes focou-se na classe média, evitando o pragmatismo político que poderia render mais votos. No fim, Getúlio ganhou 48,7% dos votos e o Brigadeiro (Eduardo Gomes) ganhou 29,7% dos votos.

A UDN elegeu 81 deputados e 45 senadores, 1/4 do total.

Afonso Arinos analisaria a situação da seguinte forma: a UDN ficou marcada pelo legalismo formal e sendo contrárias as reformas econômicas e sociais. Tinha um liberalismo desatualizado, um liberalismo que não era próprio do século XX.

A UDN passou a ser cética quanto as virtudes de uma democracia com ampla participação popular, a contestar os resultados eleitorais.

Aliomar Baleeiro começou a ter uma estratégia de luta para anular as eleições. A propor que o Congresso devesse eleger o presidente através de um sistema colegiado. Adicionando-se também a hipótese de uma nova disputa eleitoral entre os dois mais votados.

A tese da maioria absoluta contou com expressivo apoio na imprensa. Prudente de Morais Neto (Pedro Dantas) do O Estado de S. Paulo e o Pompeu de Souza do Diário Carioca são nomes destacados.

A UDN seguiu com uma mescla de táticas legalistas e golpistas.

Acabo de ler "A UDN e o Udenismo" de Maria Victoria Benevides (Parte 12)

 


Livro:

A UDN e o Udenismo


Autora:

Maria Victoria Benevides


A UDN teve uma derrota com a eleição de Dutra. Ela considerava que a vitória era moralmente sua. Isso traz uma importante transformação na UDN.


A autora demonstra que a UDN não nasceu como um partido, isto é, como portador de uma missão conjunta e bem determinada. Antes disso, era uma frente ampla e heterogênea, surgida por uma necessidade conjuntural.


Nesse período, a UDN marcou-se pela ambiguidade. Ela tinha a intransigência original de Virgílio de Mello Franco, a fixação juridicista de Prado Kelly e o realismo elegantemente adesista de Otávio Mangabeira e Juraci Magalhães. Tudo isso ao lado do sempre marcante eufemismo elitista e moralista.


Para superar o retorno do Getúlio Vargas e impedir uma aliança entre o PSD e o PTB, a UDN far-se-ia amigável em busca da pacificação nacional e de um plano econômico e financeiro. A incompetência política era justificada em nome da consolidação democrática. A pá de cal foi a segunda aposta no Eduardo Gomes. O retorno de Vargas estava marcado.

Acabo de ler "A UDN e o Udenismo" de Maria Victoria Benevides (Parte 11)


Livro:
A UDN e o Udenismo

Autora:
Maria Victoria Benevides

A questão da criação da nova constituição foi bastante árdua. É um período marcado pela ascensão do anticomunismo. O quadro é bastante vasto, com udenistas sendo a favor ou contra o direito de greve. A outra grande marca caberia a questão da legalidade do Partido Comunista, com vários quadros divididos.

O cenário eleitoral da UDN era 77 deputados (78 com um da Esquerda Democrática [ED]) e 10 senadores (27,2% do total de membros). A UDN ficou em segundo lugar, visto que o primeiro pertenceu ao PSD. O PSD elegeu cerca de 151 deputados e 26 senadores. Outro partido citado é o PTB, ele elegeu 22 deputados e 2 senadores. O Partido Comunista elegeu 14 deputados e 1 senador.

Na grande comissão, foram 19 pessedebistas (PSD), 10 udenistas (UDN), 2 petebistas (PTB) e 5 de pequenos partidos. A UDN, convém lembrar, tinha como principal inspiração a Constituição de 34. Mas a autora ressalta que o único que permaneceu fiel a proposta de 45 da Frente Ampla foi o membro da Esquerda Democrática, o Hermes Lima.

Acabo de ler "A UDN e o Udenismo" de Maria Victoria Benevides (Parte 10)


 

Livro:

A UDN e o Udenismo


Autora:

Maria Victoria Benevides


O Governo Dutra (30/01/1946 a 30/01/1951) é interpretado de forma diferente por diferentes grupos. Alguns apontam ele como o governo da união nacional, da pacificação, da estabilidade econômica, do respeito à Constituição.


A autora, por sua vez, traça uma crítica. Na verdade, o governo Dutra seria:

1. Uma coalizão partidária (PSD-UDN-PR);

2. Com intensa repressão ao movimento operário e à atuação dos comunistas;

3. Citando Paul Singer, um governo que elevou a taxa de exploração do proletariado e transferiu para a indústria uma parte substancial da exploração do campesinato;

4. Um legalismo autoritário;

5. Movido pela ordem política e econômica (entenda aqui como defesa do capitalismo).


Olhando a análise do Ricardo Maranhão, pode-se compreender o governo Dutra em dois planos:

- Plano Interno:

1. Vigor do movimento operário;

2. Crescimento do Partido Comunista.

- Plano Externo:

1. Emergência da Guerra Fria;

2. Fornecimento dos elementos ideológicos necessários para associar a infiltração comunista aos movimentos populares;

3. Justifica a repressão às manifestações operárias.


De 1946 até fins de 1947 o governo intensificou as intervenções nos sindicatos. Sofreram com isso a Confederação Geral dos Trabalhadores, MUT (Movimento Unitário dos Trabalhadores), a União das Juventudes Comunistas. Pode-se apontar também a cassação do registro eleitoral do Partido Comunista. Em 1947, o governo rompe com a União Soviética, cria também a Escola Superior de Guerra. A mesma escola que seria responsável pela Doutrina de Segurança Nacional e contra-insurreição. Essas duas últimas, dariam fruto em 1964.

Acabo de ler "A UDN e o Udenismo" de Maria Victoria Benevides (Parte 9)

 


Livro:

A UDN e o Udenismo


Autora:

Maria Victoria Benevides


A UDN tinha, dentro de si, várias contradições. Ela tinha setores das elites liberais e oligárquicas ao mesmo tempo. Além disso, uma aliança descompromissada com a esquerda. Fora isso, um projeto de poder frágil.


O Estado Novo tinha acabado, mas a estrutura permanecia:

- Máquinas das interventorias estaduais;

- Arcabouço do sindicalismo corporativista;

- Burocracia estatal;

- Fontes de uma ideologia autoritária.


A UDN, pouco a pouco, vai deixando várias de suas pautas que tinham alcance popular. Exemplos dessas pautas são:

- Autonomia sindical;

- Direito de greve;

- Pluralismo sindical;

- Participação dos trabalhadores nos lucros da empresa;

- Ensino público gratuito;

- Previdência social;

- Funcionamento das propriedades rurais não devidamente apropriadas;

- Uma certa intervenção do Estado no campo econômico;

- Igualdade de tratamento ao capital estrangeiro.


Existem múltiplas teses da criação da UDN. Tal como é citado pela autora em diversas partes do livro. Uma tese particularmente interessante é a de Leôncio Basbaum. Essa tese dizia que a UDN nasceu bi-partida. De um lado, havia a esquerda que realmente fundara o partido. Doutro lado, havia a direita que invadiu o partido.


A UDN, de qualquer modo, não percebeu o caráter anti-popular que sua reação às políticas getulistas trazia. Getúlio era sinônimo de aproximação com as massas e de renovação na área econômica. Além disso, com a legalização do Partido Comunista, logo foi-se construindo um eixo de queremistas (pró-Getúlio), comunistas e os novos trabalhistas. Para combater esse problema, a UDN começa a se unir aos militares.


A UDN, marcada por conservadores, liberais e esquerdistas nasceu como uma "frente", uma parceria provisória. As contradições internas não permitiam a estrutura organizacional adequada.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 10)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


A questão tratada aqui é a comunidade negra. Nas eleições de 1980, Reagan teve suporte de virtualmente todos os segmentos da América. Com a exceção de um grupo: a comunidade negra. A comunidade nega criticou conscientemente as políticas e programas da administração de Reagan. Reagan foi atacado por líderes negros, organizações negras e pela imprensa negra. O apoio de negros ao Reagan era de tão apenas 8% (segundo uma pesquisa da New York Times/CBS).


Os pontos de deslocamento foram vários:

- Os avanços dos direitos civis não foram bem enquadrados;

- O próprio "The Voting Rights Act" foi visto como afastado;

- Houve confusão e inconsistência nas ações afirmativas;

- A questão racial da isenção de taxas para escolas segregadas.


O impacto nos cortes de orçamento, o crescimento do desemprego e o REI (Reduction in forces) do governo afetou minorias, sobretudo negros. Houve também poucos apontamentos de pessoas negras em correlação as administrações anteriores. O governo Reagan era tido como tendo ausência de compaixão.