quinta-feira, 29 de setembro de 2022

É DIA DE TEOLOGIA ISLÂMICA NO LATIR CONTRA OS GRANDES

 



Hoje postei três vídeos de teologia islâmica. Divulgar tal conteúdo no Brasil é abrir as fronteiras do debate teológico e sair do provincialismo determinantemente cristão no âmbito do debate acadêmico teológico. Como não haveria de deixar de ser, o projeto Latir Contra os Grandes tem como objetivo a divulgação intelectual e acadêmica.

Relato, desde já, que não tenho compromisso de assumir alguma posição ou defender dada ideologia, doutrina ou religião. Muito pelo contrário, eu tento sair dos limites determinados por mim mesmo e adquirir uma expansão de consciência por meio de leituras mais diversas. E tento passar isso a todos que acompanham meu projeto.

Se você ficou interessado no conteúdo, entre agora mesmo no YouTube:

Ou no Spotify:

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Haverá de ser...

Aparece-me tal como mera hipótese e já atormenta todo meu imaginário. Ainda não existe e não é confirmado que haverá de existir, só que já não me julgo suficientemente bom e digno de ti. Nem nasceste, mas já pode alterar todo um mundo que se divide entre antes e depois de ti. Se vier de ser, haverá de ser amado. Se vier a acontecer, haverá de ser cuidado. Se houver, estarei para o que haja. Minha consciência eclipsa-se na imagem de um ser a formar-se. Uma fonte de desespero e amor prévio, que nunca julguei possível existir, nasce em meio ao meu coração desértico. Haverá de ser, existindo ou não, lembrado. Haverá de ser, ainda não existindo, de ter me mudado.

A Conspiração


O assunto que aqui trato é um tanto perturbador e um tanto sinistro. Todavia garanto-lhes que ele goza duma íntima certeza credível e altera o rumo do mundo. Claramente não consigo traçar com total miudeza a minha linha argumentativa e narrativa, porém lhes garanto que tudo aqui escrito é uma verdade de estatura inquestionável. Sei que não vão acreditar em mim, será necessário um pouco de fé e superstição para tal, se não uma qualidade imagética para se preencher hipoteticamente todas as lacunas faltantes. Vocês não sabem, mas existem várias conspirações rolando mundialmente, todas elas se destinam a infelicidade dum único homem: Seu Zé de Piraporinha.


O leitor, a partir daqui, pode questionar-se da relevância de Seu Zé. Possivelmente o leitor desconhece o glorioso Seu Zé. Digo-lhes que trazer questionamentos antes mesmo da enunciação dos fatos que se sucederão é mera defesa prévia contra a integral realidade que se apresentará. Seu Zé, tal como ele mesmo reconhece, é o homem mais importante do mundo e forças terrenas e cósmicas conspiram de toda forma contra a sua vida devido a sua monumental importância. O próprio Seu Zé percebe, ao juntar uma série de dados e preenchê-los com a sua portentosa imaginatividade, que está sendo perseguido, caluniado, barrado, censurado e tantas outras coisas mais que tiram a sua dignidade humana e a máxima excelência que deveria gozar segundo a sua gigantesca estatura (autogerada). Se questionam a mim, recomendar-lhes-ei falar com Seu Zé e todos os arroubos de sua emoção enfática comprovarão tudo que, a partir de agora, escrevo.


Para ilustrar o começo disso tudo, servir-me-ei da Bíblia como fonte de autoridade. Ela é fonte digníssima para todos os cristãos e judeus, além dos muçulmanos - embora esses últimos creiam que ela é uma revelação parcial e não se encontre em totalidade e em perfeição, coisa que poderia ser resolvida se consultassem a opinião do ilustríssimo Seu Zé. Como todos sabemos (ou não), o início da humanidade deu-se com Adão e Eva. Só que, antes mesmo dos patriarca e matriarca da humanidade darem seus tíbios passos, as forças divinas tiveram o ataque inesperado de um tal de Lúcifer - posteriormente conhecido como Satanás. Alguém há de se perguntar como um ser infinitamente mais inteligente que um ser humano atacaria a Deus, ser de absoluto poder e absoluta honra. Ora, a resposta por trás dessa tolice não é clara? Lúcifer - ou Satã - tinha em mente o Seu Zé de Piraporinha. Ver o quão fantástico era esse homem, auge da criação celeste, deixou Tio Lúcifer enraivecido e, meu Deus do céu, com uma inveja tremenda. Tornou-se uma criança birrenta por ser incapaz de encarar a própria imagem medíocre frente ao reflexo dum espelho. Nem a luz desse ser de luz, o Lúcifer, igualava-se a de Seu Zé. A partir disso, Satã viveu de atordoar a humanidade com a sua galhofa.

 

Vários fatos passados, presentes e futuros demonstram como toda uma série de humanos, demônios, entidades e outras criaturas se dedicarem para arruinar Seu Zé de Piraporinha. Dar-lhes-ei um exemplo magnífico, contado pelo próprio Seu Zé de Piraporinha. Aquele a que conhecemos por Maomé nada mais era do que um inimigo de Seu Zé de Piraporinha, antes mesmo que o próprio Seu Zé nascesse. Se você não entendeu a coligação entre Maomé e Seu Zé, sinto muito, a sua inteligência talvez seja de natureza rasa. Maomé queria que os ancestrais de Seu Zé desviassem da verdadeira religião. Ora, se você não entendeu, todo movimento islâmico tem como fim o desvio dos ancestrais e descendentes de Seu Zé da verdadeira religião. Seu Zé é cristão devoto, isso é um fato suficiente. Quando o islã começou as suas conquistas territoriais, toda uma série de líderes islâmicos tinham um só objetivo: desviar os ancestrais de Seu Zé da verdadeira religião - o cristianismo, segundo o maior teólogo do universo (Seu Zé) - e fazer com que Seu Zé fosse não um cidadão de bem e cristão, mas um islâmico. Maomé enganou grande parte da humanidade e conspirou muito contra Seu Zé, só que Maomé não contou com a inteligência de Seu Zé e a providência divina dada aos cristãos enquanto Deus se preocupava com o ilustre Seu Zé.


 

Ok, tudo isso pode parecer um tanto estranho para o querido leitor de imaginação precária. Precisarei ilustrar tudo com mais exemplos. Os Illuminati, grupo fundado em 1776, bem antes de Seu Zé nascer, tinha como objetivo destruir a vida de Seu Zé. Para que os Illuminati assim procedessem, teriam que destruir algo de menor importância, a civilização ocidental. Era óbvio que para destruir a vida de Seu Zé, teriam também de se empenhar em outra coisa de menor importância que o Seu Zé: o mundo inteiro. Tão logo que os Illuminati, satanistas endemoniados, viram que para destruir Seu Zé teriam que controlar o mundo, nisso se empenharam. Os Illuminati então se tornaram amiguinhos de outra organização diabólica que também queria - vocês não vão acreditar, meus caros leitores! - ferrar com o coitado do Seu Zé. Organização essa que não era nada mais nada menos que a própria maçonaria. Para tal fim, a maçonaria nasceu no final do século XIV e projetou-se secretamente. Os maiores mestres maçônicos foram ensinados, desde aprendizes, a odiarem a pessoa de Seu Zé e a ele dedicarem seu máximo ódio. Tarefa dificílima, tendo em vista que Seu Zé só nasceria no século XX. Mas vejam só como é a natureza do ódio dos homens, sobretudo quando se trata de uma pessoa tão majestosa quanto Seu Zé.

 


 

Se você acha que os inimigos de Seu Zé datam só de tempos antediluvianos, da Idade Média ou algum outro tempo passado sem nunca chegar propriamente no século XX ou XXI, você se engana severamente. O próprio Bill Gates é um inimigo mortal de Seu Zé. Como é que provarei isso? A resposta é também óbvia, leitor incapaz de esforço imagético: todo conspirador não assume a sua própria conspiração, se o fizesse não seria conspirador. Por qual razão Bill Gates, estrategista brilhante da Nova Ordem Mundial, diria que tudo o que ele construiu foi feito para destruir a vida de Seu Zé? Tê-lo-iam como louco. Porém posso provar tudo, tudo que meu foi explicado pelo próprio Seu Zé a respeito desse não tão maravilhoso homem que é o Bill Gates.


Para o leitor incapaz de correlacionar os fatos por si mesmo, por ausência de conhecimento da vida do magnífico Seu Zé e da vida do medíocre Bill Gates, eu mesmo me darei a esse esforço. Vocês sabem onde Bill Gates estudou? Bill Gates estudou em Harvard. Só daí já tiramos várias das conclusões mais impensáveis para aqueles que não possuem a capacidade duma imaginação laboriosa e intelectualmente enriquecida: Harvard é cheio de modismos comunistas no pensar. Não preciso dizer que toda universidade é imersa no filocomunismo e em toda aquela papagaiada esquerdista que crê em modelos civilizacionais não idôneos. E, se você não sabe, todo o comunismo existiu para destruir a vida de Seu Zé. Quando Lênin escreveu seus escritos, querendo a destruição do único sistema econômico que Seu Zé acredita válido, ele pensava em impossibilitar a própria vida na Terra. O próprio Karl Marx decidiu corromper e destruir a família para acabar com a possibilidade futura do nascimento de Seu Zé. Todos os bolcheviques tinham como missão impossibilitar a própria vida humana com a implantação de um sistema econômico criado para impedir que o próprio Seu Zé nascesse. Pense bem, se a União Soviética invadisse o Brasil, escravizasse a população e controlasse a natalidade, como é que Seu Zé nasceria? Está tudo conectado. A União Soviética existiu para não só destruir coisas irrelevantes como o sistema capitalista mundial ou coisas totalmente toscas como estabelecer o domínio planetário do sistema socialista. Não, meu caro leitor (ou leitora), a União Soviética existiu para destruição de Seu Zé. Vendo quão notável seria Seu Zé de Piraporinha, capaz de refutar qualquer argumento com sua retórica brilhante cheia de palavrões, ela viu que a própria possibilidade dum sistema socialista era impraticável diante de uma inteligência tão monumentalmente sofisticada quanto a de Seu Zé. No entanto, quase todos os líderes soviéticos decidiram continuar com seu plano megalomaníaco para destruir Seu Zé. É óbvio que os Illuminati, maçons, comunistas e Bill Gates farão de tudo para destruir a vida de Seu Zé.


Agora se você me pergunta o que tudo isso tem a ver com a relação de Bill Gates e Seu Zé, respondo-lhes claramente: Bill Gates criou o coronavírus para aniquilar Seu Zé! A resposta que conecta tudo é, por si só, suficiente - considerando, é claro, que o leitor dê a devida importância ao Seu Zé. Considerando, entretanto, a incapacidade do leitor de juntar os fatos por si mesmo, ilustrar-lhes-ei mais. Bill Gates, sabendo que Seu Zé já tinha nascido, não tinha como paralisar a Seu Zé e a sua descendência gloriosa sem um maravilhoso plano. Junto com outro grande inimigo de Seu Zé, George Soros, teve várias ideias mirabolantes. As frentes foram, é claro, diversas. Não posso detalhar toda minuciosidade de tamanho plano de diversas linhas de atuação e complexidade inata - menos complexa apenas para a grandiosidade de Seu Zé de Piraporinha - num texto tão pequeno quanto esse. Vocês vejam que George Soros investiu e continua a investir numa série de organizações de esquerda e isso já demonstra que George Soros é inimigo de Seu Zé. Se os planos de esquerdizar o mundo derem certo, como é que a descendência de Seu Zé poderá nascer com o diabólico aborto como direito de saúde pública? A pauta do aborto só existe com uma finalidade: impedir que a descendência do magnífico Seu Zé nasça e perdure. Todos sabem, evidentemente, que aborto é assassinato. Outro plano que o mau-caráter do Soros tinha era de legalizar a maconha para que o Seu Zé fumasse e tivesse uma overdose - se você duvida que maconha cause overdose, pergunte ao próprio Seu Zé. Só que todo defensor do aborto ou da maconha tem só uma coisa em mente e ela não é uma questão de saúde reprodutiva ou simplesmente da defesa da liberdade individual. O defensor do aborto e o defensor da legalização da maconha tem em mente a figura messiânica de Seu Zé e a sua descendência. Imagine que tivessem convencido a mãe de Seu Zé que era bom que ela abortasse? Imagina se o pai de Seu Zé tivesse morrido de overdose de maconha? E agora, por meios de corrupção cultural, querem convencer a filha de Seu Zé ao mesmo. O próprio Seu Zé uma vez pegou seu filho, desviado estudante da USP, fumando um baseado na praça!


Ok, o leitor deve estar achando que estou divagando absurdamente. Só que tudo isso é comprovado pela própria narrativa direta de Seu Zé. Bill Gates criou o coronavírus com o objetivo secundário e menos importante de causar um desequilíbrio global e governar o mundo como imperador supremo da Nova Ordem Mundial. Só que o que é a desordem do mundo inteiro e o controle supremo de toda extensão da Terra perto de algo tão fantástico quanto ferrar com o Seu Zé de Piraporinha? Está tudo, é claro, mais uma vez explicado e brilhantemente explicado. Todos os dias, nosso querido Seu Zé de Piraporinha, defronta-se com todo tipo de artimanha demoníaca direcionada a sua pessoa. Se a humanidade tomasse conhecimento de tal enredo absurdo, ela saberia que não é nada diante de tudo que se fez e tudo que se fará para destruir o maior dos humanos, Seu Zé. Se a humanidade tomasse conhecimento, logo proclamaria Seu Zé como imperador absoluto da Terra. Só que, até hoje, ninguém sabia disso, excetuando as elites mundiais que, antes mesmo do surgimento do universo, conspirava contra Seu Zé.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O Necrófago

 


 

Se eu dissesse que eu sangro sem sangrar, isso lhe assustaria? Se eu lhe dissesse que posso sentir minha carne sendo cortada, sem ser cortada, você acreditaria? Se eu lhe disse que sinto gosto e ele tem gosto de desgosto, você saberia definir o que de fato sinto? E, por fim, se eu lhe disser que todo esse vaivém a qual a humanidade se destina é apenas uma marcha caimíca em que o progresso civilizacional é, tão apenas, o domínio do demônio e da totalização diabólica? Dir-me-ão que os remédios modernos são fruto do progresso, dir-lhes-ei que o holocausto baseou-se igualmente no progresso técnico e científico. A bomba atômica é um portentoso milagre científico e técnico que ceifou várias almas. Mas, pensando bem, é até mais misericordioso ser morto por uma bomba atômica do que estar num campo de concentração. Com ferramentas de capacidade superior, os novos deuses de pés de lama se erguem e a população com adora o mais novo bezerro de ouro em forma de Iphone ou o que quer que seja a nova forma dele. Religiões, ideologias e doutrinas se alternam no poder sem que o homem possa ir para o paraíso tão pedido e tão prometido. Sempre alguma nova ideia será enunciada prometendo a nova forma de chegar (ou seria retornar?) ao paraíso.

 

Perguntar-me-ão se eu tenho um programa, se eu tenho uma direção, um senso de unidade, uma doutrina a qual poder-se-ia remir o mal contínuo da humanidade. Negativamente responderei e negativamente serei encarado. Todos devem trazer alguma coisa, qualquer coisa. Em nossa época, se faz necessário publicalizar a consciência em todos os fenômenos que se sucedem. Todo esse esforço de pingar o fragmento das almas nas mais diversas ocasiões é, para alguns, o divertimento e realização de seus seres concomitantemente. Denuncia-se ali um caso de racismo, fala-se aqui duma manifestação por algum novo direito, comenta-se o protagonismo feminino ou a privatização indevida ou devida de alguma empresa. Eu me proponho o contrário: ignoro tudo o que acontece e não mais me posiciono. É fato que alguns homens tornam-se alguém, outros tornam-se alguma coisa e outros, menos sortudos, tornar-se-ão algo e haverá aquela parcela, mais numerosa em todas as épocas, que nada serão e a nada serão destinados. Afirmo-lhes que sou pessimista demais para acreditar em qualquer coisa. Sou pessimista demais para cair na estultice de acreditar em mim mesmo - apesar disso ser um dogma pós-moderno (e, se não o for, não sei de quando data tamanha idiotice). Toda minha afirmação é uma negação. A negação, nada mais é, algo que reacionariamente nega o que é afirmado. Um negacionista é um homem que nega o que é afirmado. Sou o homem que olhava para o abismo e quanto mais olhava para o abismo, mais sabia que olhava para a própria natureza.

 

Ultimamente eu sinto estar ficando mais cego a cada dia. Não que eu tenha perdido a visão no sentido físico do termo, é que há um lamaçal metafísico de natureza obscurantista que me atrapalha. Eu simplesmente não consigo enxergar nada de qualitativo, nada de prazeroso ou nada que me dê um bom gosto palatável. Com o tempo, torno-me niiliabsorto nessa malignidade. Muitos de meus contemporâneos gostam de denegrir ideias, doutrinas ou religiões. Para mim, o esforço satírico e o gosto pelo caos dionisíaco se evadiu na medida mesma em que eu crescia. Minha geração só é forte o suficiente para negar ideias que, por lhe serem absolutamente superiores, não tem capacidade de cumprir. As ideias, as doutrinas, as religiões, as ideologias... Tudo isso foi abandonado por essa geração de fracassados. Não que eu não seja um deles, só que reconheço o fato de que sou fraco. Satirizar aquilo que não tem capacidade de corresponder em força e em estilo é o jeito com que os fracassados encontram de não negarem o próprio fracasso, mas a transcendência que se lhes apresenta. Quanto mais eu crescia, mais a beleza se evadia. Quanto mais eu crescia, mais eu ia para a direção não da antissociabilidade, mas do divórcio social. O esforço da negação, tão comum aos meus "iguais" - ao menos inseridos no mesmo "espaço-tempo" -, tornou-se até a negação da negação. Eu não só nego, nego-me igualmente a negar. A corda num pescoço seria, tão apenas, um alívio a essa pressão de desgaste que me obscurifica. Sem vontade alguma de continuar, empurrado a andar pelo espírito das poucas almas que ao meu lado ainda ficam.

 

Ninguém poderia para mim olhar, conhecer e passar ao lado sem que lhe ocorresse o seguinte pensamento: "como alguém pode ser tão deprimente?". A resposta, se é que há uma, é que minha natureza é morta. Eu sou tão apenas um cadáver. Nesse ponto em que me encontro, creio que minha alma caiu fora de meu corpo por abjeção. Creio firmemente que minha alma me abandonou há muito tempo, se eu tivesse oportunidade, também abandonar-me-ia sem pestanejar. Vago aqui e acolá, a preencher o espaço com minha presença física vazia. Sou o paradoxo do corpo físico que, adicionado ao ambiente, não ocupa espaço. Pelo contrário, sou um buraco negro que suga toda positividade, toda esperança, matando tudo que há de bom com minha pessimistividade. Minhas palavras nada dizem, as ideias que, por algum acaso enuncio, nada a mim representam. Para ser sincero, o nada nadificante de minha condição tornou-se uma existência puramente negativa que anula qualquer possibilidade de positividade. A leitura, em vez de erudição, só me traz uma forma de pseudotranscendência evacionista da realidade. Os antidepressivos só atenuam o sofrimento físico e mental que passo, minha visão e minha essência é em si mesma depressiva.

 

Tudo vem sido uma lenta odisseia fúnebre na qual eu me sinto cada vez mais morto. É um ditado popular a ideia de que nos tornamos o que comemos. Eu só como coisas mortas. Os animais que me alimentam foram mortos. Os autores que leio morreram há muito tempo, quando não morreram há séculos. A única coisa que tenho é o reinado do niiliabsolutismo. Eu não posso ligar para grandes causas. O fascismo, o socialismo, o liberalismo, tudo isso me dá tédio. Mesmo que eu não seja tolo o suficiente para acreditar que, em meu relativismo singularista, eu seja superior a essas religiões civis que tanto marcaram a humanidade. O amor que a sociedade tem pelas crianças me entedia. Os grandes acontecimentos políticos são por mim ignorados. A própria capacidade empática de ligar para um acidente de avião ou a um genocídio que, esporadicamente a humanidade faz numa religiosidade ritualística, não me causa absolutamente nada. Todas as discussões que saem dos maiores anseios humanos de nada me representam. As transformações de ideias que se alternam e sucedem não me representam coisa alguma. Tive o infortúnio histórico de nascer depois das grandes religiões e civilizações religiosas, das grandes ideologias e suas revoluções.


Nos últimos tempos, empreguei-me a andar em campos vácuos. Seja fisicamente ou mentalmente. Afastar-me de qualquer criatura viva era meu modo de viver mortamente. Até que, um dia, deparei-me com um terreno baldio. Um cheiro horrendo despertou em minha narina. Deparei-me com um cadáver. Cadáver esse que estava passando por um processo de decomposição. Claramente, não habituado a tal cheiro, tão logo pus-me a vomitar. Por algum motivo, uma vaga similitudidade enunciou-se em minha cabeça. Embora esse cadáver estivesse de fato morto, estivesse fedendo e estivesse esquartejado, sua natureza em nada diferia da minha. Quem sou eu, se não a podridão? O cheiro dele é igual o de minha natureza. O estado físico de destruição é de igual modo semelhante a minha psique. O fato de estar morto há muito tempo só me lembrava, igualmente, que eu estava tão morto quanto ele há tanto tempo que não me lembro. Tão logo aproximei-me e pus-me a prosear com tão igualitária criatura.

- Está morto, tal como eu estou morto. Teu fedor repugnante assemelha-se a minha própria repugnância. Minha natureza é de igual repugnância a sua natureza. O abandono em que se encontra em nada difere-se do meu. Para ti, a condução política e cultural em nada representa, em nada promove. Sinto-me, então, igual a ti. Você não pode acreditar no amor, já que não está vivo. Eu, estando igualmente morto, não acredito igualmente no amor. Não pode ter amigos e nem ligaria de ter um amigo, tal como eu. De certo modo, afastei-me de todos aqueles que eram meus amigos apenas para nada mais sentir e, nisso, assemelho-te a ti que não tem amigo algum. Em certo tempo, também acreditei na relevância da vida e em como todas as ideias que sucediam em minha cabeça tinham algum grau de relevância graças o valor incalculável de minha vida humana. Hoje sei que sou tão irrelevante quanto qualquer outra coisa morta e que nenhum vivo tem valor. As ideologias não me encaixam, as religiões não me causam júbilo. O abraço confortante nada mais é do que uma doce ilusão de dois corpos que se encontram equidistantemente. A singularidade humana não pode ser compreendida por outra singularidade humana, toda comunicação nada mais é do que um monólogo falho.


Logo pararia de falar com meu mais novo amigo. Volvi para casa. Onde passei a ler até que o sono tornasse a leitura impossível. Passar duas semanas longe de meu companheiro cadavérico deu-me uma sensação estranha. Os homens, as mulheres, toda a humanidade viva me era tão estranha quanto nociva. A mera ideia de que um coração batesse me causava desconforto, isso se não me causasse nojo. O próprio fato de meu coração ainda bater me causava desgosto. Olhar os outros seres vivos só me deixou um único pensamento, na qual sintetizo numa curta frase: "Eles não eram tal como eu". Mesmo estando atomisticamente presos em si mesmos, incapazes de adentrarem em substancialidade total com outro ser, prendiam-se nas ilusões vãs de que era possível se conectar com o mundo exterior. Não há mutualidade no mundo, toda comunicação é uma inutilidade. Engana-se quem crê que há compreensão, que há gradação de proximidade, que o íntima revela-se a quem se aproxima. Tudo está separado, eternamente separado. Mas como, como só eu me dava conta disso? Eles não podem perceber? Eles não podem ter consciência? Se um time de futebol ganha, nada ganhou. Se um político se elege, nada se elegeu. Se há uma alegria após o orgasmo, é apenas um prazer efêmero gerado pela própria face animalesca do que sobrou do bestialogismo humano não totalmente humano. Humanizar-se é dar-se conta de que a vida é como um grão de areia, uma poeira sem valor a movimentar-se de acordo com a influência dum vento. Ao menos a própria razão conduz a percepção da niilitropia em que vivemos e o que distingue a humanidade é a faculdade da razão. Racionalizar é humanizar-se, humanizar-se é perceber-se nulo e, então, niilificar-se. Para percebermos o quanto somos sordidamente sós, basta que entremos num ônibus e dar-nos-emos conta de que não temos íntimo contato nem em nossa locomoção por esse torpe mundo.


Eu senti, eu senti que deveria voltar ao terreno baldio. Eu não pertenço a esse mundo das entidades móveis. Todo esse movimento me é estranho. Vida é aparência e o reino das aparências não pode ser factual. Eu sou tão inexpressivo, irrelevante, podre, sem valor, quanto um morto abandonado. A morte é imóvel, logo não é aparente. Não consigo achar inteligível qualquer sociedade viva. Tive que voltar para o terreno baldio. E uma surpresa tive ao voltar: a minha pequena sociedade secreta aumentou. Mais dois corpos dispunham-se ali, como a ter um descanso dessa ausência de sentido unificada na qual a humanidade se move. Ali, eu e mais três cadáveres, sabíamos irrelevantes e vazios. Todos niiliabsortificados pela despertar da consciência do átomo. Não falarei dos sexos de meus companheiros. O que é o sexo se não uma superficialidade para quem se encontra morto? Deixemos as vanidades dos vivos para trás. Vivamos a morte e o esquecimento. Eu lhes devia um discurso inaugural. Devia-lhes um acolhimento cadavérico. Logo, pus-me a falar.

- Felicito-lhes pela morte. A morte é a única que proseia com Sócrates e Dante. Os vivos acham-se acima dos mortos, só que não possuem qualquer similitude conosco. Eles desprezam os esforços dos ancestrais e negam-lhe a possibilidade de discursar. Acreditam que o fato de estarem vivos lhe torna especiais. A vida é efêmera. A ciência moderna está a provar que a vida na terra é um mero acidente, onde não há criador algum. Sem criador bem-intencionado, sem sentido próprio condicionado, sem nada que valha a pena para se viver, somos todos nós átomos a rondar um espaço sem capacidade de expressar o vazio em que nos encontramos. Morrer é despertar para a realidade e até mesmo para eternidade. A realidade é tão morta quando pode ser. Deixemos que os vivos aproveitem a curta vitória de suas eleições, as modas de pensamentos que morrerão, os prazeres efêmeros que logo acabarão, a sensação vaga de amor eterno que logo despedaçar-se-á. O aborto é o mais feliz dos seres, já que ele passa para eternidade da morte sem conhecer as ilusões da efemeridade da vida.


Com o tempo, passei a frequentar o terreno baldio com mais assiduidade. Deitava-me lá, esforçava-me para matar dentro de mim qualquer pensamento. Queria ser tal como um morto, um verdadeiro morto. Havia dentro de mim uma pulsão de natureza nirvânica que eliminava toda e qualquer energia mental dentro de meu aparelho psíquico. De que necessidade teria eu de pensamentos? De sentimentos? O esforço negativo leva a sonegação desses vãos alvoroços causados pelo efeito ilusionista da vida. Não comunicar-se com ninguém era meu deleite. Abandonar toda e qualquer possibilidade de amizade. Matar em mim qualquer ânsia por movimento e qualquer noção vaga ainda reminiscente da possibilidade de "calor" humano. O que move os vivos? A vida é uma existência numa caverna. O calor humano nada mais é o que alimenta as projeções das sombras ilusórias que são confundidas com a verdade ou a realidade. Tendo em conta isso, o cheiro podre deixou, com o tempo, de me importar. Cheiro nada mais é do que outra vaidade das ilusões dos vivos e suas maquinações ilusionistas. Mesmo quando os cadáveres aumentaram, eu me sentia como um deles e tudo que eles tinham era, para mim, de máximo valor e não de ojeriza.


Acreditava piamente na ideia de que o esforço anulativo era melhor que o esforço criativo. A estabilidade pertence ao reino do descanso e o reino do descanso pertence a morte. Esforçar-se para atenuar qualquer possibilidade de esforço, tirar da mente as ideias que tiranizam, afastar-se de qualquer "calor humano". Tudo isso, nirvanicamente enquadrado e enfatizado, torna-se num deleite sem o qual não poderia mais conjecturar o estado não vívido em que me encontrava. Adaptar-me a morte era o compromisso principal a qual me sujeitava. Imitando os mortos aprendi de fato ao destino comum que me era destino e glória. Pena que, tal deleite, provar-se-ia incapaz de durar para todo o sempre. Esqueci-me de que era ainda vivo e, como vivo, poderia ser perturbado por essa ordem caótica que se cria pela vaidade. Fui acordado por um estranho homem.

- Por que passa tanto tempo aqui?

- Gosto de me deitar e pensar que também estou morto.

- Por um tempo, pensei em te matar também.

- Eu já estou morto.

- Não entendo, nem sei se quero entender. Para mim, é simplesmente um louco. A única pergunta que tenho é: não me denunciará?

- Pelo o quê? Por ter libertado essas pessoas das ilusões criadas por Demiurgo ou pelo vazio ou seja lá pelo que tenha criado ou não esse mundo? Viver é uma ilusão. Todo reino de matéria nada mais é do que um aprisionamento na falsidade. Nada aqui faz sentido e tudo que há é um grotesco monumento confuso e assimétrico.

 

O homem simplesmente parou de me encarar. Pegou o seu saco preto e soltou mais um corpo morto. Certamente ele era o assassino de meus companheiros. De qualquer modo, essa informação me era tão irrelevante quanto tediosa. Ele era só mais um vivo. Todavia não pude deixar de felicitar meu novo companheiro:

- Seja bem-vindo, meu partidário.

- Do que está falando? - perguntou-me o serial killer.

- Não falo contigo, falo com o morto.

Olhando-me com estranheza, o homem simplesmente foi embora. Era um vivo e, tal como um vivo, não poderia compreender um partidário da morte. Nem sei se posso falar em "partido". A ideia de que há "parte" e não "todo" pertence a essa diferenciação do reino da necessidade. O partido, seja qual for, nada mais é do que um defeito na capacidade de pensar. Na totalidade, em que só os mortos estão, não há "partido" algum. Tudo se encontra e tudo está encontrado. Não sei se a felicidade do assassino consistia em matar. De qualquer modo, matar é um prazer tão sem graça e efêmero quanto qualquer outra vaidade que constitua a vida. Todo prazer de um vivo é um prazer efêmero, impróprio a capacidade eternalística que tem a própria morte. Não o condeno, toda atividade viva me é indiferente. Qualquer movimento me é estúpido. Que diferença me faria se ele fosse padeiro, açougueiro ou um simples pescador? Tudo isso é vaidade. Mesmo o assassino compulsivo tem o gosto de matar. Trazer pessoas ao mundo eterno da morte causa-lhe prazer. É um esforço idiota, tal qual todo esforço vivo. Tão sem valor, tão sem importância quanto qualquer coisa viva.


Meu bem-estar não durou tanto tempo. Minha única felicidade, que me conectava com o mundo transcendental, foi-me privada. Acabei por ser pego por um policial e colocado numa viatura de polícia. Não tardou que eu fosse investigado. Todas as vezes negando a mera hipótese de que tenha sido eu o assassino. Respondia vagamente que também era um morto. Achavam que eu era insano, simplesmente insano. É justamente o contrário: eles é que são insanos. Fiquei dias na cadeia, esperando e sonhando com minha volta ao terreno baldio. Pensava em me matar todos os dias. Isso não me era ruim ou depressivo. Eu simplesmente amava a ideia de me ver morto. Morto e liberto. Toda essa sucessão de ideias e gosto pela proximidade com a morte durou até que o assassino foi pego. O estranho homem confessou todos os crimes. Além de que, em sua casa, foram encontrados vídeos de tortura e assassinato de todas as pessoas que matou e que estavam no mesmo terreno baldio que eu. Ele ganhava dinheiro torturando pessoas ao vivo. Uma investigadora, antes de me soltar, fez-me a sua última pergunta:

- Se você não era o assassino, o que fazia ao lado dos corpos assassinados? É isso que ainda não pude compreender com totalidade.

- Ora, minha cara, eu apenas olhava para a minha própria natureza.

domingo, 25 de setembro de 2022

Acabo de ler "O que deu errado no Oriente Médio" de Bernard Lewis

 



Há muito tempo atrás, a civilização islâmica era o cume da civilização. Uma sociedade de liberdade, ciência e criatividade. Os ocidentais, sobretudo cristãos, importavam os conhecimentos dos seguidores de Alá. Só que, com o tempo, tudo foi indo ao brejo e o Ocidente ultrapassou o Oriente.

Dizer que toda pessoa do Oriente Médio é muçulmana seria estranho e insensato. Por muito tempo, judeus e cristãos divergentes iam para os domínios muçulmanos para terem liberdade. Essa liberdade era maior que na própria Europa, todavia essa liberdade tornou-se menor na medida em que a Reforma, o Renascimento, as Revoluções Políticas e Industriais tomavam forma no Ocidente. A situação entrou numa inversão: os muçulmanos não eram mais donos da ciência e da liberdade, os terrenos cristãos e, seguidamente, pós-cristãos cresciam cada vez mais. O imitado tornou-se imitador.

Como uma civilização que já foi a mais criativa, igualitária e científica pode, então, retornar à glória de outrora? Existem duas vias principais: a dos fundamentalistas que almejam o retorno ao assim chamado islã primitivo e aos dos modernizadores que querem atenuar o poder diretivo da religião - separando "Igreja" e Estado, tal qual no Ocidente. Só que essa separação, em grande parte, nunca existiu no horizonte de pensamento teológico do Islã.

Virão aqueles que pensaram que a escolha por uma separação entre religião e política nada mais é do que submissão política e cultural ao Ocidente. E haverão aqueles que defenderão, com unhas e dentes, uma modernização do debate religioso. De qualquer forma, o destino da alma civilizacional islâmica se encontra em choque e não sabemos o que se sucederá.

Eu posso dizer que não li esse livro, eu o devorei. Tive que ficar durantes horas parado, lendo minuciosamente e adquirindo, com êxtase, as informações que me eram disponibilizadas. Todos os choques culturais me trouxeram, também, a dúvida de como o Brasil poderá modernizar-se ao novo tempo presente. Igualmente aumentei meu grau de empatia e conhecimento sobre a civilização islâmica - que me encanta cada vez mais.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Acabo de ler "Em Defesa do Preconceito" de Theodore Dalrymple

 



O título poderá causar um pouco de estranheza as pessoas habituadas em fetiches verbais nauseabundos das esquerdas e dos liberais - a circularidade que é incapaz de complexificar-se é sempre sinal de tribalização e decadência cultural. E, de fato, é um baita título que causa uma miríade de confusão mental aos intelectuais e acadêmicos vulgares.


Se analisarmos a palavra preconceito, teríamos não uma palavra associada diretamente a LGBTfobia, discriminação racial, não contratação de pessoas com tatuagens, violência doméstica contra mulher, dentre tantas outras coisas. Preconceito é, pura e simplesmente, uma ideia que precede o acesso a uma compreensão mais abarcante da realidade. Por exemplo, dizer que a ciência moderna se assenta na falseabilidade de Karl Popper sem entender a razão não é nada mais, nada menos que preconceito. 


Uma sociedade é boa na medida em que tem bons preconceitos. Dizer a uma criança que ler um livro vale mais do que passar horas vendo Tom e Jerry, mesmo que você mesmo não seja capaz de ler uma "Crítica a Razão Pura" não é nada além do que um bom preconceito. A ideia de não misturar bebidas caso não queira ter um porre, sem uma explicação bioquímica, é igualmente um preconceito. Uma sociedade que diz: "procure conhecimento pela ciência", mesmo que não seja uma sociedade em que todos os membros são cientistas, nada mais é do que um bom preconceito.


É preciso ter em mente que o debate sobre o preconceito pode trazer preconceitos melhores ou piores. A ideia de mistitifacação e desmistificação trouxe algo além da superação duma mentalidade supersticiosa, trouxe igualmente a incapacidade de compreender a complexidade de um mito e a sua importância ao conhecimento. Além de ter trazido uma crítica que se arroga dum analfabetismo metodológico pra atacar livros religiosos com interpretações literais. Quem nunca se deparou com alguém que leu a Bíblia e entendeu que Adão e Eva estavam literalmente nus em vez de saber que a vestimenta era um discurso moral falseado (fenômeno da racionalização em Freud)?


Theodore Dalrymple é, simplesmente, um dos maiores ensaístas da contemporaneidade.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

150 VÍDEOS NO CANAL!

 



Hoje atingi a marca de 150 vídeos postados. Quero muito transformar o canal num divulgador dos mais amplos discursos, com uma variedade imensa de doutrinas, religiões, ideologias e afins. Não é uma tarefa fácil, só que estou me tornando a cada dia mais apto para o combate.

Claro que atualmente o canal (Latir contra os Grandes) não é tão diverso quanto deveria, só que farei de tudo para dar um maior balanceamento. O objetivo de ter um pancânon ainda é a suprema causa do canal. Devo lhes dizer que sonho em narrar coisas desde que era um pré-adolescente viciado em creepypastas. Jurei que um dia teria um canal de narrações.

A propósito, foram postados vários vídeos hoje. Eles variam entre marxismo, islamismo e anarquismo. Há uma poesia do sufi Rumi, artigos do Stálin e um artigo selecionado do anarquista Proudhon!

Ouça no YouTube:
https://youtube.com/channel/UChS1QmDXtyHvJktE9NlwAYw

Ou ouça no Spotify:
https://open.spotify.com/show/21nTtV7hSGnS9Q4pEvUwr5?si=nOxn2dnZT3epj-wOZBRHjg&utm_source=copy-link