sábado, 30 de março de 2024

Acabo de ler "Dramaturgia Coletiva no Teatro para Crianças: comunicação em processo" de André Ferraz Sitônio de Assis

 



Muitas vezes concebemos o teatro para crianças como um produto menor, o objetivo é meramente um entretenimento que deixe as crianças temporariamente quietas e, quiçá, alienadas. Outra forma de concebermos o teatro para crianças é a do espectador-receptáculo que absorve o conteúdo didático de que lhe passamos doutoralmente.


Há algo estranho nessa relação, e aí adentram três questões: 

1- Queremos que o teatro infantil seja apenas uma distração para nos dar um descanso a nossa responsabilidade para com as crianças?

2- Vemos as crianças como seres fora da complexidade do mundo em que vivemos e que, por isso, são incapazes de compreenderem os dramas humanos?

3- Queremos gerar pessoas subordinadas às nossas cosmovisões, meros seres-receptáculos que, na medida em que crescem, tornam-se nossa imagem e semelhança no âmbito das ideias?


Indo na contramão dessa tendência, há uma outra opção que no fundo é uma opção política: o teatro para crianças como veículo transmissor dum processo dialógico entre a criança e o adulto. Onde os anseios humanos são tratados como universais e a própria criança está envolta neles. E o processo de construção cênica se dá numa relação de liberdade e construção coletiva em vez de uma programação pregada antecipadamente por um adulto visto como ser superior e condutor do processo.


Se queremos uma sociedade mais libertária e autônoma, onde padrões não são previamente estabelecidos como superiores aos outros, temos que retirar esse "aspecto subordinativo" que sempre aparece: adulto X criança, hétero X LGBT, saudável X doente, branco X negro, são X louco.


Quando criamos um "modelo" ou aceitamos esse "modelo" como critério normalizador, pressupomos uma relação subordinada em que tudo deve copiar exemplarmente esse modelo. A criança se torna melhor quando se torna mais adulta, a pessoa LGBT quanto mais se aparenta com os critérios de heteronormatividade, o negro quanto mais se branquifica, o "louco" quanto mais se aparenta com o "são". Essa relação modelar é uma relação de submissão que deve ser quebrada pela liberdade.

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