quinta-feira, 21 de março de 2024

Acabo de ler "Teatro Completo: Tragédias Cariocas II" de Nelson Rodrigues

 



(Texto publicado atrasado. Já havia sido lançado do Instagram e Facebook)

Ler Nelson Rodrigues é um ato de ex-covardia. O homem expôs para nós o que escondíamos em nossos corações amaldiçoados pela falsificação contínua do discurso para negação continuada de nossa realidade psíquica. A sua obra é um contínuo enfrentamento da condição perfomática que a sociedade nos insere.


Nelson quis deixar a sociedade nua. Talvez por uma forma de vingança, talvez uma forma de ser um professor moral, talvez pelo simples desejo de ver a verdade sendo pouco a pouco revelada. A sua obra é duma somatória de confissões e revelações que dão os contornos das almas humanas e brasileiras em toda a sua veracidade trágica.


E, no fim, não é na confissão em que se reside a verdadeira postura filosófica e psicológica? Só nos damos por conhecer quando somos verdadeiros, só alcançamos degraus mais altos de filosofia quando expressamos nossas ideias de fato como elas são. Criar adornos verbais imposibilita a própria capacidade evolutiva e prende a vida num ciclo de mentiras ilusórias que fazem com que percamos o nosso tempo de vida vivendo uma vida falsa.


A intenção do moralismo mortal de Nelson Rodrigues é que a ontologicidade humana não se autodevore em nome duma adequação social de caráter puramente normativa e perfomática, o moralismo de Nelson Rodrigues é daquele que confessa a radicalidade de sua subjetividade. O moralismo rodrigueano é o moralismo confessional. Porém a confissão é um dos maiores atos de coragem, ela é pressuposto e antecedente de toda autenticidade.


Nelson Rodrigues deve ser estudado como um filósofo, como um poeta, como um psicólogo, mas sobretudo como um verdadeiro mestre da ciência ontológica. É ele que nos ensina que devemos voltar a estar nus perante Deus sem a falsidade do discurso moral.

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