sexta-feira, 4 de julho de 2025

Acabo de ler "Classifying Russian PSYOPS and countermeasures" de Teodora-Ioana (lido em inglês)

 



Nome:

CLASSIFYING RUSSIAN PSYOPS AND COUNTERMEASURES: IMPLICATIONS FOR EUROPEAN SECURITY


Autora:

Teodora-Ioana MORARU


As guerras modernas apresentam uma amplificação radical da dimensão psicológica, informacional e do cyber-espaço. Ter uma competição estratégica no campo informacional é de suma importância. O controle da percepção e a influência cognitiva ditam enormemente os ritmos da guerra.


A era em que vivemos apresenta uma massificação da mídia e um ampliamento contínuo das plataformas de comunicação digital. Tudo isso impacta diretamente na percepção pública e influencia nas decisões políticas. O uso da informação, quando concretamente aplicado, pode levar a desestabilização do adversário.


Uma boa psyop faz a utilização dos vieses de confirmação. Isto é, do público para qual se dirige a operação psicológica. Uma psyop contém um arcabouço estruturado, é sistematicamente implementada e requer aprovação a um nível estratégico. Além disso, possui um objetivo de longo prazo.


A autora traçou uma diferença entre as operações psicológicas russas e ucranianas. As  duas nações tentaram controlar o espaço de batalha psicológico. A Rússia focou a sua operação psicológica no recrutamento, na intimidação e na mobilização das massas. A Ucrânia, por sua vez, tentou acabar com a coesão militar russa, destruir a moral do seu adversário e ampliar a resistência doméstica.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 2)

 


Nome:

The Dark Enlightenment 


Autor:

Nick Land


O que é a democracia? Além de ser uma palavra muito dita, é uma das principais representantes do dogma moderno. A democracia aparece em nossas ciências sociais como acompanhante do sucesso e do progresso material — embora isso seja provavelmente uma correlação falsa. Estamos numa certa espécie de correlação automática quando pensamos em democracia. Por exemplo: (I) monarquia = ruim; (II) república = bom. Mas o que queremos dizer quando dizemos democracia? Talvez a gente nem mais lembre a resposta.


Grande parte dos intelectuais modernos correlacionam automaticamente o pensamento democrático com o anticapitalismo, não só no Brasil, como no exterior. Como dito anteriormente, muitos pensadores liberais e libertários, mais à direita do espectro político, já não veem a democracia como um regime em que se enquadra a liberdade.


Os Pais Fundadores, nos Estados Unidos, apresentavam uma suspeita enorme em relação a democracia. Viam-na como uma tirania da maioria. E, por tal razão, reduziram o seu poder com a ideia de representatividade. Assim freiando a possibilidade de se emergir uma tirania organizada pelo ódio das massas.


Não é muito estranho correlacionar a democracia moderna com um regime em que a população e as suas lideranças, de tempos em tempos, esquecem-se das consequências dos seus atos. Para se manter o poder, em última instância, faz-se necessário uma utilização de mecanismos populistas — o que por sua vez leva a uma destruição financeira. Também não é muito estranho vermos, no sistema democrático moderno, mega projetos de engenharia social e o poder legislativo de abolir a realidade através de pergaminhos burocráticos.


Com tudo isso, não é estranho que muitos intelectuais venham pensado num novo design. Se o poder representativo esmaga a hipótese de uma democracia direta, é possível tecnicalizar a escolha dos representantes através de um mecanismo ao qual podemos chamar de democracia vertical: nesse quadro, alguém só poderia ser eleito representante se cumprisse determinados requisitos. Nick Land, não falou dessa possibilidade, portanto vamos ignorá-la e deixar para uma outra análise.


Questionar a democracia, em nosso tempo, é algo que soa como uma heresia. O pessimismo corrói o cérebro de alguns e outros dão voos otimistas pensando em radicalizar a democracia. Conjectura-se que a democracia é um vírus memético, nobremente acompanhada da hegemonia progressista, do secularismo militante e de todo clero moderno. Os itens da fé moderna acompanham o homem moderno sem que ele saiba que preenchem o seu pensamento em forma de uma fé inquestionável. E questionar isso é um crime-pensar.


De fato, uma das questões que o Ocidente se deparará constantemente é a ideia de que a democracia moderna está falhando. A questão de como resolver isso é que uma incógnita. Alguns apostam na melhora da educação, outros pensam numa democracia vertical, outros falam sobre democracia direta, outros pensam na abolição da democracia. A questão persiste.

Acabo de ler "MAGA: The Covert Call for Colonialism's Come Back" de Janga (lido em Inglês)

 


Nome:

MAKE AMERICA GREAT AGAIN (MAGA): THE

COVERT CALL FOR COLONIALISM'S COMEBACK 


Autor:

Janga Bussaja


Quando o movimento MAGA ia se delineando, algumas propostas iam se estabelecendo retoricamente. Dentre elas, as principais eram: protecionismo econômico, restrição de imigração, retorno aos valores americanos tradicionais. Todas essas promessas eram emaranhadas por uma visão mística e nostálgica do passado americano.


Essa visão mística e nostálgica tinha como referência uma visão da hegemonia americana. Uma visão que acompanhava a ideia de que os Estados Unidos estava em decadência e que a segurança econômica não era mais uma garantia. O que havia no passado? Os Estados Unidos eram fortes, o papel da religião era garantido na esfera pública, a visão de mundo era provavelmente estável. Além disso, o papel de cada americano era pré-configurado e inquestionável: raça, etnia e condição socioeconômica cumpriam os seus deveres.


Não muito estranhamente, a retórica de Trump conecta-se com o supremacismo branco, com o fundamentalismo cristão e com a decadência dos políticos do establishment — dentre os quais os antigos conservadores do Partido Republicano. O movimento MAGA encontrou um sólido apoio na nova mídia americana. Breibart News e Fox News tornaram-se uma referência midiática pro movimento.


O movimento MAGA não é um ponto fora da curva da história dos Estados Unidos. Ele possui raízes históricas no próprio período de colonização. Os Estados Unidos foram fundados com base na exploração e subjugamento dos povos nativos e no comércio transatlântico de escravos negros. Um sistema de opressão e desigualdade cresceu lado a lado com a história americana — não fora, mas dentro. A destruição e marginalização do povo indígena ocorria também, lado a lado, com a importação e escravização do povo negro.


Na parte discursiva e narrativa, construía-se uma racionalização: o discurso da superioridade racial branca ao lado da superioridade cultural, o racismo científico acompanhado e brindado pelo mito da superioridade branca. Tudo isso criava um ambiente propício pro racismo sistêmico. Esse passado dos Estados Unidos reverbera até hoje na mentalidade do povo americano.


O movimento MAGA tem uma retórica que contempla uma elite corrupta e um virtuoso povo. Sua identidade é baseada num fervor nacionalista e práticas de exclusão. Um passado mitológico estabiliza e dá uma noção de prosperidade que os Estados Unidos há muito tempo não contempla. Existe também a demonização de grupos marginalizados, como pessoas de cor e imigrantes. Um cenário complexo e um prato cheio para análise.

Acabo de ler "Transmedia storytelling and memetic warfare" de Roman e Dariya (lido em inglês)

 



Nome:

Transmedia storytelling and memetic warfare: Ukraine’s wartime public diplomacy


Autores:

Roman Horbyk;

Dariya Orlova.


Num mundo onde temos várias ou múltiplas visões de mundo, a narrativa — quando poderosa e eficiente — é uma das armas centrais na estratégia comunicacional. Nessa guerra que ocorre na Ucrânia e na Rússia, isso vem sido particularmente bem demonstrado.


Na guerra que presentemente vemos, vimos um país que era visto como dividido e corrupto surgir com a imagem épica de país unificado, de um pequeno Davi enfrentando o Golias. Enquanto os russos preparavam o foreshadowing (um elemento narrativa que insere o próximo passo antecipadamente), Zelensky já sabia a importância de uma boa narrativa.


Nessa guerra, as imagens meméticas que iam se construindo e delineando substituiam toda área cinzenta do debate. A complexidade do debate é, até agora, substituída por um robusto, mas simplificante, exercício de storytelling. O jornalismo é feito de arma e não de mecanismo informacional — isso não é uma novidade, mas na era da guerra de quinta geração, isso vai aos extremos.


Creio que no tempo moderno, a grande lição é compreender a centralidade narrativa, como ela impacta os vieses cognitivos e como ela impacta diferentes grupos religiosos, étnicos e políticos. Podemos correr o risco de estarmos sendo feitos de tolos por diferentes lados.


quarta-feira, 2 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 1)

 


Nome:

The Dark Enlightenment 


Autor:

Nick Land


Creio que essa é a análise mais pedida do blog. Lembro-me de que todas as vezes que as pessoas viam meu blog ou me encontravam nos grupos de WhatsApp, pediam-me uma análise do "The Dark Enlightenment" do Nick Land. Lembro-me de ter lido esse livro, pela primeira vez, num blog de um amigo meu — em português. De lá para a cá, a fama de Nick Land subiu estratosfericamente. Ele se tornou uma figura inevitável. Muito glorificada por alguns, extremamente nociva para outros. Vou tentar manter o contumaz tom neutro do blog. Analisando cada parte do livro como um capítulo de análise.


Creio que o primeiro passo para compreender o que Nick Land quer dizer é o fato de que o ilustramento (o ilumininismo) não é um estado, mas também um evento e um processo. Essa compreensão — de que o iluminismo também tem uma natureza processual — leva a uma outra possibilidade interpretativa. Estamos, até hoje, dentro de um processo de ilustramento. Existe uma questão bem interessante: se o iluminismo (o movimento ilustrado) se opõe à "Idade das Trevas", por qual razão teríamos um iluminismo sombrio? O iluminismo sombrio pode ser um renascimento do pensamento reacionário, mas interpretado por um outra lógica ou uma outra lente. O iluminismo sombrio não é contra o desenvolvimento da tecnologia, muito pelo contrário: ele quer a sua aceleração. Para muitos iluministas sombrios, muitas vezes os direitos humanos se opõem a concretização plena do desenvolvimento tecnológico. Para acelerar esse processo de desenvolvimento, faz-se necessário um movimento que negue os direitos humanos para se ir além dos limites que travam o avanço do processo tecnológico.


Um dos eventos que Nick Land nota, e nota muito bem, é o de que muitos liberais e libertários têm olhado de forma negativa para a democracia. E a há, a cada dia, uma crescente associação entre o pensamento democrático e o pensamento progressista. Eles se tornam cada vez mais sinônimos. O conservadorismo, por sua vez, torna-se cada vez menos apelativo para as massas. O que temos não é mais aquele conservadorismo prudencial, erudito e com um olhar tenro para as experimentações temporais. O que temos hoje é um conservadorismo populista que muitas vezes, em sua efervescência, destrói a própria capacidade de conservar as instituições que os próprios antigos conservadores achavam belas e dignas. 


Se temos um processo de fusão entre democracia e progressismo de um lado, se temos um processo de um conservadorismo cada vez mais autocontraditório, temos por outro lado um grupo de liberais clássicos e de libertários de direita que olham com cada vez mais receio para o processo democrático. De fato, muitos liberais e libertários não conseguem ver a capacidade de um regime econômico descentralizado dentro da lógica democrática. A ascensão do conservadorismo populista, em que a preferência temporal está sempre focada no curto-prazo, leva aos liberais e libertários de direita antidemocráticos a terem um afastamento cada vez maior dos setores conservadores.


A ascensão do sistema de voto, o sufrágio universal, vem sido encarada por muitos setores como correlacionada com os vícios privados, com o ressentimento, com a orgia consumista, o financiamento incontinente, com a política se tornando simultaneamente um reality show e um circo. Vivemos num mundo politicamente devastado, cada vez mais sensacionalista e com uma sociedade imperativamente dividida em uma perpétua guerra fria civil. Ao mesmo tempo, antigos liberais e libertários — agora com uma tendência antidemocrática — não veem a possibilidade de uma vitória definitiva e de estabilidade de longo-prazo.


É nessa crise que começasse a formular um novo sistema. Um sistema em que não há a dissolução do Leviatã, mas a dissolução do sistema democrático dentro do Leviatã. O governo passaria a ser encarado como uma corporação e essa corporação serviria para maximizar a sua eficiência de modo qualitativo. Um mal governo não seria um mal governo, mas uma má e ineficiente corporação. Já um bom governo seria um negócio bem conduzido. É com esse tipo de pensamento que podemos adentrar na mentalidade neorreacionária.

Acabo de ler "Exploring psyop-based conspiracy theories on social media" de Justin (lido em inglês)

 


Nome:

Exploring psyop-based conspiracy theories on social media


Autor:

Justin Bonest Phillips


Redpill, QAnon e /pol/ (4chan): quando esses nomes entram juntos, eles explodem o debate público. E quando aparece uma teoria da conspiração e psyop, há um prato cheio para todo analista.


Pensando bem, o que é uma teoria da conspiração? Uma teoria da conspiração se distingue por conter algumas características:

1. Ver padrões uma sequência não coincidente de eventos;

2. Identificar atores que aplicam o plano secreto em correlação com outros;

3. Expõem a intenção hostil dos conspiradores;

4. Lutam para revelar a verdade para todos.


O que é uma psyop? Um grupo de pessoas agindo secretamente, desejando mudar o comportamento de determinado grupo.


Uma teoria da conspiração pode surgir por múltiplos motivos, mas existem três razões bem interessantes para gerar uma teoria da conspiração: (1) epistêmica, (2) existencial e (3) social.


1. Epistêmica: estabiliza as visões de mundo;

2. Existencial e social: atende aos anseios daqueles que se veem como dominados ou em um mundo instável.


Em última instância, a teoria da conspiração é um mecanismo de defesa natural que satisfaz uma necessidade. Ela serve como um mecanismo de reforço epistêmico e um mecanismo de defesa simultaneamente. Ela também estabelece, para um grupo, um senso de pertencimento.


O interessante dessa pesquisa é que ela analisa que plataformas mais mainstream possuem um público menos ávido por teorias da conspiração e plataformas mais extremas (4chan e Telegram, por exemplo) possuem um público mais ávido por esse tipo de conteúdo. Além disso, a versão de uma teoria da conspiração é mais leve dentro de plataformas de nicho mainstream e é mais pesada e ofensiva dentro de plataformas de nicho underground. Fora isso, existe um consumo e postagem maior de teorias da conspiração em plataformas extremistas.

Acabo de ler "The Internet and Psychological Operations" de Angela Maria Lungu (lido em inglês)

 


Nome:

The Interner and Psychological Operations


Autora:

Angela Maria Lungu


Qual seria a melhor forma de conduzir guerras na era moderna?


Opção A: invadir um país e destruí-lo por dentro gastando uma série de recursos;


Opção B: fazer uma operação psicológica a distância e deixar que o inimigo destruir a si mesmo.


Evidentemente, a opção B deve ser feita. E, em último caso, a opção A é viável. Os estudos modernos vêm sido grandiosos no detalhamento da guerra informacional. Eles variam desde pequenos grupos operando em vários sites e fóruns ou até mesmo sites de informação falsa. Vários países do mundo têm atuado dessa maneira. Os Estados Unidos não é uma exceção a regra, mas um dos principais vetores dessa prática.


Em última instância, vivemos numa época em que a informação é onipresente. A conexão mundial da Internet fortalece tal onipresença. Quem ganha a guerra é quem possui superioridade informacional. Vivemos numa era da guerra informacional e usam a informação para gerar novas e novas formas de mudança comportamental. A diferença é que agora tudo isso pode ser feito a uma distância razoável.


Em vez de produzirem diretamente milhares e milhares de drones para invadir um país, pode-se antes disso produzir uma equipe técnica que é capaz de produzir várias informações ou conduzir as informações de modo favorável. Isso leva a uma redução sem precedentes dos custos da guerra. A guerra atinge, antes disso, o coração e a mente. Isso é melhor do que ficar soltando tiros.


Nesse pequeno artigo — ele possui só trinta páginas — podemos ver a possibilidade de emprego tático de operações psicológicas em videogames, streaming, chats, fóruns, mensageiros instantâneos. Tudo isso é fortemente considerado para gerar uma nova forma do ser e do agir da guerra.