quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Acabo de ler "Como se Levanta um Estado" de Oliveira Salazar



     Acabo de ler "Como se Levanta um Estado" de Oliveira Salazar.


    Isso é apenas a análise de um livro e de um pensamento. Não estou defendendo coisa alguma - e muito menos defenderia uma ditadura.


    Poder-se-ia dizer que a crítica do integralismo ao nazismo, ao comunismo e ao fascismo está na natureza totalitária que esses regimes possuem. O integralismo, ao contrário do senso comum, possui aspecto autoritário e não totalitário, isso decorre de sua natureza corporativa que reconhece outros poderes além dos seus. Há, então, uma fragmentariedade do poder e não uma totalidade absoluta do poder que caracterizaria o totalitarismo que é, como já diz o próprio nome, totalitário.


    A crítica ao sistema democrático do integralismo se dá de outra forma: a democracia é tão fragmentária em seus interesses que começou a criar vários polos de fragmentos que, por sua própria natureza fragmentária, impossibilitam a condução política. Para o integralista, o poder deve ser autoritário para que haja real liberdade. Visto que, na ordem democrática, o poder se paralisa ante aos vários fragmentos que brigam entre si. E se o resultado do dogma liberal "não há liberdade contra a liberdade" leva a própria autoanulação dessa mesma liberdade, a crítica de Salazar poderia se dizer certeira.


    Se a liberdade democrática se divide em múltiplos poderes partidários e esses múltiplos poderes partidários tornam incapaz a própria realização de qualquer um desses múltiplos poderes partidários... Não há liberdade democrática, já que ela é processualmente contraditória consigo mesma. Essa é a hipótese salazarista. Salazar buscou em seu livro defender o valor do trabalho, atacar a plutocracia, defender a família e sua subsistência, a religião, a virtude e o a nação. Sua mentalidade antiliberal e antissocialista é hoje, para maioria de meus contemporâneos, uma incógnita e um caminho até mesmo impossível. De qualquer forma, gostei de ler o livro.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Acabo de ler "Literacia no Islã"

 


“Lê, em nome do teu Senhor Que criou; Criou o homem de algo que se agarra. Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, Que ensinou através do cálamo, Ensinou ao homem o que este não sabia.” (Alcorão 96:1-5) 


    Acabo de ler "Literacia no Islã". Documento de caráter histórico, mas também teológico. Fortalece ainda mais o meu respeito por essa admirável tradição religiosa e a necessidade de diálogo e abertura.


    A primeira palavra revelada para Muhammad é "lê". A leitura é o primeiro milagre: a importância da leitura se dá como ato primordial no Alcorão. Poder-se-ia dizer que a literacia - arte do letramento, da interpretação, da escrita, da compreensão - é parte constitutiva da religião islâmica. É baseado nesse mandamento divino que Muhammad seguiu a sua vida criando condições de estudo, em diversos círculos, por onde passava para que a religião aumentasse. 


    O Islã é tão impulsionado pela literacia que diz até mesmo que Alá facilitará o paraíso para aquele que estudar. A busca por conhecimento facilita o paraíso. Essa característica marcante fará com que a educação islâmica entre em complexidade constante, sempre aumentando o número de tópicos e aprimorando a técnica intelectual de passagem de conhecimento. Aprendia-se com enfoque no Alcorão, mas também buscava-se o conhecimento em outras partes. Tal fato é tão constante que enquanto o conhecimento no mundo europeu ficava restringido a certos círculos religiosos, Bagdá tinha as suas bibliotecas públicas que possibilitaram o estudo de forma mais comum, abrangente e democrática. 


    Quando Bagdá foi atacada, parte dos livros que ali estavam se perdeu. E muitos de seus moradores tinham livros como aspecto lendário. O amor ao conhecimento era transbordante, transbordante a ponto de se tornar até mesmo uma regra estética da cidade. Uma frase de brincadeira ilustra brilhantemente esse pensamento: “É uma antiga doença no Iraque - as pessoas gastam seu dinheiro em livros, não em comida”. Poder-se-ia dizer que a frase de Cristo: "Jesus respondeu: :Está escrito: 'Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus'" (Mateus 4:4) é aplicada ao mundo islâmico num sentido intelectual-espiritual. 

Acabo de ler "A Cruz Azul" de Chesterton


 "— Você atacou a razão — disse o Padre Brown. — Isso é má teologia"


    Acabo de ler "A Cruz Azul". Esse é o primeiro conto em que o Sherlock Holmes católico, o Padre Brown, aparece. Ele descobre tudo mais pela introspecção sobre a natureza humana do que por uma metodologia científica - apesar de não negá-la. 


    Na teologia cristã, até a onipotência divina obedece a lógica. E isso se dá por uma razão precisa: a esperança superará o desespero por causa da esperança ser um fim supremo e a desesperança ser só a privação da esperança. A aparente desordem será um dia compreendida e quem crê em Deus crê na ordem, mesmo que esteja na mais profunda noite do espírito, na mais profunda depressão: um dia tudo há de ser salvo. E a salvação da criação é o mais profundo desejo cristão. É por isso que tudo nesse conto não parece ter sentido até chegar ao final. E no final tudo é salvo, tudo é ordenado, por uma boa razão: o fim da humanidade é retornar ao Jardim do Éden, para viver o paraíso da perfeita plenitude.


    Poderia dizer muitas coisas, mas seria privar esse magnânimo conto de falar por si só:


"— Ah! Sim, esses infiéis modernos apelam para a sua razão; mas quem seria capaz de olhar para aqueles milhares de mundos e não sentir que podem existir universos maravilhosos acima de nós, onde a razão é completamente irracional?"


"— Não — disse o outro padre —, a razão é sempre racional, mesmo no último limbo, na fronteira perdida das coisas. Eu sei que as pessoas acusam a Igreja de desvalorizar a razão, mas na verdade é o contrário. Sozinha na Terra, a Igreja torna a razão realmente suprema. Sozinha na Terra, a Igreja afirma que o próprio Deus é limitado pela razão." 


"O outro padre ergueu a face austera para o céu cintilante e disse: — Além disso, quem sabe se naquele universo infinito?..."


"— Infinito apenas fisicamente — disse o pequenino padre, voltando-se com energia energia em seu banco —, não infinito no senso de escapar das leis da verdade"


    O que há de se afirmar é que: o ser é. O sofrimento terá fim. É isso que aprendi com esse conto. O fim é a ordem suprema. O mal acabará. Essa é a razão da esperança e do caminhar. Essa é a fé cristã: o fim de tudo é a felicidade.

sábado, 14 de agosto de 2021

A fim de ler artigos católicos?


     Sou o tipo de idiota que fica feliz com pequenas coisas. E gostaria de dizer que acabo de conhecer um site muito interessante cheio de artigos católicos para se baixar e se inteirar pela fé católica. Isso mesmo, você poderá conhecer um bom site tomista e baixar artigos de graça:

http://filosofante.org/filosofante/

    Eu já estou fazendo o meu compilado de artigos para eu ler nas horas vagas. O autor deles é o mesmo que escreveu sobre a teologia da inquisição de Tomás de Aquino.

Acabo de ler "O Carisma de São Domingos"

 


"Sua cela é o mundo, e o oceano é o seu claustro"

Mateus de Paris


    Acabo de ler "O Carisma de São Domingos" do Frei M. D. Chenu OP


    Ler um livro - ou, nesse contexto, um livreto - que trata da história da Igreja e a forma como que ela se organiza ou se organizou é sempre um trabalho grato. Já que não ensina tão apenas uma erudição vácua, mas uma possibilidade real de aprendizagem não só histórica, como também evangélica.


    A imagem de Igreja meramente estática é perfeita e cabível para quem não conhece a sua história. Sim, a Igreja é sempre estática, mas também é sempre nova. Ela é algo sempre velha e sempre nova. Já que o Cristo é o mesmo, mas o homem que caminha com ele é sempre outro. Escrevi em uma de minhas anotações acerca desse pequeno livreto que: tradição é caminhada. E creio que essa frase possa dizer que tradição é transmissão e até mesmo expressão. A tradição não é uma mera expressão ritualística, ela é também uma ideia que pode assumir até mesmo outra forma de ritual. Visto que a essência da tradição é a ideia. E o contato e relação da ideia com o mundo é sempre renovado com uma nova forma de expressão.


    Chesterton define o movimento dos frades como algo revolucionário na sua biografia sobre Santo Tomás de Aquino. O antigo religioso construía o seu mosteiro longe do povo para viver em intensidade evangélica e vivia numa rígida hierarquia. O novo religioso viverá ao lado do povo para convertê-lo, o novo religioso será dinâmico e menos hierárquico. O novo religioso acrescentará o voto de pobreza ao lado do voto de castidade e obediência. Coisa que será encarada como uma forma de heresia e tentará até se proibir, mas logo se foi aceita essa "revolução religiosa". Chesterton diz graciosamente que se tornar um frade era como se anunciar comunista - ao menos para efeito cômico, alegórico e poético. Só que tal piada tem um fundo de verdade amplo e histórico. Os frades eram reformadores sensatos e compreenderam a necessidade histórica. São Francisco e São Domingos são sempre exemplos clássicos por sua eternidade e beleza. Sua "revolução" é eterna, já que é assentada em Cristo Rei.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Terminei de ler "Fé Cristã, Razão e Secularismo: uma síntese do pensamento de Joseph Ratzinger"

    Terminei de ler "Fé Cristã, Razão e Secularismo: uma síntese do pensamento de Joseph Ratzinger" escrito por Heber Ramos Bertuci.


    A teologia que é o discurso sobre o divino é algo que sempre houve, houve até mesmo antes do surgimento do cristianismo, mas que é característica distinta da religião cristã devido a sua qualidade, quantidade e intensidade. O cristianismo desde o seu nascimento buscou a aproximação com a filosofia, sempre fusionando a mentalidade grega com a hebraica. Tal caldo cultural possibilitou o surgimento do discurso cristão enquanto tal. Apesar das constantes brigas e intrigas: o cristianismo é uma religião intelectual e sempre o foi. 


    Poder-se-ia dizer várias razões para se falar da intelectualidade cristã, mas deveríamos visar em primeiro lugar o básico. O que são as "religiões do livro"? São as três religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Nessas religiões, só se é possível ser verdadeiramente fiel se se for alfabetizado. Decorre-se desse fato a necessidade de se alfabetizar para se religiosizar. Já que todas essas religiões requerem a leitura de seu livro religioso. Começa-se a partir daí o desenvolvimento intelectual cristão: o contato com a sua religião depende da leitura de um livro. Só que quem quer se tornar mais cristão, inserir-se-á num esforço erudito de leitura comparada acerca de sua religião. A meditação cristã é, também, caracterizadamente intelectual: lê-se e reflete. É por isso que as pessoas cursam teologia, estudam teólogos, leem comentaristas bíblicos, estudam história da Igreja, buscam entender a vida de grandes santos. 


    Os primeiros cristãos entregavam-se a apologética (defesa da fé) já de maneira intelectual. A própria noção de teologia cristã é assim dita: 

"Assim, a Fides et Ratio conceitua que a teologia no sentido cristão: trata-se da '... elaboração reflexiva e científica da compreensão da palavra divina à luz da fé...'". 

    O cristianismo nunca se furtou ao debate intelectual e sempre produziu grandes intelectuais. E a doutrina cristã sempre se ampliou e ainda se amplia em constante evolução intelectual.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Acabo de ler: "Os Estudos na Ordem Dominicana"

 “In dulcedine societatis quarere veritatem"

(Na suave harmonia de uma comunidade fraterna, procurar a verdade em um estudo constante)




    Acabo de ler "Os Estudos na Ordem Dominicana" de Frei Carlos Josaphat OP.

    Esse "livreto" de 32 páginas foi a minha leitura diurna de hoje. Estou realmente feliz por ter entrado em contato com esse pequeno documento. Ele era a porta que eu precisava para entender a Ordem dos Pregadores (vulgo Ordem Dominicana). A forma com que essa ordem se liga a um exercício constante de estudo e de oração, em que cada convento é em si uma "escola", demonstra que o mundo ainda pode ter locais de contínua edificação. Usualmente estamos presos a rotinas emburrecedoras que têm a educação como algo meramente utilitário para a vida - e talvez até dispensável. Não se estuda porquê o estudo é também vida, mas sim por alguma razão utilitária - ascender a algum cargo, ter algum diploma ou conquistar alguma coisa. Os dominicanos têm uma relação mais pura com a vida intelectual e isso me encanta bastante.


    "Uma Ordem religiosa, uma comunidade que tendesse à perfeição evangélica, mediante a consagração da inteligência e fizesse do estudo sua grande ascese, nascia, portanto, como uma aspiração e uma exigência da Igreja, plenamente e em boa hora compreendidas por um grande Santo" 

    A Ordem Dominicana é muito interessante em muitos aspectos, só que é caracterizadamente intelectual. E sua inteligência é algo visto na amplitude de seus membros, todos dedicados a vida intelectual. O próprio convento é, em si, um local edificante: faz-se que se tenha tempo para o estudo e o estudo é élan vital da Ordem. A Ordem Dominicana é cheia de cursos e intelectuais. Um recanto de sabedoria e inteligência num mundo pouco amante da sabedoria e da vida intelectual como o nosso. Amar o estudo, consagrar-se ao estudo, é cumprir não só uma vocação puramente humana, mas também divina. O dominicano não pode ser só em coração dominicano, mas também em inteligência. Por tudo isso, a Ordem Dominicana é amável e, não só amável, como perfeitamente desejável e um exemplo de vida e inteligência para todos.