Memórias Cadávericas: um acervo de textos aleatórios que resolvi salvar (no blogspot) para que essas não se perdessem.
Marlon Victor, creio que existe uma falta de "purificação" no nosso debate.
Existem vários modelos intelectuais e múltiplos pontos de vista. Quando você estuda a história a partir de diversos prismas ideológicos, você se depura da própria condição ideológica. Isso torna uma pessoa mais cética.
Note as distintas visões a respeito da União Soviética:
- As críticas anarquistas;
- As críticas socialistas;
- As críticas marxistas em suas mais variadas vertentes;
- As críticas conservadoras;
- As críticas sociais-democratas.
É o quadro amplo, o mosaico de cores, que nos permite analisar as conjunturas complexas da realidade.
Creio que estamos indo em uma direção muito baseada em "cada um no seu quadrado", o que leva as pessoas não verem um quadro plurissistemático dos seus caminhos.
Em vez disso, temos um adesismo absoluto e uma mania de ler só "intelectuais orgânicos" cuja única função não é exercer uma crítica e autocrítica, mas estabelecer uma visão sempre positiva e que estabeleça sempre um ponto de vista favorável.
Seguindo a lógica dos bandos, as pessoas sempre seguiram em uma postura irrefletida. Nunca navegando na complexidade.
A necessidade de vencer politicamente levou a ideia de nunca discordar com o grupo politicamente, sempre buscando uma justificava para todos os pontos. Além disso, a era da produção em massa de mensagens exigiu uma simplificação grosseira do debate público.
Como resultado, temos um combo: apologética em vez de análise intelectual com crítica e autocrítica + simplificação para mais fácil encaixe na massa.
Numa era em que há a troca da civilização pautada na leitura e escrita para a civilização pautada no audiovisual, além da necessidade de chamar atenção, vemos a emergência da política do megafone. Quem grita mais e de forma mais chamativa, é quem ganha mais.
Veja a política moderna:
1. Apologética disfarçada de intelectualidade ímpar;
2. Simplificação para penetrar nas massas;
3. Adesismo de bando;
4. Política de megafones.
Isso tudo gera uma seitização radical da vida política moderna, sendo algo radicalmente emburrecedor.