Aquilo que chamamos de memória nunca carrega exatidão, mas sempre uma reinterpretação do passado conforme as cargas componenciais de nosso psiquismo no momento em que rememoramos. Logo a memória é uma possibilidade atitudinal de, conforme meditamos, adentramos num novo posicionamento existencial.
Também é fato que a memória sempre se altera. Ela é múltipla e as figuras humanas assumem forma de sustentação, rivalidade ou de modelo. Tudo isto varia de acordo com o nosso estado de espírito e, por tal razão, não devemos nos crer imbuídos de objetividade. Nossa memória é produto de nosso estado mental presente e da anterioridade que nos precede.
A memória se constrói de modo topológica, ligada à estruturação do meio que circunscreve e aprisiona o ser em sua circunstância. Desencadeada a partir de uma teia relacional de indivíduos sociopsicologicamente atuantes e, igualmente, moldados pelo meio que endoculturalmente os moldou previamente em conformidade com suas próprias tradições.
A mnemotécnica (arte da preservação da memória), mesmo zelando pelo cumprimento de sua objetividade, sempre cai na circunstancialidade de seu espaço-tempo e é obra dele. Ligada a uma subjetividade que lhe prende, mesmo que de modo inconsciente e impercetível por aquilo que pratica o ofício da historicidade ou todo homem que, por excelência, é ser social e de comportamento intrinsecamente narrativo.
No fim, a falha da objetividade nos livra do triste fardo de sermos ritualizados como escravos pelo passado. A memória, não sendo objetiva, é a arte de reinterpretar o passado e dar luz para uma nova vida que se abre, portanto é sempre uma arte e, mais do que isso, um arte de liberdade.
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