Há um buraco no meu peito amargo. Há um buraco que ninguém mais vê. Ninguém mais vê, ninguém nunca viu absolutamente nada. Ando a sangrar a cada dia, ando padecendo a cada instante. Em cada camiseta, há um sangue invisível escorrendo do meu peito. Eu tenho fôlego, folego o suficiente para caminhar sem coração. Sou esperto o suficiente para dizer que em palavras sutis, vejo conjurações. Conjurações diabólicas do inferno que são os outros. Tudo que quero hoje é chorar, tudo que quero hoje é esquecer até da mais feliz reminiscência, já que mesmo nelas me mergulho em ressentimento.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
Há um buraco no meu peito!
sábado, 22 de janeiro de 2022
Você já conhece o estilo gamer Sergio Moro?
Vamos lá, em primeiro lugar, temos que nos ater as mãos: elas devem estar invertidas. Jogar com mãos invertidas pode parecer um erro, mas demonstra habilidade fora do comum. Imaginem só: "eu sou tão bom que jogo com o controle invertido". Essa é uma imagem de segurança e demonstra uma postura de quem enfrenta inimigos com as mãos nas costas em meio a porradaria.
O segundo passo? Mensagem nacionalista. Além de jogar bem, a ponto de usar mãos invertidas, você precisa demonstrar que tem uma forte paixão pelo Brasil. Coloque uma mensagem nacionalista. Diga o quanto ama o Brasil e quanto quer defender ele. Só que você não é um defensor qualquer, você é o defensor das mãos invertidas. Você tem garra, coloca uma dificuldade pra si mesmo apenas para demonstrar mais poder e desdenhar os adversários.
Em terceiro lugar, coloque uma mensagem para algum inimigo ou opositor. Só que demonstre que você é inteligente, que manja das referências simbólicas da cultura gamer e junte-as a realidades políticas locais. Desse jeito, haverá um desaforo sutil, próprio de pessoas inteligentes.
Esse foi, meus caros, o método gamer Sergio Moro.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2022
Acabo de zerar Zelda Skyward Sword no Wii
É difícil expressar com palavras do quanto me sinto ao terminar esse belo jogo. Apesar da maioria das pessoas dizerem que o Wii é/foi um console fraco, é possível ver que ele trouxe beleza inigualável perante os adversários de sua época - e nisso há uma velha frase de Dostoiévski demonstra toda razão (ou seria o amor?) do mundo: "a beleza salvará o mundo".
A Nintendo nesse jogo se esforçou em cada detalhe, não que seja o jogo perfeito, mas é um jogo extremamente belo. Chega a ser mais bonito que muitos jogos de Xbox 360 e PS3. O que a Nintendo não podia fazer por hardware, fez por esforço. Eu nunca cansei de notar, enquanto estive jogando, em cada esplêndido detalhe.
É um jogo difícil, requer muitas pausas e demora-se pra chegar em uma conclusão em vários momentos. Demorei mais de 50 horas pra zerar o jogo, foi árduo o meu esforço. Mesmo assim, o jogo é mais que um jogo, é uma experiência poética, é uma experiência mística. Resolver os enigmas, pensar logicamente, dar o enquadramento certo na espada, pensar e pensar de novo e de novo. Sim, é exaustivo, só que infinitamente recompensador. O próprio Ganon - vilão principal - reconhece isso em palavras mais ou menos assim: "você é um exemplar de sua espécie".
Wii é um dos meus consoles favoritos, desde que o comprei, só me vejo satisfeito. Jogos como Mario Galaxy e The Legend of Zelda Skyward Sword ficarão marcados eternamente em minha memória. E digo isso sem eufemismo algum.
Acabo de (re)ler "Há um outro mundo" de André Frossard
Ser cristão, no mais íntimo e profundo sentido do termo, não é crer meramente que o mundo se afastou de Deus pelo pecado. É crer, no mais angustiante desespero desconsolador, que tudo será salvo. É ver o mundo em ruínas, não só permanecendo de pé, mas sorrindo numa densa chuva sem fim, é preciso sorrir até no dilúvio, já que Deus é bom. Não abalado e niilificado com a presente derrota, e sim com a íntima certeza que esse mundo de dor e sofrimento, que esse vale de lágrimas, está em estado gestacional e o que vem depois é mais do que o progresso, é o paraíso. Lá, após toda dor, tudo fará um sentido e se terá uma conexão tão grandiosa, que tudo será perdoado. Mais do que perdoado, tudo será salvo.
Embora hoje não se possa dizer o mesmo. Embora hoje a contradição e a escravidão do ser sejam a norma. Embora hoje não há como dizer que o "Senhor é meu Pastor", já que hoje só se pode dizer: "Por que me abandonaste?". Todo esse sofrimento sem fim, esse mundo líquido de areia movediça sempiterna, esse desconsolo que arrasta o sofrimento em um constante holocausto, em constante desemprego, fome e miséria. É preciso crer num novo ser, ser esse que não é o cidadão perfeito duma utópica sociedade comunista ou duma sociedade conduzida por uma suspeita mão invisível. É preciso crer num novo Céu e numa nova Terra. Num Céu que se faz Terra. Numa Terra que nunca se desconectou e nem mais se desconectará do Céu. Mesmo que agora só haja o império da vaidade. Mesmo que agora só haja o retorno ao pó.
O mundo leva a crer que Deus não existe. O próprio afastamento de Deus o leva. Tudo leva a crer na escravidão da Serperte. O próprio enigma da Serpente é prometer o que já se tem, para se tirar o que se tinha. Só que um dia haverá um mundo, um mundo que não é desse mundo, só que nesse mundo se revela e se faz. Mesmo com tudo isso, mesmo com perene depressão, mesmo com hipotetéticos paraísos revolucionários ou reacionários. Devemos seguir em frente com esse paraíso que é gerado, a cada dia, em direção ao Reino Celeste. Mesmo que agora não o haja, mesmo com a razão condenando qualquer hipótese do milagre nesse vale de lágrimas.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2022
Diários Cadavéricos #4 - Não há oscilação e nem angústia
Acabo de adquirir "Outono na Idade Média" de Johan Huizinga.
A Idade Média é, no Brasil, mal estudada e mal-amada. Na verdade, é vista até mesmo com o mais vigoroso desdém. É como se ela fosse um compilado de crises que, no geral, fazem um grande megazord perverso de caos, ignorância e destruição. Hoje, tal visão, entra em crise com as fontes mais diversas do novo estudo histórico - não sem, é claro, atacarem tal nova perspectiva de revisionismo. E a pergunta que se cai é: a Idade Média foi um tempo de pura treva ou pura luz? Talvez a resposta desaponte ambos os lados.
Não muito tempo atrás, postava-se um vídeo em que uma mulher dizia que 1 + 1 era igual a 2 e, por ser mulher, era condenada pela Igreja. Já um desenho muito famoso, direto da Netflix, dizia: "como se atreve trazer a lógica para casa de Deus?". Animes de todos os tempos não se deixam levar por qualquer debate saudável e tão logo adentram na lógica circular de que os medievais eram apenas burros e fanáticos. Os mesmos medievais, construtoras de catedrais, eram tidos como burros. Seus métodos de argumentação, cheios de vaivéns e alta abstração, igualmente são condenados. Se medievais são burros, como ousavam ser tão pedantes? A resposta, é claro, é igualmente dúbia: eles eram burros e, por outro lado, eram igualmente pedantes. Gozam, contraditoriamente, de um pensamento extremamente abstrato - típico de pessoas altamente intelectualizadas - e de uma burrice extremamente ignara.
Todo mundo salta de dúvida: ora estamos dizendo que a Idade Média viu o florescimento das universidades, ora dizemos que o florescimento científico foi atacado. E para tal "fato" (ou seria factóide?) se fala da condenação de Galileu à morte... Que, adivinhem, nunca ocorreu. Galileu foi condenado a prisão domiciliar, morreu de velho (morte natural). Agora outra dúvida que salta aos olhos: toda forma de ciência foi condenada, de modo absoluto e inigualável, sem tirar e nem pôr por dogmas, já que dogmas são literalmente impostos do nada, não? Não, não é bem por aí. Existem dogmas que demoraram milênios de discussão para serem feitos e quiçá milênios ou séculos não sejam algo que sejam "tirados do nada".
quinta-feira, 6 de janeiro de 2022
Acabo de ler "Harry Potter e o Cálice de Fogo" de J. K. Rowling
"– Se eu achasse que poderia ajudá-lo – disse Dumbledore brandamente –, mergulhar você em um sono encantado e permitir que adiasse o momento em que terá de pensar no que aconteceu esta noite, eu faria isso. Mas sei que não posso. Amortecer a dor por algum tempo apenas a tornará pior quando você finalmente a sentir"
Dumbledore
Uma das grandes razões de muitos detestarem Harry é a sua pouca aptidão mágica quando comparado a outros personagens que chegaram até inventar magias. Harry é mal considerado se terem vista Snape ou o próprio Dumbledore, ou sua amiga Hermione. Só que o poder não basta, a ação moral no mundo vale mais do que bastante poder, já que bastante poder na mão de alguém que não é idôneo leva a um uso trágico desse mesmo poder. A ação moral de Harry vale mais do que mil e quinhentas magias de Voldemort. O protagonismo de Harry é ser idôneo e reto, isso faz ele "valer" mais do que os outros.
Algo que é dito pelo Dumbledore na "Câmara Secreta": "São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades".
Nesse livro, vemos o mundo de Harry cada vez mais adulto. A complexidade galopa de ritmo conforme a história avança e já era esperado que o quarto livro fosse mais adulto e detalhado que os livros anteriores. Esse papel é rigorosamente exercido e a trama é tão boa e os eventos se enquadram de tal forma que parecem até mesmo um roteiro policial. As conexões demonstram a inteligência da autora que é capaz de fazer engendrar pequenos detalhes num corpo cada vez mais bem estruturado. Poder-se-ia dizer-se que há uma sofisticação cada vez mais interessante e que não tira em nada o gosto da leitura, pelo contrário: dá mais gosto ao leitor.