segunda-feira, 27 de março de 2023

Acabo de ler "Primer Tiempo" de Mauricio Macri (lido em espanhol)

 



A Argentina é um país pouco previsível institucionalmente, atributo que lhe outorga pouca credibilidade mundial. Para piorar, a maioria dos governos se perdeu numa retórica chauvinista e, infelizmente, numa condução política isolacionista que, pouco a pouco, minou suas capacidades de realização enquanto nação. Esse tipo encadeamento atitudinal não é só frequente na história da Argentina, mas de grande parte dos países latino-americanos.


A tarefa de modernizar esse país coube a Macri, porém se notou muito a incapacidade de promover reformas estruturais graças ao legado burocrático peronista que de tudo fez para levar ao estancamento de ações gestionárias mais modernas e condizentes com o século XXI. Por todos os lados, setores gigantescos da sociedade estavam habituados com um modelo de economia politizada, onde pesa mais a camaradagem política do que uma gestão eficiente e ligada as necessidades mais prementes.


A economia politizada criava uma série de empecilhos a concorrência e tornava os empresários pouco atentos ao desenvolvimento exteriores e ao aumento da produtividade. Com empresas pouco competitivas, exigiam mais e mais proteção estatal em vez de melhorarem suas práticas. Esse tipo de comportamento paralítico também foi encontrado em todos os tipos de setores.


Mauricio Macri queria ir contra isso e tornar a gestão estatal, e sua relação com a sociedade, mais dinâmica, moderna e eficiente. Aqui não farei apontamentos de sua família com o Estado, visto que sei pouco sobre ela e, igualmente, as alegações de Macri são pouco credíveis pois vêm dum homem que teria como intuito óbvio de proteger a família.


O Estado como principal suporte ao desenvolvimento, não é um mal em si se esse processo não incorre numa retroalimentação simbiótica de debilidades Estado-sociedade. A necessidade de contrapartidas e priorização de eficiência, cumprimento de metas e "abordagem tecnocrata" pesam em muito nesse contexto.


O entendimento que o Macri passa após toda a sua experiência como chefe de Estado contribuem em muito para se compreender a Argentina enquanto nação e a leitura do livro não é recusável.

domingo, 26 de março de 2023

Acabo de ler "Classroom of the Elite - Vol 3 - Syougo Kynugasa" (lido em espanhol)

 



Contando com o volume 0, essa é a quarta parte de Classroom of the Elite. Esse volume aborda o arco da ilha, já adaptado pelo anime. Até o presente momento, todos as "novelas leves" que li, com a exceção do "volume 0", já foram adaptadas no anime. Creio que o próximo volume deve chegar no ponto em que se encontra o anime atualmente, porém não posso confirmar essa informação com 100% de certeza.


Esse volume demonstra mais da sagacidade e frieza do protagonista Ayanokoji e já dá um gostinho acerca de seu estranho passado. A professora da classe D, desejosa de tomar no lugar da classe A, começa a pressionar o Ayanokoji cada vez mais para que ele a ajude nesse processo. E para conseguir o que quer, ameaça-o com informações sobre seu passado. Quem leu o volume 0, sabe do que se trata.


A história central desse volume é: as quatro turmas (A, B, C e D) estavam de férias e acreditavam que iriam se divertir numa ilha, porém tudo não passava de mais um engodo da escola que queria uma guerra de sobrevivência entre as classes. A missão dada pela escola é: sobreviver numa ilha gastando o mínimo de pontos e descobrir por meio de artimanhas os líderes de cada sala.


Para não gastar os pontos, eles tiveram que achar meios de usar os recursos da ilha de forma inteligente. A busca por descobrir o líder de cada sala levou a uma série de movimentações entre classes que tornarão esse arco único. Fora que a classe está aprendendo a ter uma harmonia interna e Horikita aprende e sente cada vez mais a necessidade de aliados.


Os personagens estão sendo explorados de forma inteligente e estão tendo um excelente desenvolvimento. Muitas dúvidas vão surgindo e as razões deles estarem na classe D se revelam pouco a pouco. Recomendo a leitura da "novela leve" ou que assistam o anime.

sexta-feira, 24 de março de 2023

Acabo de ler "A Igreja no Brasil-colônia" de Eduardo Hoornaert

 



O livro, escrito por um sacerdote católico, traz uma abordagem bastante crítica da história da Igreja no Brasil colonial. Sendo bastante contundente, traz uma diferenciação entre o tratamento dados aos povos indígenas e aos povos africanos. Além de estabelecer diferenças entre as diferentes ordens e como atuavam dentro do território do Brasil colonial.


A missão da Igreja no Brasil se confundiu com os objetivos colonizadores portugueses muitas vezes, levando até mesmo a perda de seus critérios messiânicos e evangélicos em prol do empreendimento português. Um exemplo claro disso é a forma com que parte da sociedade requeria o trabalho escravo indígena e como se posicionaram as diferentes ordens católicas frente a esse posicionamento. Os jesuítas tenderam a desfavorecer essa iniciativa, já outras ordens se posicionaram com favorecimento dessa causa.


Por outro lado, houve uma diferença de tratamento bastante clara entre o indígena e o africano. O africano tendeu a ser abandonado a sua própria sorte e o indígena gozou do privilégio de algum respaldo das instituições religiosas. Houve também uma utilização maléfica da fé para fins de submissão, como um grande veículo cultural que implantava mensagens alienantes em prol da subserviência dos outros povos não-europeus. Diferenças de tonalidade de pele também foram usadas como critérios hierárquicos nas instituições eclesiásticas.


O mais interessante é que o autor da mensagem, bastante crítica para com a história da Igreja no Brasil, é um sacerdote e como ele se propõe a uma leitura imparcial e autêntica. Provando a capacidade modernizadora da própria Igreja Católica como instituição e como doutrina cristã.

terça-feira, 21 de março de 2023

Acabo de ler "Abracemos el Socialismo" de Nicolás Maduro (lido em espanhol)

 



Esse livro é, na verdade, um composto de discursos do presidente da Venezuela (Nicolás Maduro) transformado em texto. Ele foi lançado pela Universidad Bolivariana de Venezuela. Achei-o por acaso enquanto procurava livros para ler em espanhol, o título despertou-me uma ávida curiosidade.


Nesse livro, Nicolás Maduro discorre sobre vários assuntos. Estão abarcados: as políticas futuras (agora presentes) da Venezuela; a situação da oposição; a recuperação econômica do país; a reconciliação nacional; a legalidade das eleições; o otimismo de Maduro frente a situação política da Venezuela. Evidentemente há outros assuntos, porém optei pelo que achei mais importante.


Creio que Maduro tem uma retórica muito forte, muitas vezes com um aspecto evidentemente enraivecido. Todavia é evidente que ele vem logrado, talvez pela abertura dialógica, reestabelecer a Venezuela. O que é um ponto sumamente positivo em virtude do grande hecatombe político e econômico em que ela se encontrava. Talvez seja possível especular que a Venezuela adquirirá tons mais permissivos e menos regidos pelo monismo ideológico no futuro, o que lhe seria um grande bem.


No geral, vejo um forte viés militante e uma sanha monista-ideológica, porém com tons de abertura em alguns aspectos que são bem prometedores. A configuração política da Venezuela é absurdamente diferente da nossa, em virtude do controle institucional amplo que a esquerda exerce com maestria por aquelas bandas. A ausência de dialética verdadeiramente democrática em que a oposição argumentativa gera uma síntese que supera as falhas gestionárias pode estar num caminho, ao menos hipoteticamente falando, de se resolver - mesmo que em passos de tartaruga. Ao menos esse é o meu anseio.


Quanto ao livro, apesar dele ser ditado pela narrativa de Nicolás Maduro, ele diz muito da situação política venezuelana e traz um entendimento bem palpável da situação atual e de que forma a política se engendra dentro da Venezuela. Recomendo fortemente a leitura.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Acabo de ler "Mensaje al Pueblo de Venezuela" de Marcos Perez Jimenez (lido em espanhol)

 



Esse é aquele típico livro que, lido ao acaso, não pode chegar a mensagens concludentes. Para uma visão mais assertiva seria necessário um estudo maior de minha parte e, por essa razão, recusar-me-ei a escrever mais afirmativamente, discordando ou concordando, em virtude de não saber a contextualidade mais abarcante do que me foi apresentado.


O livro é uma espécie de panfleto político para a condução de ações pela militância organizada nacionalista da Venezuela. O autor clama mudanças estruturais e acusa o descaso da concorrência frente a própria nação. Tenho que apontar que, em suas pouquíssimas páginas, o autor discorre forma bastante sistemática dos problemas da Venezuela no período em que foi escrito.


O autor igualmente fala de seu afastamento compulsório e do anseio do povo de tê-lo no poder. Clama igualmente para que a militância exponha energeticamente a injustiça em que está envolto ao mesmo tempo em que desencadeie ações que deslegitimem as ações de seus concorrentes, estes últimos tidos como nocivos as causas orgânicas da Venezuela enquanto nação.


Outro ponto reconhecível no livro é a retórica de caráter profundamente nacionalista, a tentativa de desenhar uma geopolítica que tenha como suporte o combate das forças imperialistas na América Latina para o maior progresso da Venezuela enquanto nação.


Certamente um livro bastante interessante e que deu gosto de tentar entender um pouco mais dos meandros históricos da Venezuela. Mas não recomendaria que o leitor entrasse nesse livro sem ter um estudo mais basilar que forneça um contexto para a informação que é transmitida.

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de C. G. Jung - Capítulo 4: Psicologia Analítica"

 



As diferenças entre Jung e Freud são bastante extremas em alguns pontos. Sobretudo no que tange ao tema da sexualidade e religiosidade. Enquanto Freud considerava a religião como uma forma de neurose coletiva, Jung apontava os pontos positivos e a importância dela. Enquanto Freud falava sobre a sexualidade, Jung falava da forma extremada e reducionista que Freud tinha para com esse assunto.


É necessário elencar que Jung não afirmava que a pessoa deveria se vincular num formalismo doutrinário religioso. Jung se propunha era analisar a forma com que a religião, produto do inconsciente coletivo, poderia impactar na pessoa como forma referencial na superação de seus conflitos existenciais. Isto é, Jung mais se preocupava com a religiosidade - como experiência universal e ligada as mais diversas religiões - como prática. Ou a iluminação da pessoa concreta em contato com o numinoso.


Jung trata não da existência de Deus, Jung trata da imagem de Deus - que existe no inconsciente coletivo - e a forma com que o indivíduo se relaciona com o divino psicologicamente. A busca de Jung era espiritual, não uma busca por aplicar uma doutrina religiosa em específico. Essa distinção é de basilar importância.


Jung também poderia traduzir a busca espiritual na compreensão dos arquétipos como pontos referenciais para que a pessoa encontrasse uma forma de ser e agir no mundo. Em virtude da própria religião basear-se em arquétipos, os arquétipos vistos de forma sistemática poderiam ser substitutivos da adesão formal a uma religião em específico e mesmo assim representar uma experiência religiosa - mesmo que nunca escala altamente personalizada.


O estudo de Jung é um estudo que dará ao estudioso uma forma de compreensão mais aprofundada da arte, da mitologia, da poesia, da religiosidade, da literatura. E é por isso que estudá-lo é tão incrível, recomendável e impactante: sua abarcabilidade sistemática é altíssima.

sexta-feira, 17 de março de 2023

Acabo de ler "La Crisis del Mundo Burgués" de José Luis Romero (lido em espanhol)

 



O fim do mundo inteligível é o fim de um mundo, mas não o fim cabal do mundo. O cristianismo destruiu a cultura clássica e, posteriormente, com ela se sintetizou. O renascentismo e o iluminismo também criaram um novo mundo. Os períodos revolucionários também possibilitaram a existência de mundos novos. E vários desses logo criaram formas mais sintéticas e aproximadas com mundo anteriores.


A questão da decadência do mundo burguês está na ascensão das massas que, quanto maior acesso cultural e maior riqueza, cada vez mais lutam pela realização de um outro mundo. Essa nova gente, da qual eu faço parte, não se vê engendradas nos processos estruturais da sociedade. A ausência de reconhecimento como parte desse tecido social leva um afastamento e uma dissidência para com essa própria sociedade.


A grande questão é a capacidade da sociedade criar meios de encaixar todas essas pessoas com suas demandas. Isto é, quanto mais consciente de si as massas se tornam, mais elas querem se ouvir. O simples ignorar não funciona: logo faz com que essas pessoas, cada vez mais insatisfeitas, criem grandes ebulições que podem até mesmo destruir a sociedade. Então a política de acomodação dessas figuras insurgentes é um dever para a própria saúde da sociedade e do mundo como um todo.


É preciso que haja uma forma democrática mais direta e dinâmica. Uma política que seja capaz de ouvir, entender e botar em prática as novas demandas sociais que, para seu próprio bem, deve acolher. Uma política integrada é melhor do que uma política que cerceia e oprime opositores. Quanto mais se oprime uma mola, mais seus braços doem e mais uma força reversa cresce. O grupo oprimido se alimenta de ódio e se radicaliza, produzindo uma forma danosa de se portar frente a sociedade, porém bastante compreensível.


O futuro do sistema e/ou o sistema do futuro dependerá de sua capacidade de atender as emergentes demandas sociais. Não há como ignorar uma massa de indivíduos que, a cada dia, crescem ignorados pela estrutura engessada. Já que uma força que pressiona gera uma força contrária que dificilmente será contida.