quinta-feira, 21 de julho de 2022

Uma defesa peculiar do livre-exame!

Penso no livre-exame da seguinte forma. Há três formas de se propor uma leitura de forma geral e essas três formas são: 

1- Leitura dogmática ou coletivo-normativa; 

2- Leitura livre-exame; 

3- Leitura livre-interpretação. 


A leitura dogmática não é por mim aplicada tão somente ao domínio das religiões, mas igualmente a qualquer método que leve a compreensão dogmática ou delimitada do pensamento. Creio que, cabe aqui, um adendo: há uma espécie de objetivismo-coletivista na leitura dogmática. Um objetivismo-coletivista está sempre assentado numa tradição de pensamento de determinado grupo, seja esse grupo religioso, ideológico ou filosófico. Assim sendo, toda leitura presumidamente dogmática segue alicerçada por uma mentalidade objetivista-coletivista. Aquele que está inserido formal (conscientemente) ou informalmente (inconscientemente) numa tradição sempre acaba por ter o resultado da leitura pré-modelado pela doutrina em que fixou e delimitou seu pensamento. Existe então uma “inteligibilidade plausível” de interpretação geral sobre todas as coisas sempre correlacionada e subordinada pelo mecanismo de interpretação dado por um grupo determinado. A leitura dogmática é viciada pois seu leitor é viciado numa escola de pensamento, doutrina e ideologia.


Podemos dizer que mesmo no campo ideológico político há uma leitura delimitada que produz resultados delimitados, tal leitura é, para mim, dogmática, pois sempre gira em torno de resultados já predefinidos pela chave de interpretação do texto. O dogmatismo pode estar ligado a algo que não é “uma verdade religiosa”, mas sim a uma “verdade coletiva” de determinado agrupamento social. Tal “verdade coletiva” filtra o pensar através de suas crenças e propõe sempre um resultado enviesado por um vício de pensar.


Leitura livre-interpretação é uma leitura descomprometida com o debate, é uma leitura inteiramente livre de qualquer debate sobre a natureza interpretativa do texto. E nquanto o leitor dogmático quer chegar a uma interpretação predefinida por uma linha de pensamento, o leitor livre-interpretacionista quer chegar a uma conclusão sem qualquer intermediação de ninguém e indo para um caráter individual-subjetivo de interpretação. Podemos ver que daí surge um subjetivismo tacanho que coloca o sujeito leitor como autoridade absoluta. Em vez de subordinar-se a um grupo predeterminado, subordina-se sempre ao próprio leitor e faz surgir uma leitura desinteressada pelo próprio debate acadêmico e impossibilitada de ir além do próprio leitor. 


Leitura livre-exame é uma leitura cuja o fim real é um debate intermediado. Ele não se prende ao subjetivismo-individualista e nem ao objetivismo-coletivista. Em vez disso, ele quer um debate franco que se atenha num número de interpretações razoavelmente possíveis. Diferentemente da leitura dogmatizada, não há um grupo de pensamento que subordina a leitura num resultado ideologicamente presumível. Diferentemente da leitura subjetivista, há uma atenção aos grupos de pensamento e as suas possíveis interpretações. É uma leitura intermediada por não se filiar a nenhuma tradição de pensamento e de interpretação. É uma leitura intermediada por não querer ser uma leitura egoísta, subjetivada por estar subordinada ao sujeito leitor como intérprete absoluto.

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