quinta-feira, 27 de junho de 2024

Acabo de ler "A Tirania dos Especialistas" de Martim Vasques da Cunha (Parte 6)

 


Embora seja possível encontrar uma imaginação desmedida em setores da direita, usualmente tal tradição de pensamento é encontrada na esquerda. Lembrando do pensamento de Marx que os pensadores não deveriam entender o mundo, mas mudá-lo. O problema é que o mundo é complexo demais para ser "mudado" pura e simplesmente, sobretudo quando essa mudança se dá a nível estrutural por causa de uma conflagração revolucionária.


O que precisa ser compreendido é isso: as ideias da esquerda – acima de tudo, da extrema-esquerda – são experimentais. Se são experimentais é por demasiado arriscado aplicá-las em massa, visto que se trata duma aposta em um teste. Apostar todas as fichas da sociedade em um evento experimental pode ser traumático, já que tudo que foi construído anteriormente pode ser perdido. A questão é que o revolucionário se encontra imerso em sua própria linha de raciocínio, visto que o seu anseio é, antes de tudo, religioso. É evidente que o reacionário também segue essencialmente na mesma linha, todavia ele visa um passado mágico.


A capacidade de analisar a complexidade do real se dá por uma série de dados que escapam ao nosso próprio horizonte de consciência, visto que ele, sendo humano, é delimitado pela característica da contingência. O revolucionário – e também o reacionário – creem impiedosamente que encontraram a verdade (elemento gnóstico de fundo religioso) e, portanto, são iluminados e estão acima da própria capacidade de raciocínio do resto da humanidade, sendo capaz inclusive de julgá-la e conduzi-la para um rumo superior/melhor.


Os dados sempre nos escapam. Eles são como que infinitos. As variedades são inúmeras. As variações incalculáveis. A realidade não se curva ao nosso anseio idealístico. Nossa mente não acompanha os dados constituentes do mundo. A imaginação reacionária e revolucionária querem criar, através da imaginação, uma realidade totalmente curvada aos seus anseios fundamentalmente religiosos. Só que a imaginação que eles têm é vista como onipotente, detentoras de qualidades divinas, que escapa até mesmo a sua própria humanidade.

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