Quem já não se deparou com um clássico de valor incomensurável que tardou anos para ler? Esta é a minha relação com este livro. Porém tive o prazer de lê-lo diretamente em seu idioma nativo, o que tornou tudo infinitamente mais agradável e recompensador.
O que seria o homem massa em Ortega y Gasset? O homem massa seria um ser que espera ser sempre recompensado com mais e mais direitos, sem nunca se esforçar para conseguir nada. Ele é incapaz de manter o legado civilizacional e usufrui dos bens civilizados acreditando que eles simplesmente brotam do chão. Tal incapacidade crítica põe a civilização em crise e em perigo constante: tomada como natural, sua manutenção não é vista como necessária e a capacidade de mantê-la é ignorada.
O homem massa surge num momento em que a natureza já não antagoniza e nem divide espaço com o homem. Nascendo numa estrutura inteiramente moldada pela ação e construção humana, natureza e humanidade se confundem e geram a sensação de que o natural e o humano são o mesmo. Tal sensação leva ao esquecimento dos perigos que estamos sujeitos e tal esquecimento ao relaxamento constante dos padrões.
O nobre, em contrapartida, é aquele que busca estar sempre se superando. Não de modo definido, mas indefinido. A sua luta é uma luta constante pelo autodesenvolvimento. O nobre, por não se ver como superior aos demais e acreditando-se sempre fraco, busca uma caminhada de progressão contínua para se tornar a cada dia melhor, sem nunca parar de se esforçar para tal. Isto cria nele uma superioridade, só que essa superioridade só existe por ele se ver psicologicamente como inferior e buscar ascender sem nunca deixar de assim [como inferior] se ver.
O nobre tem uma crença negativa a respeito de si mesmo, afirmando que é mau/fraco e que precisa melhorar. O homem massa tem uma graça positiva sobre si mesmo, afirmando que é bom/forte e que é autossuficiente. A humildade faz o nobre ascender, a arrogância faz o homem massa decair.
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