quarta-feira, 19 de julho de 2023

Haverá Segundo Sol

 No oceano dos teus lábios

Posso encontrar

Brevemente encontrar 

O paraíso perdido de outono mar

O invernal socorro de velho amar

A ternura crescente de primevo lar 


E se a teu sorriso ateu alcançar 

Espero beber em lindo lugar 

A loucura crescente de teu inverno e desértico, ermo e insólito apaixonar


Sabendo que haverá segundo Sol

A brilhar 

Em teu rosto de garota má


Haverá segundo Sol da esperança 

Que afaga alguém que tenta esquecer 

Esse enfado da matança


Haverá segundo Sol da fé 

Que afaga alguém que tenta esquecer 

A baixeza da angústia 


Haverá segundo Sol de amor 

Que afaga alguém que tenta esquecer

O ressentimento diabo da insânia 


Haverá segundo Sol de fogo

Que afaga alguém que tenta esquecer

A insólita lembrança


Haverá segundo Sol de verdidão 

Que afaga alguém que tenta esquecer e crescer

Porém se afama na amargura da infância

E um dia, talvez ele possa superar e entender

Tal ressentimento remanescente da infâmia


quinta-feira, 13 de julho de 2023

Acabo de ler "Vida de um homem: Francisco de Assis" de Chiara Frugoni

 



O que leva a um jovem de família burguesa, sobretudo um conhecido pela sua vida festeira, largar a riqueza e a vida boêmia e seguir o evangelho de Jesus Cristo da maneira mais radicalmente vívida possível?


Francisco de Assis é uma figura obrigatória, sendo referenciado por pessoas das mais diversas religiões e até mesmo por cristãos não-católicos. Um homem que tomou ações impensáveis e levou a uma imersão dialógica que a Igreja, por demasiado institucionalizada e petrificada, não poderia chegar.


Francisco quis, por muito tempo, ser cavalheiro e se envolveu em diversas tramas para adquirir tal posição. Porém ficaria marcado não como um burguês que virou nobre cavalheiro, mas sim como um burguês que ficou tão nobre que se tornou um dos maiores santos da história.


Poeta nato, teve várias lutas espirituais e viu todo um ataque estrutural por onde passava. Nem aqueles que entravam em sua ordem queriam segui-lo de fato. E a própria Igreja Católica conseguiu, pouco a pouco, arrefecer a potencialidade do seu projeto evangélico.


Esta não é uma biografia romantizada, ela demonstra a várias faces de um santo que também era um homem e todos os meandros dum mundo que não poderia compreendê-lo e nem abarcá-lo. Não caindo numa simples apologética, seja para com o próprio Francisco e tampouco com a Igreja Católica.


É sempre entusiasmante ler biografias de homens notáveis, é ainda mais notável quando lemos sobre um dos homens mais notáveis de toda a história universal.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 9 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)


 


Este é o nono volume da novela de Konosuba. Creio que quando o anime voltar, ele ainda não chegará nesta parte. Então estejam previamente avisados sobre possíveis ou prováveis spoilers.


Neste volume, vemos o retorno duma personagem que apareceu lá no arco em que aborda a inditosa seita da Aqua. Ela é uma das manda-chuvas do Rei Demônio e tem uma relação próxima com Megumin, foi graças a ela que Megumin conseguiu seu poder central e, também, único.


Há o desenvolvimento da relação do Kazuma com a Megumin, o que dá um ar mais romântico e desenvolve mais os dois personagens. O que é bastante interessante por sinal.


Embora o roteiro se torne cada vez mais complexo, o humor também foi preservado. O que demonstra um bom equilíbrio, visto que a complexificação evita a repetitividade e, ao mesmo tempo, o tom essencial da obra não se perde.


Particularmente, não é um dos volumes que mais gostei. Todavia assumo que o enredo demonstra-se bastante alinhado com os fatos precedentes e isto prova que não houve inutilização das obras anteriores.

terça-feira, 27 de junho de 2023

Acabo de ler "Breve Historia de Cuba" de Julio Le Riverend (lido em espanhol)

 



Cuba é um país espetacularmente curioso, desperta amor e ódio em diferentes públicos. Alguns saem numa apologética apaixonada, outros numa crítica brutal. Eu prefiro nem concordar e nem discordar sistematicamente de nada, visto que isto é uma postura dogmática. Só consigo pensar pontualmente, de forma lenta e menos apaixonada.


Com esse livro, o leitor entenderá um pouco do descomunal ódio que nutrem alguns cubanos pelos americanos. Parte dele é verdadeiramente justificável, visto que os Estados Unidos da América quiseram prezar muito mais pelos próprios interesses do que por uma relação fraterna de povos equivalentes em soberania. O que gerou uma histórica interferência radicalmente imperialista e metodologicamente colonialista, muitas vezes se pensando que Cuba seria um dia integrada aos Estados Unidos.


A história de Cuba é marcada por uma forte tensão: um povo que é sempre tido em menoridade, arrastado por potências e agentes que lhe são exteriores, dando-lhes uma sucursal sensação de impotência. Esta é ainda mais frequente nas figuras de Espanha e Estados Unidos, porém os EUA são mais opressores mais recentes.


A colonização espanhola, e a colonização semidireta dos EUA, sempre levou ao esmagamento das pautas orgânicas do país. Talvez a continuidade opressiva levou a um desgaste e a uma radicalidade que hoje se configura em forma de ditadura de extrema-esquerda, essa seria uma psicologia bastante conveniente - e explicativa de seus momentos históricos e estado atual - a um país historicamente marginalizado e oprimido.


De todas as formas, o final do livro assume tons de hagiografia e o autor parte para uma apologética triunfal do regime, como se este fosse incapaz de, em sua dimensionalidade profética e sacrossanta, cometer erros. Creio que a carga crítica some e dá os ares religiosos que, a meu ver cético, nenhum regime político deveria ter.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Acabo de ler "La Revolución Social y las Universidades" de Salvador Allende (lido em espanhol)

 



Neste livro, temos alguns esboços de quem era Salvador Allende e em que acreditava, sobretudo na questão política. Como o livro passado foi de sua filha, creio que a análise anterior pode ser completaria a essa e que a leitura dos dois livros possa, igualmente, ser complementar.


Notarão que há uma "evolução de pensamento" (embora eu prefira "complexificação") entre pai e filha, não deixando de ser um laço contínuo: a filha adiciona direitos sociais mais amplos, foco em grupos socialmente desfavorecidos e pautas ecológicas. O que dá um entendimento mais amplo das pautas da antiga esquerda e pautas da nova esquerda. Como são livros bem pequenos - embora ambos estejam em espanhol  -, talvez seja uma experiência interessante e esclarecedora.


Salvador Allende declara ser um aprendiz de marxista, porém mais próximo ao socialismo de forma mais ampla e não doutrinalmente marxista. Não poderia afirmar se essa colocação tem validade para toda sua vida. Vemos também que foi amigo de Fidel Castro e Che Guevara, mesmo que tenha usado meios diferentes e não fosse "marxista" em sentido estrito.


Allende declarar-se-á pró-nacionalização e acreditava que os países ricos, de índole imperialista, roubavam recursos e deixavam o país mais pobre. Não só o Chile: a noção de ser um país potencialmente rico, mas incapaz de enriquecer por causa da extração de recursos por mãos estrangeiras repetia-se em toda América Latina.


O livro, além dos argumentos já citados, é uma obra dedicada a utilidade social do estudante universitário e como estes devem se engajar no bem do país e do mundo. Além de um alerta ao egoísmo da busca da realização individual que desvia o coração da luta pelo mundo melhor.

domingo, 25 de junho de 2023

Acabo de ler "La Koinonia Eclesial" de Gustavo Gutiérrez (lido em espanhol)

 



Antes de começar a análise: não se assuste, a capa não está errada. Estava buscando alguma leitura mais diferenciada e resolvi buscar teólogos latino-americanos para ler, acabei por encontrar um importante teólogo da libertação.


A teologia de Gustavo é focada no sentido comunitário, isto é, numa forma de viver mais pautada pela sustentação recíproca. É nesta sustentação de reciprocidade e alteridade que se demonstra a teologia de Gustavo, e aí que está seu vigor.


A vivência do evangelho é a vivência da comunidade cristã. Uma comunidade que busca uma irmandade e a superação das desigualdades e injustiças que a dividem. Logo é cristão desejar a superação das problemáticas sociais e a comunidade cristão não poderia se furtar a este objetivo sem deixar de lado a sua natureza e missão evangélica.


Na sociedade latino americana, marcada pelas gritantes desigualdades que a atormentam, a missão cristã tem um caráter extremamente profético e denunciatório. Ela anuncia à mensagem evangélica, marcada pela comunhão, e denuncia vigorosamente as mazelas sociais.


Para quem quer começar a estudar a teologia da libertação, certamente é uma leitura bastante recomendável.

sábado, 24 de junho de 2023

Acabo de ler "Governabilidad y cohesión social: el caso de Chile" de Isabel Allende Bussi (lido em espanhol)

 



Sabendo previamente que o nome desta mulher causaria curiosidade, presto uma breve explicação: ela é filha de Salvador Allende, ex-presidente do Chile. Como é quase de conhecimento comum o que houve com seu pai, parto para a análise do livro em si e menos para detalhes biográficos.


O livro analisado é, mais uma vez, voltado a realidade política do Chile - tal qual o lido anteriormente. Porém este não se centra da partilha de poder na esfera subnacional. É mais sobre o levantamento de políticas para o melhoramento político do Chile de forma mais centrada em sua unidade política.


A autora, semelhante ao seu pai, é de visão política progressista. E defende uma série de visões que aumentariam o tamanho do Estado chileno com o fim de aumentar as estruturas da seguridade social, visando a igualdade.


A autora defende que uma maior regulamentação da economia e um investimento maior em certos setores dinamizariam a economia e trariam um desenvolvimento maior ao país. Também defende uma aplicação e reconhecimento mais tenaz de direitos.


Um livro interessante para quem quer se informar sobre o debate político chileno e as questões políticas concernentes a ele, mas igualmente - e por extensão - ao debate político latino americano.