quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #4 - Sinto Raiva

Texto publicado em 16/06/2018


O tempo passa e eu não sei o que estou a fazer de minha vida. A única que venho ficado a sentir, nos últimos tempos, é uma cólera abismal misturada com frustração colossal e com um punhado de letargia zumbificante.


Não sinto vontade de nada. Só sinto a letargia. A letargia devora-me por inteiro. Tenho vontade de ficar parado, deitado ou sentado e sentir a agonia consumir-me por inteiro. O tempo escaparia dolorosa e lentamente. Perguntar-me-ia novamente: “Quantas vezes já me senti assim?” ou “Quantas vezes esse ciclo repetir-se-á causando-me dor e sofrimento?”. Então eu teria as memórias invadindo-me, recordando-me amargamente de toda a minha vivencialidade obtusa.


Tento ler e tento escrever contra a minha própria vontade de nada fazer: acabo por escrever essa porcaria de texto mal inspirado. Tudo que crio é vazio. Tudo que crio é sem sentido. Tudo que crio é destituído de sabor. São criações mortas, criações sem vitalidade. Um produto acinzentado e nojentamente preparado. Tudo isso vem de minha interioridade, tudo isso é o próprio estado de minha interioridade.


Ouço só música cristã e harmônica. A mesma não me traz felicidade, a mesma não me traz alívio nenhum, é uma forma de busca de salvação desesperada. Talvez eu busque um escape mágico. Talvez eu busque fugir de meus pensamentos. Talvez eu busque fugir de mim mesmo. Talvez eu busque simplesmente não aceitar a mim mesmo, esse é sempre meu dilema!


Matar-me-ia se eu pudesse. Estrangular-me-ia mil e uma vezes se necessário. Violentar-me-ia se eu pudesse. Toda a angústia cessaria assim que eu cessasse de existir. Não haveria mais letargia. Não haveria mais ódio. Não haveria mais frustração. Violência autocentrada contra a existencialidade nauseabunda. Morte e desistência da futuridade. Só o adiantamento do fim!


Prelúdios do Cadáver #3 - Síndrome de Underground

Texto publicado em 27/05/2018

Sou um otaku no sentido japonês do termo. Isso significa que sou uma pessoa aficionada em certos assuntos e trato-os de forma inusual. Também significa que sou uma típica pessoa ultra singularizada e que causa certa estranheza. Não me envergonho disso, na verdade: orgulho-me disso, o fato é que ainda não estou tão habituado ao deslocamento. Posso optar por uma vida mais normalizada com assuntos que são de meu puro desinteresse e perder gradualmente minha própria personalidade para viver socialmente ou habituar-me com uma certa dose de solidão e solitude que se confundem e entrechocam.

Na vida social, existem uma série de assuntos comuns que dão a chave para a preservação da sociabilidade. O “problema” é que muitas pessoas fogem desse delimitado número de assuntos comuns. Há um fator duplo: sou solitário quando eu quero e quando eu não quero. Ainda não encontrei a solução para a preservação da singularidade e da vida social.

Em certo sentido, sofro com a chamada síndrome de underground. Não sabem o que é isso? É uma síndrome que faz com que eu desgoste de tudo que é majoritário. Há pouco tempo atrás, eu gostava de política. Gostei de política até a maioria das pessoas interessarem-se por política. Quando vi que a maioria das pessoas começaram a se interessar... Entrei em crise, meu mundo underground entrou em colapso e tive de procurar uma nova identidade. Isso prova que caminho para um dado tipo de singularização voluntária e constituinte de minha personalidade.

Acho que meu destino é ficar saindo do caminho da maioria. É meio solitário, mas não vou negar que gosto dessa solitude. Escreverei sobre isso novamente mais tarde. Sinto que preciso de mais experiência para descobrir no que isso dará. Até lá, nada poderá ser afirmado.

Prelúdio do Cadáver #2 - Cultura e Antipolítica

Publicado em 20/04/2018

Os senhores já perceberem que ao consumir muita cultura o interesse por política arrefece? Mário Ferreira dos Santos dizia que toda grande época cultural era período de decadência política.

Atualmente venho percebido que o meu desinteresse em política aumenta proporcionalmente a cultura que consumo.

Lembro-me que, em carga comparativa, consumia assiduamente muito conteúdo político há dois ou três anos atrás. Atualmente tenho lido GK Chesterton, Dostoiévski, (Coletânea de Poesia Grega e Romana que não lembro o nome), Paulo Leminski (li Castro Alves, Machado de Assis, Cruz e Sousa, Vinicius de Morais e Olavo Bilac) e leio dois mangás (um pelo celular e o outro em mídia física).

Há, ao todo, um movimento em busca de boa cultura e um desinteresse proporcional em política. E a cada dia mais eu me desinteresso em utilizar meu vigor intelectual em jornais ou artigos. Não leio quase nenhuma novidade e sofro duma alienação terrível (mas consentida) em relação a contemporaneidade e os chamados assuntos obrigatórios. Não sofro, todavia, com falta de assunto no quesito social e garanto-lhes que consigo até falar mais e melhor.

Tenho também o novo hábito de fazer atividades físicas e de escrever contos de forma gradual. Tudo isso se reflete numa construção duma vida particular e inacessível a maioria das pessoas. Se os meus conterrâneos vão em direções de assuntos comuns e conhecimentos comuns, eu vou em direção a particularidade e acabo numa forma de isolação.

Quanto mais me interesso por cultura mais percebo que a política é, no geral, desinteressante e que os produtores da chamada "cultura política" são rasos e sem densidade vivencial. E quanto mais vou em direção a cultura: mais a minha subjetividade (vida interior) aumenta enquanto a subjetividade de outrem se coletiviza.

Prelúdio do Cadáver #1 - Garota X



Texto de 08/04/2018


Olho pro Rio Tietê, estou sentado e com uma corda no pescoço. Um piano solenemente toca em minha mente, é "Clair de Lune". Meus olhos lacrimosos olham para um abismo imaginário, um abismo que reside em meu coração. Um abismo que macula e destrói. Um abismo que pesa na minha alma e desestrutura todo meu ser. Penso em pular, pôr meu ser para se acabar.


Percebo que aquele abismo, o abismo imaginativamente vejo, esteve a meu lado há muito tempo. É como se fosse um fiel amigo que partilhou de meus momentos mais íntimos, um familiar que comigo morou e cresceu. O abismo é a escuridão que bateu consubstancialmente ao meu coração em todos esses anos agônicos. Minha fiel penumbra! Enganei-me, tu não me acompanhas, querido abismo, és inteiramente parte de mim! Nego-te, mas é todo meu! E quando meu coração parar com esse maldito bater contínuo, serei igualmente todo seu, querido abismo.


De repente, sinto alguém me abraçar forte e suavemente, e essa pessoa diz com voz meiga, chorosa e sofrida:

- Não se mate! Por favor, não se mate, você não pode morrer.


(Ela fala, eu a ouço e, mesmo assim, sua auditiva voz não pode me alcançar. Estamos lado a lado e, incompreensivelmente, equidistantes.)


Sei quem és, Garota X. És tu a primavera que jamais poderei ser. Eu serei sempre outono e você será sempre primavera. Estaremos sempre distantes, embora teu viver me alegra. Somos a incompatibilidade.


Continuo a olhar pro abismo imaginário, sem virar o rosto para trás. Não preciso vê-la, só preciso senti-la. Se nossos corações se conectam, isso basta. Não só basta, é-me perfeito. É uma conexão forte, a mais forte que posso sentir. É como se nossas almas se unissem. Naquele momento, naquele breve momento, fomos um. Eu em minha dor suicida, ela em sua dor consoladora.


Não a ouço. Estou num estado de surdez introspectiva. Ela sentia a minha ausência e eu estava vivo e ao lado dela. É como se meu corpo estivesse já morto. Aperta-me mais fortemente, puxa-me para trás. Minha consciência está em meu corpo e também fora dele. Tudo me é obtuso.


Garota X, vi-te demorar-se a ir. O que buscavas na penumbra da noite, com os falsos amigos que prendem para dividir? Desejar-te-ei, mesmo sem querer. Lembrar-me-ei de ti a beijar outro homem. Sentir-me-ei triste. Recordar-me-ei que o desejo é triste, amargo e ressentido.


Tu foste, enquanto livre, o clarão da primavera a iluminar minha personalidade de outono. Prenderam-te e eu que merecia ser preso. Sou pior que ti, embora não tenha cometido ataques à constituição. Mas a vida é essa imensa contradição, figura obsessiva de meu coração. Tu não és digna do sofrimento que padece. Eu mereço todo sofrimento que sofro e o sofrimento que está por vir.


Imagino-te sempre a voltar, como a esperança que vem após a desolação. Traz-me profunda paz. E prometi a mim mesmo que seria verdadeiro quando (e se voltasse): não sorriria mais falsamente, diria tudo o que penso, tudo que está no porão de minha alma. Beijar-te-ia ao pôr do Sol e a mansidão faria morada em meu conturbado peito, neutralizando e purificando a treva.


Nunca mais verei a sua personalidade primaveril. Só tu poderias entender minha complexada personalidade de outono (quente e fria, feliz e triste, efêmera e eterna). E toda vez que eu lembrar da beleza de teu sorriso doce e puro, entristecer-me-ei. O que era feliz, agora é triste. A memória alegre repete-se em pranto.


Adeus, 

Garota X.

Acabo de ler "O Dobro de Cinco" de Lourenço Mutarelli

 



"Enigmo... Ele nos fazia crer a mentira como sendo verdade... Ele me fez ver coisas que não existem... A verdade é um labirinto de ilusões... De tanto brincar com a realidade, ele se perdeu. Sabe por que as pessoas riem de mim? As pessoas riem, não por esta minha maquiagem, nem de minha estranha vestimenta... Elas riem, porque sabem... Que por trás destas vestes existe um miserável que precisa humilhar-se a tal grau, para poder ganhar a vida... Para pôr o pão na mesa"

Essa HQ, brasileira por sinal, parece representar pessoas com passados incríveis e presente decadente. É como se tudo tivesse perdido e cada um ressentidamente se deplora ao comparar seu eu atual com o seu eu passado. Já os desenhos - a arte de nosso quadrinista - parecem bem mórbidos e sempre se traduzem em uma espécie de decadentismo.

O que eu posso dizer dessa HQ? O fato é que eu achei bem interessante a história, a ponto de pensar que seria melhor se ela fosse mais extensa. Quanto mais o livro passa, mais ao seu auge ele chega. Quando estamos a esperar sempre mais, a HQ simplesmente se acaba. É como estar numa estranha e divertida viagem que, por infelicidade do destino, acaba antes do previsto estragando parte da experiência maravilhosa que se esperava. No final, eu só pude pensar: parece um trabalho inconcluso.

De qualquer forma, sempre fico com a máxima chestertoniana de que devemos analisar as obras e os homens com um: "poderia não ter sido". Ter oportunidade de ter tido essa louca experiência de ler essa HQ é melhor do que não a ter lido. Nisso, agradeço a obra que me proporcionou grande entretenimento.

Uma defesa peculiar do livre-exame!

Penso no livre-exame da seguinte forma. Há três formas de se propor uma leitura de forma geral e essas três formas são: 

1- Leitura dogmática ou coletivo-normativa; 

2- Leitura livre-exame; 

3- Leitura livre-interpretação. 


A leitura dogmática não é por mim aplicada tão somente ao domínio das religiões, mas igualmente a qualquer método que leve a compreensão dogmática ou delimitada do pensamento. Creio que, cabe aqui, um adendo: há uma espécie de objetivismo-coletivista na leitura dogmática. Um objetivismo-coletivista está sempre assentado numa tradição de pensamento de determinado grupo, seja esse grupo religioso, ideológico ou filosófico. Assim sendo, toda leitura presumidamente dogmática segue alicerçada por uma mentalidade objetivista-coletivista. Aquele que está inserido formal (conscientemente) ou informalmente (inconscientemente) numa tradição sempre acaba por ter o resultado da leitura pré-modelado pela doutrina em que fixou e delimitou seu pensamento. Existe então uma “inteligibilidade plausível” de interpretação geral sobre todas as coisas sempre correlacionada e subordinada pelo mecanismo de interpretação dado por um grupo determinado. A leitura dogmática é viciada pois seu leitor é viciado numa escola de pensamento, doutrina e ideologia.


Podemos dizer que mesmo no campo ideológico político há uma leitura delimitada que produz resultados delimitados, tal leitura é, para mim, dogmática, pois sempre gira em torno de resultados já predefinidos pela chave de interpretação do texto. O dogmatismo pode estar ligado a algo que não é “uma verdade religiosa”, mas sim a uma “verdade coletiva” de determinado agrupamento social. Tal “verdade coletiva” filtra o pensar através de suas crenças e propõe sempre um resultado enviesado por um vício de pensar.


Leitura livre-interpretação é uma leitura descomprometida com o debate, é uma leitura inteiramente livre de qualquer debate sobre a natureza interpretativa do texto. E nquanto o leitor dogmático quer chegar a uma interpretação predefinida por uma linha de pensamento, o leitor livre-interpretacionista quer chegar a uma conclusão sem qualquer intermediação de ninguém e indo para um caráter individual-subjetivo de interpretação. Podemos ver que daí surge um subjetivismo tacanho que coloca o sujeito leitor como autoridade absoluta. Em vez de subordinar-se a um grupo predeterminado, subordina-se sempre ao próprio leitor e faz surgir uma leitura desinteressada pelo próprio debate acadêmico e impossibilitada de ir além do próprio leitor. 


Leitura livre-exame é uma leitura cuja o fim real é um debate intermediado. Ele não se prende ao subjetivismo-individualista e nem ao objetivismo-coletivista. Em vez disso, ele quer um debate franco que se atenha num número de interpretações razoavelmente possíveis. Diferentemente da leitura dogmatizada, não há um grupo de pensamento que subordina a leitura num resultado ideologicamente presumível. Diferentemente da leitura subjetivista, há uma atenção aos grupos de pensamento e as suas possíveis interpretações. É uma leitura intermediada por não se filiar a nenhuma tradição de pensamento e de interpretação. É uma leitura intermediada por não querer ser uma leitura egoísta, subjetivada por estar subordinada ao sujeito leitor como intérprete absoluto.

Farisaísmo e Sofismo

Farisaísmo e sofismo referem-se a uma mesma atitude vivencial. Referem-se a alguém que confunde o ideal com o próprio ser. Essa é a diferença principal entre o filósofo e o sofista. O filósofo nunca vem a se tornar a sabedoria, mas o sofista acredita que é a própria imanentização da sabedoria. Tanto que sofista quer dizer sábio e filósofo quer dizer amigo da sabedoria. O fariseu já pensa que é a própria imanentização da justiça e quem se crê justo já perdeu a justiça faz tempo. É por isso que quando alguém assume que a esquerda é boa e se diz de esquerda, assume-se como bom. Quando ocorre o contrário, também é verdadeiro. É dessa confusão que surge a própria impossibilidade dos dois amadurecerem plenamente: eles não obedecem à lei da douta ignorância e da santa pecadora. O santo só é santo por ver o pecado em si mesmo e o douto ignorante vê a ignorância em si mesmo. Assim cada qual é capaz de evoluir tendo como base um esforço negativo. É negando-se que o homem pode se tornar melhor.


O ideal é, por excelência, aquilo que não se cumpre, mas sim aquilo que se busca. A ideia de que cumprimos o ideal faz com que o ideal se afaste de nós e que a vida morra dentro de nós. Nesse sentido, o cristão que se acha tal como Cristo, já morreu em matéria de fé. Aquele que ama puramente a Deus, sabe que todo passo é um afastamento. O amor de Deus se encontra nessa tensão de ausência. De igual modo, o filósofo que acredita ser a imanentização da sabedoria já não é mais filósofo, é sofista. O ideal é uma busca pois é espiritual: ele é uma perfeição que gera perfectbilização. A perfeição não é cumprível, mas se expressa na perfectibilização. O melhor ideal é, por excelência, aquele que não pode ser cumprido; e isso ocorre do fato dele ser perfeito. Um ideal perfeito é tão pesado e cruciante quanto é a própria realidade. O peso do ideal igualado ao peso da realidade é a pura harmonia. É por isso que alguém que não me lembro o nome disse uma vez: “somente religiões vulgares prometem o paraíso na Terra”.


Compreender que o homem é perfectível e não perfeito é uma forma de proporcionar-lhe uma capacidade de perfectibilizar-se. Propor que o homem pode, em vida, alcançar a perfeição é mais do que uma heresia: é um assassinato espiritual. O homem só vive em virtude da imanentização processual e incompleta: ele busca trazer nele um alto ideal que nunca irá se realizar, mas quando ele imanentiza esse ideal e compreende que ele nunca irá imanentizá-lo em toda a sua vida, ele compreende que está vivendo. A imanentização falha quando há uma confusão na compreensão de perfeição, a imanentização falha quando o sujeito acredita que de fato imanentizou a perfeição em sua plenitude. Quando o homem acha que a obra findou, ele finda a sua própria vida. Isso decorre do fato de que a perfeição do homem é buscar perfectibilizar-se. O homem espiritualmente realiza-se na perfectibilização e acaba por não se realizar na crença de perfeição. Aquele que crê que o homem é perfeito e pode ter uma obra perfeita só pode ser um demiurgador. O fenômeno que se encontrou na crença da ciência é um fenômeno de uma mentalidade demiurgica.


Creio que podemos ter em vista dois ideais de imanentizações: a imanentização perfeita e a imanentização perfectível. A imanentização perfeita é uma imanentização que se crê como a realização do ideal de forma plena, ela é uma imanentização que não aceita ser questionada e que acredita que todos estão errados frente a ela, pois ela é perfeita. A imanentização perfectível é aquilo que chamamos de transparência, ou seja, uma tentativa de unir o transcendental com o imanente; nessa configuração de pensamento encontra-se uma chave para a realização da consubstanciação entre o real e o ideal: a vida é uma luta para unir os dois mundos, transcendental e imanente, sem se confundir o mundo numa visão fechada de imanência ou de transcendência. Os dois polos tentam se unem num homem que quer conciliar os dois mundos. Se bem que imanentização perfectível me soa completamente idiota, mas não estou com saco de corrigir isso. Então chamar-lhe-ei meramente de transparência ou expressão.


Há também o hedofarisaísmo. Essa configuração de farisaísmo dá-se da união entre uma satisfação primária ou rasa e superficial de algo conjuntamente a uma ideia de que essa satisfação precária é a própria realização do objeto em si sem qualquer diferenciação de escala qualitativa – ou seja, o grandioso favelado mental, que confunde o seu pensar periférico com uma grande forma de pensamento. O hedofariseu é alguém medíocre que pensa ser o auge de algo na plenitude de sua mediocridade. O hedofarisaísmo é, propriamente, a condição de uma grande parte da esquerda nacional que se acha além da mediocridade: eles nunca ultrapassaram a barreira do medíocre. O ataque a vocação aristocrática só pode gerar no Brasil uma mentalidade hedofarisaica, sobretudo naqueles que creem piamente no ideal.


Poderia também falar da esquerda que confunde a própria complexidade teórica de seu pensamento com o objeto analisado. O fato de alguém conseguir utilizar Karl Marx para interpretar a Valesca Popozuda não a torna tão complexa quanto Marx, só que para uma esquerda que já perdeu o senso comum há anos, essa simples constatação ululante não é observável.