quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #8 - Breves Notas Sobre Tudo

Texto publicado em  25/08/2018


Relutei em escrever esse texto, todavia achei-lhe absolutamente necessário. O Brasil vem passado por um incessante movimento de politização. Usualmente tendo a não expressar a minha visão política e, quando eu chego a expressá-la, expresso-a relutante e timidamente.


Sou uma pessoa que está em grupos políticos dos mais variados gostos. Meu facebook é, verdadeiramente, uma diversidade filosófica e ideológica ululante. Acontece que, após ver e ler séries de repetições argumentativas rasas, fiquei decepcionado com a rasura e incapacidade crítica de meus queridos amigos/colegas virtuais. Claro que alguns destemidos salvam-se perante esse caldeirão de lodo.


Também relutava em criar qualquer texto durante a minha jornada de retiro intelectual, todavia não estava aguentanto a atmosfera tenebrosa que provejetava-se em minha querida rede social. Era evidenete também as consequências que essas movimentações também faziam no mundo real.


1. O NTC

O NTC é uma sigla composta por três nomes: nacionalismo, tradicionalismo e cristianismo. Juntei-as pois os seus simpatizantes e ideólogos caracterizam-se por uma condição: o desprezo a modernidade e tudo aquilo que a modernidade representa.


Os nacionalistas não odeiam a “modernidade” ao todo, mas têm certo desprezo dela por causa de sua incapacidade de respeitar as barreiras territoriais, por causa de sua incapacidade de preservar a diversidade cultural, por causa de seu desrespeito as tradições – e, nisso, acham apoio dos tradicionalistas. Os tradicionalistas fazem por motivos razoavelmente parecidos com os nacionalistas, embora mais focados na tradição de seu país. E os cristãos, nesse balaio, acham que a moral cristã, que querem impor a todos, está sendo substituída por uma moral anticristã.


Há também um movimento cristão católico que defende a criação de um Estado confessional – leia-se: Estado declaradamente católico. O mesmo Estado favoreceria a Igreja Católica. O Estado também seguiria a moral católica. Isso, é claro, é um devaneio teocrático reacionarista. A verdade é que o movimento cristão católico – tradicionalista assumido ou não – defende algo que seria muito similar ao que acontece em países islâmicos, só que de maneira cristã. Nisso há uma divisão entre os católicos não-integralistas e integralistas, que defendem quase a mesma coisa só que de maneiras diferentes. Há uma rixa entre eles. Existem católicos que defendem que o integralismo é uma doutrina herética, isso são outros quinhentos e não vou me delongar nesse assunto.


Antigamente, havia uma divisão clara entre o nacionalista e o patriota. Hoje em dia há uma confusão. O patriota, em seu emprego terminológico antigo, era uma pessoa capaz de amar o seu país e respeitar o que pessoas de outros países também sentiam pelos seus países; o nacionalista, no passado, era tido quem amava seu país e aceitava qualquer decisão do seu país sem titubear, o nacionalista não conseguia compreender o que pessoas de outras nacionalidades sentiam pelos seus países. Como essas duas empregações terminológicas estão ultrapassadas, prefiro não usá-las aqui.


Quanto ao Brasil, sou pragmático. Prefiro uma economia que seja sustentável, capacitada de fornecer um bom padrão de vida e que dê um bom desenvolvimento tecnológica do que uma fortemente pautada pela defesa irracionalizada dos bens nacionais. Para que eu não seja mal compreendido já digo que sou centrista. Defendo um papel atuante do Estado, só que de forma pragmática e não conduzida por motivos ideológicos maniqueístas.


Sobre a questão tradicionalista e cristã. Oponho-me aferradamente, mesmo que eu seja cristão. Compreendo a separação entre o Estado e a religiosidade, também não defendo a forçação de tradição. Nesse sentido, compreendo que o cristianismo e a tradicionalidade devem serem postas opcionalmente e não forçosamente. É preciso que elas apresentem-se como uma escolha boa e não como uma obrigação feita por meio da coerção que é imposta.


2. O Movimento da Renovação Cristã/Católica Carismática

Antes de começar a falar da RCC, já aviso antecipadamente que não sou um defensor ferraz da “Santa Tradição” e que reconheço alguns méritos da RCC. Tenho uma certa ogeriza e rivalidade para com o movimento carismático. Apesar de muitos de meus amigos saberem disso, muitos não o sabem. Isso acontece também por minha culpa, toda vez que me manifesto sobre o movimento carismático acabo por fazê-lo timida e concisamente.


As minhas razões são simples. Em primeiro lugar, há a presença de técnicas hipnóticas feitas nas orações conduzidas pela RCC, há quem defenda isso como perfeitamente moral e que a hipnose é aceitável nesses casos; mas eu sou contra pelo fato de que a maioria dos frequentantes desses locais não sabem que há técnicas de hipnose no meio de tudo isso e, desse modo, não são capazes de opinar a respeito. Em segundo lugar, a RCC torna o cristianismo em um sentimentalismo vulgar, esquecem-se das meditações existênciais propostas a todos os cristãos e, por conseguinte, tornam o cristianismo em algo que os intelectuais riem apaixonadamente.


Em todo esse movimento de sentimentalização do cristianismo, o velho lema “fé e razão” tornou-se um passado reacionário e não um guia para todo cristão basear-se não tão somente na fé, mas também na boa utilização da razão. Um dos efeitos mais notáveis dessa sentimentalização é criação de cristãos incapazes de refletir, cheios de si e que são ridicularizados pelos mais densamente intelectuais. Muitas pessoas que buscam esperançosamente a salvação, encontram um cristianismo bobo alegre e sentimentaloide que lhes causa nojo e afastamento.


3. Olavo de Carvalho

Há muito tempo atrás, criticava ferrenhamente o dito cujo. Todavia não tinha estudado a sua obra. Após ler dois livros dele e estar lendo o terceiro nesse momento, vejo que a maioria das críticas que o autor recebe são estúpidas e, até mesmo, inválidas. Reconheço que Olavo é uma pessoa extremamente inteligente, que possui uma estilística insuperável e uma capacidade de argumentação superior a maioria gritante de seus odiadores. Acho-o um autor extremamente agradável de se ler, embora não concorde com tudo que ele diz. Efeito semelhante ocorre com Chesterton, pelo qual também nutro grande admiração intelectual.


4. Pós-Modernos

Nos últimos tempos, tenho lido alguns autores pós-modernos. Incluindo aí autores pós-modernos nacionais e internacionais. Noto que, quando os leio, vejo muita coisa apreciável e, é claro, uma inteligência ilustre. Consigo gostar tanto dos progressistas pós-modernos quanto gosto dos conservadores que leio. Isso me torna meio termo e em cima do muro.


Todavia é-me odiável a maioria de sua militância – tal como é, similarmente, meu ódio a militância conservadora. Há uma vulgaridade, irracionalidade e tribalidade em toda militância, por isso grande parte é constituída por estúpidos homens-massas.


5. A Democracia

Já odiei a democracia de dois modos: como um totalitário e como um libertário. Hoje em dia, ponho-me na defesa dela. Posso dizer que acredito agora na pluralidade de visões, religiosidades, partidos políticos, culturas e tudo o mais. Não substituiria isso por nada.


O movimento antidemocrático concebe-se da incapacidade de muitos brasileiros em estudar e aprender visões divergentes das suas. Essa acusação vai e é perfeitamente cabível para todos os espectros políticos. O problema do Brasil não é a democracia, é a falta de esforço intelectual em aprender a estudar e aprender sistematicamente diferentes escolas de pensamento. Quando houver tal esforço intelectual por parte de nossa população, a maioria das implicações religiosas, políticas, econômicas e intelectuais dissolver-se-ão.

Prelúdios do Cadáver #7 - Uma Reflexão-Desabafo de um Millennial Cansado

Publicado em 31/07/2018

 

Muitas vezes, pego-me pensando na realidade vivencial de meus colegas. Acabo por sofrer um processo de distanciamento do quadro social em que, supostamente, estaria devidamente encaixado.


Trabalhei por cerca de três meses numa associação que envolvia bastante militância política (no movimento negro). Havia uma coletividade ululante dentro de lá. Tudo era um arcabouço de crenças comuns, intelectuais comuns, ações comuns e gostos comuns. Todo movimento conduzia a uma uniformização para com a coletividade. Tal situação fazia com que o meu psicológico deteriorasse e que eu me sentisse totalmente deslocado naquele lugar que, perdoem-me o termo, mais parecia um hospício ou um recanto de bárbaros.


Mas tal movimento de coletivização e destituição da personalidade não é só presente em grupos organizados presencialmente. A mesma é possível dentro de ambientes que encaixam na chamada sócio-virtualidade. Vejo sempre grupos sócio-virtuais criando uma tribalização que sufoca toda individualidade de seus membros. E, quando me deparo com tal situação, acabo por sair de todos esses grupos. É muito comum que nesses grupos aja sempre uma grave repressão para qualquer entonação discordante.


Para mim, é muito claro que a maioria das pessoas que falam sobre criação da personalidade falam de forma mentirosa ou ingênua (para não dizer burra). Usualmente a formação da personalidade dá-se numa adequação a um dado agrupamento que suga a personalidade da pessoa e insere-a numa personalidade coletiva: assim é no movimento negro, no movimento LGBT, no movimento feminista e, em muitos casos, em movimentos religiosos (mais seitais do que religiosidade) e "conservadores" (com aspas para afastar do verdadeiro conservadorismo).


Para muitas pessoas, uma pessoa só possui "personalidade" quando se assume como mulher, negro, LGBT, hinduísta, asiático e passa a viver numa luta histórica e contemporânea entre seus iguais. Tal crença contraria a própria personalidade pois a mesma depende de seu aspecto individual, de sua autoconsciente e capacidade de delimitação e de escolhas próprias.


Surpreendendo-me com tais casos acabo por me afastar da maioria dos agrupamentos sociais; todavia é-me bastante comum ser surpreendido com críticas de pessoas que, ao inserirem-se em minha rede social ou em minha vida, acabam por me repreender por algumas atitudes. O que sinto e o que posso sentir é: um misto de medo e enojamento. Há também uma tristeza em ver pessoas com tanto potencial que se abdicaram de sua própria existencialidade para viverem em nome duma coletividade.


De qualquer forma, desculpem-me por atordoá-los com um assunto para lá de maçante. Espero que, todavia, tenha lhes dado alguma felicidade ou identificação para com o assunto (se é que isso é possível).

Prelúdios do Cadáver #6 - Olá, meus queridos companheiros

Texto publicado em 23/07/2018

Desculpem-me atordoá-los nesse dia inebrio, mas uma ideia nauseabunda floresce em meu peito amargurado.


Essa sensação começou aos quatorze anos e foi progredindo paulatinamente. Conforme eu adentrava no mundo literário, a minha relação para com a socialidade afogou no deslocamento. Contar-lhes-ei tudo ou quase isso.


Muitos dizem que a literatura é uma forma de fugir da realidade. E, para mim, ela é exatamente isso: uma forma de salvação redentora que tira o indivíduo da realidade na qual o mesmo está sujeito. Sempre achei a maioria das pessoas desinteressantes ou vulgarmente simples -- embora que, evidentemente, alguns afirmem que há uma complexidade inabalável em cada sujeito vivo ou morto.


Tornei-me um misantropo. Há uma progressividade misantrópica na qual eu me afundo mais e mais. Já me recomendaram sair de meu abstracionismo, mas toda vez que saio acabo por me decepcionar. Como odeio a realidade, acabo por me isolar em universos ficcionais de meu agrado. Parece que continuarei assim até eu findar minha existencialidade.


O mundo é fútil. As opiniões gerais me enojam. Os jornais são um câncer. A televisão é o inferno sendo transmitido ao vivo e a cores. Meus conterrâneos são entediantes. A sociedade despreza-me e eu a desprezo igualmente. Eles, as pessoas que constituem o corpo social, odeiam meu modo de ser e eu odeio o modo de ser deles.


Ainda mantenho certas coisas que me permitem uma certa normalidade e contato com o mundo ao redor. Tenho um perfil no cancrolivro, mas enojo-o devido a sua capacidade de inserir todo tipo de porcaria. Sei sobre o que se passa em meu país, porém muito parcamente, desinteressadamente e como um objeto que me é de estranheza -- tal como se eu não fizesse parte do mesmo.


Quanto mais leio, mais me afasto. Quanto mais adentro na profundidade, mais estou longe da superfície. Atualmente tenho vinte e um anos. Minhas leituras tornaram-se mais densas e meus gostos mais dotados de especificidades.


Quanto mais vejo meu futuro profissional, mais me vejo um solitário. Mesmo trabalhando, frequentando faculdade e tendo que me relacionar obrigatoriamente com outras pessoas: mais me vejo só. Não me sinto infeliz com isso, muito pelo contrário: fico felicíssimo.


Pois bem, meus senhores, essa é a minha história. Gostaria de saber se essa pequena história também faz parte da vida dos senhores e, se possível, adquirir relatos semelhantes.

 

Desculpem-me atordoá-los nesse dia inebrio, mas uma ideia nauseabunda floresce em meu peito amargurado.

Prelúdios do Cadáver #5 - Eu já não leio Karl Marx

 Texto publicado em 23/06/2018


Há quem veja a história como um eterno círculo a repetir-se. Há quem veja a história como uma continuidade progressa. Outros veem como uma continuidade regressa. Particularmente, creio nas três visões. Todavia não sou um historiador, sou apenas um jovem adulto tentando entender o mundo.


Fumei um cigarro agora há pouco. Fumei na oitava série. Fumei no ensino médio. Fumei na faculdade. Parei de fumar várias vezes. O cigarro, quando entrou em minha vida, era um ineditismo. Agora é um recomeço e uma continuidade. É também um regresso para minha saúde. É o chamado eterno retorno. Voltar a fumar é meio ruim. Odeio o cheiro, mas logo deixarei de senti-lo. O cigarro é-me uma figura intermitente.


Tudo volta. Tudo volta sobre novas formas. E sei que sempre voltarei ao que outrora eu era. Tudo isso sobre um misto de nova forma e velha forma. Pois tudo volta e há de voltar.


Eu já não leio Marx. Fui irradiado com uma alienação burguesa e agora só me importo com a beleza das flores. Como eu poderia ler Karl Marx? Se o amargo café anima meu ânimo. Se a beleza das cores embeleza o mundo. Se os filmes de drama fazem meu ser chorar. Como eu poderia ler Karl Marx? Sou um alienado, um sentimental, um eterno romântico condenado. Eu já não tenho razão! Eu só tenho a chama da paixão!


Despolitizei-me: tornei-me o que eu era antes: um alienado político, um amante da vida, um apreciador dos sabores, um pequeno-burguês. Sou aquilo que meu antigo eu desprezaria, logo serei aquilo que meu novo eu desprezará. E assim vou: como um renegado que sempre reconstrói-se negando-se e aceitando-se.


Por que é tudo assim tão confuso? Não sei. Só sei que é sempre assim e assim sigo meu rumo: numa metaformoseação sem fim.


Prelúdios do Cadáver #4 - Sinto Raiva

Texto publicado em 16/06/2018


O tempo passa e eu não sei o que estou a fazer de minha vida. A única que venho ficado a sentir, nos últimos tempos, é uma cólera abismal misturada com frustração colossal e com um punhado de letargia zumbificante.


Não sinto vontade de nada. Só sinto a letargia. A letargia devora-me por inteiro. Tenho vontade de ficar parado, deitado ou sentado e sentir a agonia consumir-me por inteiro. O tempo escaparia dolorosa e lentamente. Perguntar-me-ia novamente: “Quantas vezes já me senti assim?” ou “Quantas vezes esse ciclo repetir-se-á causando-me dor e sofrimento?”. Então eu teria as memórias invadindo-me, recordando-me amargamente de toda a minha vivencialidade obtusa.


Tento ler e tento escrever contra a minha própria vontade de nada fazer: acabo por escrever essa porcaria de texto mal inspirado. Tudo que crio é vazio. Tudo que crio é sem sentido. Tudo que crio é destituído de sabor. São criações mortas, criações sem vitalidade. Um produto acinzentado e nojentamente preparado. Tudo isso vem de minha interioridade, tudo isso é o próprio estado de minha interioridade.


Ouço só música cristã e harmônica. A mesma não me traz felicidade, a mesma não me traz alívio nenhum, é uma forma de busca de salvação desesperada. Talvez eu busque um escape mágico. Talvez eu busque fugir de meus pensamentos. Talvez eu busque fugir de mim mesmo. Talvez eu busque simplesmente não aceitar a mim mesmo, esse é sempre meu dilema!


Matar-me-ia se eu pudesse. Estrangular-me-ia mil e uma vezes se necessário. Violentar-me-ia se eu pudesse. Toda a angústia cessaria assim que eu cessasse de existir. Não haveria mais letargia. Não haveria mais ódio. Não haveria mais frustração. Violência autocentrada contra a existencialidade nauseabunda. Morte e desistência da futuridade. Só o adiantamento do fim!


Prelúdios do Cadáver #3 - Síndrome de Underground

Texto publicado em 27/05/2018

Sou um otaku no sentido japonês do termo. Isso significa que sou uma pessoa aficionada em certos assuntos e trato-os de forma inusual. Também significa que sou uma típica pessoa ultra singularizada e que causa certa estranheza. Não me envergonho disso, na verdade: orgulho-me disso, o fato é que ainda não estou tão habituado ao deslocamento. Posso optar por uma vida mais normalizada com assuntos que são de meu puro desinteresse e perder gradualmente minha própria personalidade para viver socialmente ou habituar-me com uma certa dose de solidão e solitude que se confundem e entrechocam.

Na vida social, existem uma série de assuntos comuns que dão a chave para a preservação da sociabilidade. O “problema” é que muitas pessoas fogem desse delimitado número de assuntos comuns. Há um fator duplo: sou solitário quando eu quero e quando eu não quero. Ainda não encontrei a solução para a preservação da singularidade e da vida social.

Em certo sentido, sofro com a chamada síndrome de underground. Não sabem o que é isso? É uma síndrome que faz com que eu desgoste de tudo que é majoritário. Há pouco tempo atrás, eu gostava de política. Gostei de política até a maioria das pessoas interessarem-se por política. Quando vi que a maioria das pessoas começaram a se interessar... Entrei em crise, meu mundo underground entrou em colapso e tive de procurar uma nova identidade. Isso prova que caminho para um dado tipo de singularização voluntária e constituinte de minha personalidade.

Acho que meu destino é ficar saindo do caminho da maioria. É meio solitário, mas não vou negar que gosto dessa solitude. Escreverei sobre isso novamente mais tarde. Sinto que preciso de mais experiência para descobrir no que isso dará. Até lá, nada poderá ser afirmado.

Prelúdio do Cadáver #2 - Cultura e Antipolítica

Publicado em 20/04/2018

Os senhores já perceberem que ao consumir muita cultura o interesse por política arrefece? Mário Ferreira dos Santos dizia que toda grande época cultural era período de decadência política.

Atualmente venho percebido que o meu desinteresse em política aumenta proporcionalmente a cultura que consumo.

Lembro-me que, em carga comparativa, consumia assiduamente muito conteúdo político há dois ou três anos atrás. Atualmente tenho lido GK Chesterton, Dostoiévski, (Coletânea de Poesia Grega e Romana que não lembro o nome), Paulo Leminski (li Castro Alves, Machado de Assis, Cruz e Sousa, Vinicius de Morais e Olavo Bilac) e leio dois mangás (um pelo celular e o outro em mídia física).

Há, ao todo, um movimento em busca de boa cultura e um desinteresse proporcional em política. E a cada dia mais eu me desinteresso em utilizar meu vigor intelectual em jornais ou artigos. Não leio quase nenhuma novidade e sofro duma alienação terrível (mas consentida) em relação a contemporaneidade e os chamados assuntos obrigatórios. Não sofro, todavia, com falta de assunto no quesito social e garanto-lhes que consigo até falar mais e melhor.

Tenho também o novo hábito de fazer atividades físicas e de escrever contos de forma gradual. Tudo isso se reflete numa construção duma vida particular e inacessível a maioria das pessoas. Se os meus conterrâneos vão em direções de assuntos comuns e conhecimentos comuns, eu vou em direção a particularidade e acabo numa forma de isolação.

Quanto mais me interesso por cultura mais percebo que a política é, no geral, desinteressante e que os produtores da chamada "cultura política" são rasos e sem densidade vivencial. E quanto mais vou em direção a cultura: mais a minha subjetividade (vida interior) aumenta enquanto a subjetividade de outrem se coletiviza.