segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "Soda Stereo - La Biografia Total" de Marcelo Fernández Bitar (lido em espanhol)



"Un hombre alado extraña la tierra"


Se há uma banda que confessadamente elevou o rock latino americano a outro patamar: esta foi Soda Stereo. Batendo até recordes internacionais, foi a banda com mais amplo legado sonoro da América Latina. Com sonoridade original e sem medo de um experimentalismo, os integrantes venceram e ascenderam com manobras arriscadas.


O livro vai desde o ponto em que os integrantes arriscavam-se para seguir a carreira musical - que trouxe sacrifícios - até o ponto em que estavam fartos do peso do próprio sucesso. O processo turbulento em que cada integrante da banda não aguentava mais olhar na cara do outro, como uma espécie de divorciados ressentidos.


Há nesse livro a história de construção de todos os álbuns. A vida pessoal de cada um vai transcorrendo e implicações profissionais juntam-se com os mais diversos tipos de questões. O gerenciamento de conflitos aumentava enquanto o próprio sucesso subia em escala meteórica.


É bom ver que antes do término da banda, o trio argentino fez de tudo para burlar a saturação. Só que a perseguição contínua da mídia e dos fãs, os shows consecutivos, novos horizontes artísticos que se chocavam e a vida adulta que se desenvolvia cada vez mais impediu a solução.


O legal é que, no final, mesmo que já não seriam os mesmos, seguiram firme com a última turnê. Reuniram-se equidistantes, porém unidos. Uma pena que Gustavo Cerati morreu cedo demais devido a um AVC. Um livro marcante e recomendável para todos aqueles que amam rock.

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "La Edad Media" de Jose Luis Romero (lido em espanhol)

 



Escrever sobre a Idade Média, sobretudo num país tão atrasado em conhecimentos históricos medievalistas como o Brasil, é uma tarefa um tanto quanto ingrata e que possibilita toda uma série de margem para más interpretações e birras geradas após anos de distorções ou má interpretações históricas.


Deve-se pontuar que:

1. Grande parte da interpretação histórica medievalista surge dum período que sucedeu logo após ela e, muitas vezes, com caráter notoriamente negativista sobre todos os seus mais diversos aspectos;

2. Uma nova interpretação acerca da Idade Média vem surgido com uma revisão bibliográfica e dos mais diversos  documentos, todavia é recente e não foi acoplado ao conhecimento acadêmico comum;

3. Parte da história da Idade Média se perde pois o foco eurocêntrico impede uma olhar mais sistemático;

4. Grande parte do mito de "Idade das Trevas" impede um olhar mais atento a esse período que, diga-se de passagem, foram três e não um.


O livro traz uma análise sobre os três períodos medievais. Tratando da dissolução do Império Romano, a forma com que o cristianismo impactou as mudanças do mundo e como o papado tentou recorrentemente reestabelecer um Império - a qual poderíamos chamar de Cristandade. As lutas recorrentes também buscavam cristianizar a cultura e manter o legado civilizacional romano.


Fora isso, vemos o desenvolvimento conflituoso entre muçulmanos e cristãos - e como Mohammed unificou seu povo e, consequentemente, possibilitou seu desenvolvimento. O desenvolvimento da burguesia enquanto classe e como a fragmentariedade territorial causada pela nobreza levou monarcas a fortalecerem a classe burguesa também é tratado aqui.


Esse livro é, mesmo que curto, bastante abarcante das problematicidades que apareciam na época e tenta, em seu curto espaço, apresentar uma exposição metódica da situação. Vale a pena ler.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "Modelo Argentino para El Proyecto Nacional" de Juan D. Perón (lido em espanhol)




Pensar e estruturar o que um país deve cumprir para sanar seus problemas estruturais e adequar-se as novas regras globais que cobram uma postura determinada em seu agir é uma tarefa de difícil empreitada. Ainda mais quando o modelo político está sujeito a análise da população e aos olhos das outras nações do mundo.


Para este fim, Juan Domingos Perón trouxe um importante documento em que elenca diversos problemas e sugere, de modo bem global e consciencioso, resolucionar tais problemas. Não sem, é claro, trazer consigo mecanismos mergulhados na mais profunda dialogicidade das partes políticas que compõem a Argentina. O documento não visa um governo composto por elites, mas a unidade de todos os grupos que lá estão. Um verdadeiro governo que intercala conciliação de classes e autêntica governança unitária para o prol do povo.


Juan fala acerca da necessidade de união, de sólidos compromissos com as pautas comuns e universais. Propõe uma governança global não baseada na intimidação, mas no reconhecimento de cada nação em igualdade, liberdade e autodeterminação. Além de reconhecer que, na altura do campeonato, que o mundo está cada vez mais conectado entre si e que devemos achar mecanismos de utilização responsável dos recursos.


Documento este que, graças a inteligência e síntese do autor, envelheceu muito bem e ainda traz respostas para o tempo presente. Uma pena que suas pautas não tenham sido consideradas com a tenacidade que deveriam.


Certamente se nota, ao fim da leitura, que Perón era um estadista de grande estatura e que, atualmente, faz falta não só na Argentina, como também no debate latino-americano e mundial.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Breve Historia de la Revolución Mexicana" de Felipe Ávila e Pedro Salmerón (lido em espanhol)

 



Pouco tempo antes da enorme convulsão que tomou forma de revolução, Porfirio Díaz governava o México com mãos de ferro. A serviço das grandes elites nacionais, ignorava os grandes desajustes sociais que, mais cedo ou mais tarde, trariam enormes dificuldades na governabilidade do país.


Desde cedo, verificou-se um caráter acentuadamente campesino na revolução mexicana. O assalto das elites pelas terras gerou um processo traumático acumulativo através dos tempos e um desejo de justiça - que foi bastante ignorado. Desta conjuntura, surge um homem radicalmente democrata chamado Madero que clama aos homens por uma reforma. Sendo incapaz de aplicá-la, logo recorre à revolução. O próprio Madero, homem de forte amor à democracia, mas por demasiado tíbio em suas reformas, acabaria assassinado.


É difícil precisar as debilidades do México, um país que carecia de desenvolvimento e foi bastante invadido. Não só pela agressão estadunidense, mas igualmente francesa. A luta por sua real independência e autonomia se realizou em grande parte pelos anseios legítimos por igualdade, desenvolvimento, liberdade e paz. Nesta luta temos Zapata - que também seria assassinado.


Nesta luta contínua, cheia de golpes e traições, vingaram-se contradições que geravam mais conflitos. Questões religiosas, questões territoriais, questões econômicas, educacionais. Sucedem-se presidentes e golpistas num processo convulsional no qual perguntamos quando haverá estabilidade.


De qualquer modo, o estudo da Revolução Mexicana - mesmo que traída pelos sucessivos governos posteriores -, traz uma percepção diferente da América Latina. É difícil olhar para uma história tão sofrida e tão instável sem se chocar - e, em meu caso, chorar. Por outro lado, devemos continuar caminhando, mesmo que em angústia, pelo nosso sonho civilizacional.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Acabo de concluir o curso "Fundamentos da Psicologia Junguiana: Mitos de Criação e Origem da Consciência"

 



Nesta disciplina aprendemos muito sobre como se estrutura o pensamento de Jung e a relação do estudo da mitologia como auxílio fundamental para o entendimento dos processos psíquicos.


Jung foi um homem que, graças a uma série de fatores, teve brilhantes insights como intelectual. Capaz de navegar em vários campos (filosofia, medicina, psicologia, mitologia, religião, etc), teve uma obra de caráter altamente universal e sintético. Cada campo interagia com o outro, levando a uma unidade de pensamento fantástico.


Jung trouxe uma certa forma de revolução no campo da psicologia: com os estudos da cultura humana - bastante direcionada aos estudos da arte, religião e mitologia -, foi capaz de trazer uma nova luz ao que, devido as situações culturais e acadêmicas imperantes na época, ignorávamos. Todavia também graças a essa mesma empreitada, muitos hão de julgar Jung como uma espécie de misticista. Até mesmo Freud não foi capaz de compreendê-lo em sua totalidade, levando até a uma brusca ruptura.


Os entendimentos chaves da psicologia junguiana ajudam-nos na medida em que compreendemos com mais retidão a forma que seu sistema de pensamento é. Muito harmônico e coeso entre si, quanto mais se compreende os pormenores de seus pensamentos, mais se vê a capacidade de traduzir símbolos com a vida pessoal e, a partir disso, chegar a resoluções quanto as problematicidades que a vida traz. Este modo é, por sua vez, chamado de simbólico-analógico e une a cultura humana geral as condições contextuais de nossa subjetividade particular, uma verdadeira síntese em forma de terapia.


Certamente estes estudos não serão esquecidos por mim. Foram-me marcantes em demasia para ignorar. Todo um horizonte de ideias e compreensões apareceram diante desse conhecimento. Possivelmente esse foi e é um dos estudos que mais gostei e mais apaixonadamente me entreguei.

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Freud: capítulo 7 - Aplicabilidade da Psicanálise no dia a dia Profissional e Pessoal"

 



Se nos perguntarmos onde se encontra a psicanálise como hermenêutica mundividente encontramos a maioria das suas teorias envoltas não só naquilo que é manifesto, mas também naquilo que é considerado latente. O terreno do não dito, expressado de modo inconsciente, é o terreno psicanalítico por excelência.


O arcabouço psicanalítico é, por sua vez, uma forma de buscar uma análise que, dado após dado, possibilita uma interpretação que leva ao conhecimento narrativo das partes que constituem a pessoa de forma unitária. A desfragmentação, gerada após uma coleta minuciosa de dados, é o dever cabal da técnica psicanalítica.


Graças a este aparato, a psicanálise traz consigo não só uma capacidade de autoanálise, permitindo que vejamos com mais pormenoridade a nós mesmos, como igualmente nos dá instrumento para  a percepção mais íntegra do outro em seus atos e falas. O que é, sobretudo no terreno latente, algo impressionante.


Neste capítulo, vemos a importância da psicanálise para locupletação daquilo que nos escapa. Diminuto em seu tamanho, conquanto que profundo em sua forma, traz em seu seio a semente daquilo que um psicanalista perceberá durante a sua prática analisante. 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Freud: capítulo 6 - A Contribuição da Psicanálise ao Direito"

 



A psicanálise trouxe consigo diversas mudanças. A noção de que não somos tão senhores de nossas ideias e que, em parte, não sabemos em que momento se construíram, deu ao espírito humano a noção de sua falsa objetividade. Tão logo se viu que muitas movimentações históricas traziam, em seu seio, condicionamentos psíquicos que lhe tiravam a universalidade que elas pressupunham.


Esse movimento autocrítico, possibilitado pela psicanálise, levou consigo outras mudanças. Na esfera do Direito, aqui nessa seção do livro abordada, a psicanálise contribuiu para uma compreensão maior da subjetividade humana e o entendimento das razões ocultas que desencadeiam ações.


Graças a esse movimento, vemos que não poderíamos julgar inteiramente um caso sem termos, em nossas bases epistemológicas, as condições psíquicas que estruturaram o agir do sujeito que burlou as regras. Neste sentido, a psicanálise atua como um processo humanizante do julgamento humano. Com seu arcabouço, podemos adentrar mais fundo na historicidade pessoal e termos uma análise mais atenta.


Fora que a psicanálise ajuda na mediação dos conflitos. Em caso de divórcio, a escuta psicanalítica é capaz de tentar compreender cada lado, com cada subjetividade em jogo, e buscar um lugar, a partir de cada história pessoal e narrativa, conciliatório entre as partes.


Este pequeno livro, mesmo que simples, demonstra-me cada vez mais a amplitude da psicanálise e serve-me como inspiração para compreender mais e saber que posso aplicá-la nos mais diversos âmbitos.